Relatório Planeta Vivo 2018 mostra que a explosão populacional e a aceleração das atividades econômicas nos últimos 50 anos provocaram grande devastação na Terra, com perda de mais da metade das espécies vertebradas, redução das áreas de vegetação natural e contaminação das fontes de água doce
Até o início do século passado o impacto das atividades humanas sobre a vida animal e vegetal não chegava a ser motivo de grandes preocupações. Vastas regiões inexploradas no continente americano, na Oceania e em outras regiões causavam a falsa impressão de que os recursos naturais da Terra eram inesgotáveis. Com a explosão populacional, o avanço da tecnologia e o aumento do consumo, nos últimos 50 anos o planeta passou por uma avassaladora transformação. Hoje, milhares de espécies foram extintas ou estão ameaçadas de desaparecer.
Esse é o retrato apresentado pelo relatório Planeta Vivo 2018, um dos principais estudos de cunho científico mundial da saúde do nosso planeta. O documento, assinado pela Sociedade Zoológica de Londres e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), foi elaborado com a colaboração de mais de 50 especialistas acadêmicos, governamentais e de entidades de desenvolvimento internacional e conservação.
O relatório – com base na avaliação da biodiversidade, dos ecossistemas e da demanda por recursos naturais – mostra que três quartos do planeta foram impactados pela ação humana até os dias atuais. A projeção feita pelos cientistas é que, até 2050, apenas 10% da Terra esteja livre da interferência humana.
Não pode haver um futuro saudável, feliz e próspero para as pessoas em um planeta com clima desestabilizado, oceanos e rios esgotados, terras degradadas e florestas vazias, todas desprovidas de biodiversidade, a teia da vida que sustenta todos nós.
Marco Lambertini, diretor geral da WWF International.
Com um apelo sobre a necessidade de se alcançar um acordo global pela natureza, o estudo revela que a população mundial de vertebrados — mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis — teve queda de 60% entre 1970 e 2014. E o mais preocupante: entre 1970 e 2010, esse declínio foi de 52%, o que significa que na década atual a devastação foi acelerada como nunca. A redução dos animais de água doce chegou a 83%.
A situação é mais dramática, na avaliação dos pesquisadores, nas Américas do Sul e Central, onde foram registrados 89% menos animais vivos que em 1970. Mas em outras regiões, como na África, a realidade não é muito melhor. Um exemplo crítico apresentado pelo relatório é a população de elefantes na Tanzânia, que foi reduzida em 86% desde os anos 1970.
O desmatamento, principalmente no Brasil, é apontado como a principal causa da perda de espécies. Com o desflorestamento e a perda do habitat natural, vários animais da fauna brasileira estão ameaçados de extinção. Na lista constam, entre outros, jandaia-amarela (Aratinga solstitialis), tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), uacari (Cacajao hosomi), boto (Inia geoffrensis) e muriqui-do sul (Brachyteles aracnoides).
Nos últimos 50 anos, 20% da Amazônia desapareceu. Não menos preocupante, de acordo com o estudo, é a situação do cerrado brasileiro, descrito como uma das maiores frentes de desmatamento no mundo. Desde 1970, o cerrado perdeu mais de 50% de sua cobertura vegetal natural.
A derrubada da vegetação natural, além de exterminar espécies vegetais e provocar a redução de espécies animais, atinge diretamente sua capacidade hídrica, uma vez que as águas que nascem no bioma alimentam alguns dos maiores reservatórios de água subterrânea do mundo, bem como seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras. Isso explicaria as recorrentes crises hídricas que têm ocorrido, como a que deixou em risco o abastecimento da região Sudeste nos últimos anos.
Causas
As principais ameaças à biodiversidade do planeta, segundo o estudo, estão diretamente relacionadas às atividades humanas para atender o aumento do consumo, o que tem provocado perda e degradação de habitat, além do uso excessivo de vida selvagem. “De todas as espécies de plantas, anfíbios, répteis, aves e mamíferos extintas desde 1500 d.C., 75% foram prejudicadas pela superexploração e atividades agrícolas”, diz o relatório ao citar as espécies invasoras, a poluição e perturbações, como poluição agrícola, represas, queimadas e mineração e as mudança do clima como outros fatores que alteram ecossistemas.
Para medir o nível de consumo, os pesquisadores criaram a Pegada Ecológica, um indicador de nosso consumo de recursos naturais. Nos últimos 50 anos, nossa Pegada Ecológica aumentou cerca de 190%.
Um quadro elaborado pelos cientistas mostra em números o que eles classificam como a “Grande Aceleração”, um acontecimento inédito nos 4,5 bilhões de anos da história do planeta. As transformações decorrentes do crescimento econômico e populacional desencadeou aumento da demanda por energia, solos e água sem precedentes.
A população mundial saltou de pouco mais de 2 bilhões de pessoas em 1950 para 7 bilhões nos anos 2000 e o número de veículos motorizados – que era de cerca de 200 milhões nos anos de 1960 – hoje chega a 1,4 bilhão. Se há 70 anos haviam cerca de 5 mil barragens de grande porte no planeta, agora elas somam mais de 30 mil.
“A magnitude (da transformação da Terra) é tamanha que muitos cientistas acreditam que estamos entrando em uma nova era geológica. Algumas dessas mudanças foram positivas, outras negativas, e todas estão interligadas. O que está cada vez mais evidente é que o desenvolvimento e o bem-estar humanos dependem de sistemas naturais saudáveis, de modo que não podemos continuar desfrutando daqueles sem estes”, relatam.
O que fazer
Apesar do quadro alarmante, ainda há tempo de impedir o que poderia se transformar numa catástrofe da humanidade. O segredo está em preservar a biodiversidade, caracterizada como a “infraestrutura” que sustenta toda a vida da Terra. Os sistemas naturais e ciclos bioquímicos que a diversidade biológica gera permitem o funcionamento estável da atmosfera, oceanos, florestas, paisagens e cursos d’água. Em termos simples, são um pré-requisito para que nossa sociedade humana moderna e próspera exista e continue a progredir, defende o estudo.
“Se mirarmos mais alto e nos afastarmos do modelo tendencial, adotando abordagens criadas para restaurar a natureza, em vez de simplesmente permitir uma queda gerenciada, poderemos alcançar um mundo mais saudável e sustentável que seja bom para os seres humanos e para nossos sistemas naturais”, pregam os responsáveis pelo relatório.
Para isso, propõem uma série de metas que devem ser buscados até 2030. Entre esses compromissos destacam: garantir a conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e dos recursos marinhos; gerir de forma sustentável as florestas; combater a desertificação; deter e reverter a degradação da terra; tomar medidas urgentes e significativas para reduzir a degradação dos habitats naturais; estancar a perda da biodiversidade e proteger e prevenir a extinção de espécies ameaçadas.
“A agenda da conservação da natureza não é apenas sobre garantir o futuro dos tigres, pandas, baleias e toda a incrível diversidade de vida que amamos e apreciamos na Terra. É maior que isso. Não pode haver um futuro saudável, feliz e próspero para as pessoas em um planeta com clima desestabilizado, oceanos e rios esgotados, terras degradadas e florestas vazias, todas desprovidas de biodiversidade, a teia da vida que sustenta todos nós”, diz Marco Lambertini, diretor geral da WWF International.
Futuro incerto
Apesar dos esforços para preservar o meio ambiente, a cada ano um grande número de espécies vivas desaparecem
Biodiversidade
Ameaça
Dependência
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