Enquanto o Brasil corre em busca de insumos para produção de vacinas contra Covid-19, a Argentina já está produzindo o princípio ativo (IFA) do imunizante da Oxford/AstraZeneca. O país vizinho – que tem alto índice de mortes per capita por Covid-19 – é o primeiro da América Latina a fabricar o ingrediente que provoca a resposta imunológica no organismo das pessoas.
O IFA produzido na Argentina pela empresa mAbxience está sendo enviado ao México, onde se processará a vacina pelo laboratório Liomont e será feita a distribuição para todos os países latino-americanos, com exceção do Brasil. Com isso, Argentina e México se transformarão em centros de produção de vacina para os países latino-americanos. O primeiro lote com os insumos produzidos na região de Buenos Aires chegou à Cidade do México no último dia 20. Foram 5.230 litros de IFA, segundo informaram as autoridades mexicanas. Esse volume é suficiente para produzir seis milhões de doses.
Nenhum laboratório brasileiro tem estrutura pronta para fabricar o princípio ativo da vacina contra Covid-19. O Instituto Butantan e a Fiocruz – centros considerados de excelência no país – começaram a construir laboratórios adequados após a decretação da pandemia de coronavírus. Até que não se crie no país as condições de produção, o princípio ativo, tanto da Coronovac quanto da Oxford/AstraZeneca, terá de ser importado da China.
Apesar de adquirir capacidade de produção própria do princípio ativo do imunizante Oxford/AstraZeneca, a Argentina enfrenta uma situação complicada de vacinação. A produção da mAbxience é pequena para atender a demanda urgente de todos os países da América Latina e demorada. Sem a vacina própria, o país está importando a Sputinik V da Rússia, mas as entregas estão irregulares, o que provocou atraso na vacinação. O governo argentino também comprou a vacina da Pfizer, mas nenhum lote foi entregue até agora.
A fábrica da empresa mAbxience que está produzindo o princípio ativo da vacina contra Covid-19 fica em Garín, na Grande Buenos Aires. O acordo com a Universidade de Oxford e a multinacional AstraZeneca para a fabricação do IFA em solo argentino foi firmado em agosto do ano passado.
A mAbxience é uma empresa privada e a fábrica foi inaugurada em março de 2020 para produzir medicamentos monoclonais para câncer. Com a decretação da pandemia, rapidamente os planos mudaram, facilitados pela união de dois empresários latino-americanos e o apoio do governo argentino, liderado pelo presidente Alberto Fernández.
A fábrica da mAbxience na Argentina tem capacidade para produzir princípio ativo suficiente para até 250 milhões de doses de vacina neste ano. Além de insuficiente para todos os países latino-americanos, a urgência em vacinar faz com que o o laboratório não atenda as necessidades imediatas, assim como ocorre em todos as regiões do planeta.
Uma combinação de fatores favoreceu a Argentina na corrida da vacina. Primeiro, o magnata das telecomunicações mexicanas Carlos Slim decidiu contribuir financeiramente e impôs a condição de que a produção da vacina fosse feita na América Latina. Segundo, o médico e empresário Hugo Sigman colocou imediatamente sua fábrica, a mAbxience, à disposição para produzir a vacina, mesmo com o risco de perder os investimentos e a produção caso o imunizante, que ainda estava em fase de teste, não fosse aprovado.
Sigman é próximo do governo de Alberto Fernández. Ele nasceu em Buenos Aires em 1944, formou-se em Medicina em 1969 e se especializou em psiquiatria. Militante do Partido Comunista Argentino nos anos de 1970, foi perseguido pela ditadura militar e fugiu para a Espanha. No país europeu, junto com a mulher, Silvia Gold, doutora em Bioquímica, construiu o Insud Pharma, grupo hoje presente em 40 países, do qual faz parte a empresa mAbxience, fabricante do princípio ativo da vacina Oxford/AstraZeneca na Argentina.
O Insud Pharma é composto por três empresas: Chemo, a primeira empresa do grupo, que se dedica à produção de matérias-primas para a indústria farmacêutica e produtos genéricos; Exeltis, que fabrica e comercializa medicamentos de marca própria; e mAbxience, dedicado a biossimilares e agora produtora de vacina contra Covid-19. Na Argentina, o grupo é acionistas dos laboratórios Elea, Biogenesis Bagó, Sinergium Biotech, Maprimed, Chemotécnica S.A. e Immunova.
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