Em agosto do ano passado, a adolescente de tranças longas no cabelo Greta Thunberg, de 16 anos, estudante do nono ano do ensino básico da Suécia, tomou uma decisão que surpreendeu seus pais. Ela anunciou que iria fazer um protesto público contra a falta de ação do governo diante do aquecimento global – no mês anterior, os suecos haviam enfrentado uma onda de calor recorde e incêndios. “Qual é a utilidade de estudar para o futuro se esse futuro parece que não existirá?”, disse ela aos pais, segundo contou para a revista americana Rolling Stone. A mãe e o pai de Greta apoiaram a iniciativa, sem imaginar qual seria o desenrolar da ação da filha.
No dia 20 de agosto, Greta publicou nas redes sociais que iria deixar de frequentar a escola até as eleições gerais de 2018 na Suécia, marcadas para 9 de setembro, como forma de exigir que o governo assumisse o compromisso de reduzir as emissões de carbono, conforme o previsto no Acordo de Paris. A partir daí passou a protestar todos os dias em frente do parlamento sueco, em Estocolmo. Durante o horário escolar, a menina – que se diz introvertida – ia para a frente da sede do legislativo sueco – composto por 349 deputados – e exibia um cartaz com a frase “Skolstrejk för klimatet” (escola de greve para o clima).
O protesto solitário logo ganhou as redes sociais e se espalhou pelo mundo. Manifestações semelhantes foram organizadas em outros países, como Holanda, Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Austrália e outros.
Greta diz ser admiradora da ativista dos direitos afro-americanos Rosa Parks, costureira negra que morreu em 2005 e se transformou em símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Com o impacto das mobilizações, a menina sueca – que aparenta ter menos idade do que realmente tem – despertou a atenção de autoridades em todo o planeta. Apesar de sofrer de síndrome de Asperger – considerada por muitos um autismo leve – ela não hesita em falar em público. Em dezembro passado Greta foi destaque na cúpula do clima das Nações Unidas, em Katowice, Polônia. No começo deste ano fez discursos em Davos e em Bruxelas.
No Fórum Econômico Mundial, Greta criticou os executivos que viajaram em seus aviões particulares: “Acho um pouco hipócrita viajar de jato particular para um lugar onde eles vão falar sobre a crise climática”, disse.
Em entrevista ao jornal espanhol El País, o pai de Greta, Svante Thunberg, disse que a filha aprendeu na escola sobre as mudanças climáticas e a destruição do meio ambiente. E essa preocupação permaneceu em sua mente. Quando ela tinha 11 anos, sofreu uma forte depressão. “Deixou de comer e a sensação de solidão tornou-se mais intensa”, contou Svante Thunberg ao jornal.
Hoje, Greta leva uma vida normal quando não está militando. Vai para a escola, faz lição de casa e descansa. Uma de suas diversões preferidas é passear com seus cachorros.
Nesta sexta-feira (15), o movimento iniciado por Greta mostrou força, com manifestações em várias partes do mundo. Mais de um milhão de estudantes foram às ruas em cerca de 150 países para protestar contra as mudanças climáticas. A manifestação foi considerada por ativistas como uma das maiores mobilizações pelo clima já vista.
“Não há mais tempo, até os adultos devem agir”, diz Greta apelando aos colegas: “Vamos todos nos mobilizar para uma mudança real”.
Além de países europeus, Estados Unidos, Canadá, Austrália e países da América do Sul, a mobilização chegou em cidades da China, Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Índia, Indonésia, Malásia, Singapura e Filipinas.
Nesta semana, um grupo de políticos noruegueses lançou a candidatura de Greta ao Prêmio Nobel da Paz 2019. Segundo os autores da proposta, se nada for feito pelo clima, nos próximos anos as mudanças climáticas serão a principal causa de guerras, conflitos e fluxos de refugiados.
“Nós estamos só começando”, escreveu Greta em seu perfil no Facebook nesta sexta-feira ao falar das manifestações.
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