Uruguaios e argentinos irão às urnas no mesmo dia, em 27 de outubro próximo. As coincidências param por aí. A conjuntura política e econômica que marca a corrida presidencial nesses dois países do Mercosul é bem diferente de cada um dos lados da fronteira.
Longe da crise que afoga os argentinos, a economia do Uruguai avança há 15 anos. Considerado oásis estável em meio a crises na América do Sul, o país vizinho cresceu 3,4% no ano passado, mantém a inflação controlada em torno de 7% e a taxa de desemprego na faixa de 6,5%. Os uruguaios têm hoje a maior renda per capita entre os sul-americanos, com U$ 16,2 mil.
Mas nem tudo são glórias: a economia vem dando sinais de contração e há enfraquecimento no mercado de trabalho e de exportação. O crescente déficit nas finanças públicas, que chegou a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) – taxa mais alta em décadas –, também é uma preocupação dos uruguaios. Há ainda problemas de segurança, com aumento de 45,8% no número de homicídios.
No último dia 30 de junho, as forças políticas do país escolheram seus candidatos. Um senador de centro-direita, um ex-prefeito de esquerda e um economista liberal disputarão a presidências pelos principais partidos. O senador Luis Lacalle Pou, de 45 anos, do Partido Nacional, e o economista Ernesto Talvi, 61, do Partido Colorado, serão os desafiantes a acabar com a hegemonia da centro-esquerda, que terá como candidato o ex-prefeito de Montevidéu Daniel Martínez, 62 anos.
Com previsão de que a eleição não deverá ser decidida no primeiro turno e que o candidato governista está em vantagem para ir ao segundo turno, nesse cenário, a oposição dependeria de um acordo entre Lacalle Pou e Talvi para vencer. Mas a união dos dois principais oposicionistas, em caso de segundo turno, depende das bases dos seus partidos.
Pelas regras da eleição, se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, haverá uma segunda rodada no dia 24 de novembro com os dois candidatos mais votados.
Crise sem fim
Do outro lado do Rio da Prata, mergulhada em profunda crise econômica, com queda do Produto Interno Bruto (PIB), aumento do desemprego e inflação descontrolada, a Argentina revive a polarização das eleições passadas, com o presidente Maurício Macri de um lado e os kirchneristas, de outro.
A líder das sondagens de intenção de voto até recentemente era a ex-presidente Cristina Kirchner, derrotada por Macri nas eleições anteriores. Com resistência em grande parte do eleitorado, Cristina surpreendeu no dia 18 de maio ao anunciar que não seria mais candidata à presidência, mas sim a vice-presidente de seu ex-chefe de gabinete Alberto Fernández, considerado um líder moderado dentro do peronismo.
Quando parecia nocauteado pela estratégia kirchnerista, Macri também surpreendeu, no último dia 12 de junho, e anunciou como candidato a vice-presidente de sua chapa o senador Miguel Ángel Pichetto, peronista e ex-aliado de Cristina.
Com o racha aberto no peronismo, Macri comemorou ter empatado o jogo, mas ainda faltava o apito final. No dia seguinte ao seu anúncio, o terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o também peronista Sergio Massa, da Frente Renovador, decidiu abandonar candidatura própria e se juntou ao bloco kirchnerista.
A economia deve dominar a corrida eleitoral. O próximo presidente terá que lidar com a crescente desvalorização da moeda nacional frente ao dólar e com uma inflação que beirou os 50% em 2018, o maior índice dos últimos 27 anos.