A decisão do presidente Jair Bolsonaro de manter a viagem à Rússia, apesar dos alertas sobre as tensões na região e do complexo conflito político-militar envolvendo a Ucrânia, recebeu elogios até da oposição ao governo no Brasil. O ex-ministro das Relações Exteriores de Lula e Dilma Rousseff, Celso Amorim, por exemplo, defendeu a decisão de Bolsonaro. O acerto nas relações com a Rússia destoa da política de confronto, em vez de liderança, adotada pelo governo brasileiro em relação a alguns vizinhos sul-americanos.
As imagens espalhadas mundo afora mostram que a Rússia, distante geográfica e culturalmente da América do Sul, tem tido mais influência na região sob o governo de Putin do que o Brasil sob a liderança de Bolsonaro. Antes de receber Bolsonaro, Putin esteve com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e tem se reunido com frequência com outros chefes de Estado sul-americanos, como o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro. Também manteve boas relações com o ex-presidente do Chile, Sebastián Piñera, que recentemente deixou o governo.
O presidente Bolsonaro, ao contrário, tem mantido distância de qualquer negociação com Fernández, Maduro e, agora, com Gabriel Boric, novo presidente do Chile. No caso da Bolívia, Bolsonaro foi o último chefe de Estado da América do Sul a reconhecer a vitória do socialista Luis Arce, candidato do partido de Evo Morales.
O governo brasileiro também hesitou em se aproximar de Pedro Castillo, eleito no ano passado no Peru. Os atritos só foram superados recentemente. No começo deste mês, Castillo e Bolsonaro se reuniram em Porto Velho (RO), onde assinaram um acordo comercial para facilitar, sobretudo, a importação e exportação de carne bovina.
Diferentemente de Bolsonaro, Putin procura avançar nas relações com os países sul-americanos em diversos setores, defendendo interesses de vizinhos do Brasil, uma jogada geopolítica para aumentar sua influência na região. Um exemplo dessa estratégia do governo russo é a defesa da entrada da Argentina no Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O Brasil deveria ser um grande interessado, considerando que a Argentina é o maior parceiro comercial brasileiro na região, mas o Itamaraty afirmou que não vê espaço para discussão no grupo sobre sua eventual ampliação "Não há processo estabelecido oficialmente para a entrada de novos membros (no Brics", afirmou o governo brasileiro em resposta a questionamentos enviados pela Folha.
Com uma postura em que o posicionamento ideológico prevalece sobre interesses legítimos que podem favorecer o desenvolvimento, o governo Bolsonaro desperdiçou grande chance de exercer liderança na América do Sul nos últimos três anos. E perdeu negócios também.
O Brasil chegou a ter um volume de exportação para a Argentina de US$ 22,7 bilhões, em 2011, segundo dados do portal Comex Stat, do governo brasileiro. No ano passado, as vendas para o país vizinho representaram metade do que foi há uma década, apenas US$ 11,8 bilhões.
O retrocesso nos negócios com argentinos se refletiu no Mercosul. As exportações brasileiras para o bloco caíram de US$ 27,8 bilhões em 2011 para cerca de US$ 17 bilhões em 2021.
O caso da Venezuela é mais emblemático. As vendas (exportações) do Brasil para o país governado pelo chavismo chegou a atingir o patamar de US$ 5,1 bilhões em 2008. Em 2019 ficou em apenas US$ 420,5 milhões, menos de 10% de 11 anos antes, voltando a US$ 1 bilhão no passado.
Está na hora de mais pragmatismo nas relações econômicas com vizinhos do Brasil e menos trapalhadas por motivos ideológicos.
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