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Saramago, o perdão a Darwin e o criacionismo

O escritor português José Saramago, mesmo aos 85 anos de idade, é uma das personalidades mais interessantes do mundo. Além de um novo livro a caminho da gráfica, o Prêmio Nobel de Literatura estreou hoje um blog na web. É um evento histórico. Por que? Porque Saramago é do tempo que se escrevia à mão ou com máquina de datilografia. Na estréia, dois textos que não se pode deixar de ler. O primeiro fala dos vários nomes que a capital portuguesa teve antes de se chamar Lisboa. O segundo é uma crítica à decisão da Igreja Anglicana de pedir perdão a Charles Darwin (leia abaixo).

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Creative Commons

“Perdão para Darwin?

Uma boa notícia, dirão os leitores ingénuos, supondo que, depois de tantos desenganos, ainda os haja por aí. A Igreja Anglicana, essa versão britânica de um catolicismo instituído, no tempo de Henrique VIII, como religião oficial do reino, anunciou uma importante decisão: pedir perdão a Charles Darwin, agora que se comemoram duzentos anos do seu nascimento, pelo mal com que o tratou após a publicação da Origem das Espécies e, sobretudo, depois da Descendência do Homem.

Nada tenho contra os pedidos de perdão que ocorrem quase todos os dias por uma razão ou outra, a não ser pôr em dúvida a sua utilidade. Mesmo que Darwin estivesse vivo e disposto a mostrar-se benevolente, dizendo “Sim, perdoo”, a generosa palavra não poderia apagar um só insulto, uma só calúnia, um só desprezo dos muitos que lhe caíram em cima. O único que daqui tiraria benefício seria a Igreja Anglicana, que veria aumentado, sem despesas, o seu capital de boa consciência. Ainda assim, agradeça-se-lhe o arrependimento, mesmo tardio, que talvez estimule o papa Bento XVI, agora embarcado numa manobra diplomática em relação ao laicismo, a pedir perdão a Galileu Galilei e a Giordano Bruno, em particular a este, cristãmente torturado, com muita caridade, até à própria fogueira onde foi queimado.

Este pedido de perdão da Igreja Anglicana não vai agradar nada aos criacionistas norte-americanos. Fingirão indiferença, mas é evidente que se trata de uma contrariedade para os seus planos. Para aqueles republicanos que, como a sua candidata à vice-presidência, arvoram a bandeira dessa aberração pseudo-científica chamada criacionismo.

José Saramago”
http://blog.josesaramago.org

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