Na terça-feira (31), a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) divulgou um manifesto em que critica a atuação do Poder Judiciário nas investigações de sites e portais de notícias acusados em inquéritos de fake news. Após a divulgação, o presidente Jair Bolsonaro reproduziu o documento pelo Whatsapp. Um dia depois, um grupo de grandes empresários mineiros publicou um documento, com mais de 200 assinaturas, em defesa da harmonia dos três poderes e condenando os ataques à democracia e qualquer ação de ruptura pelas armas. Esses episódios retratam uma divisão crescente no setor empresarial do país em meio à crise institucional que se instalou em Brasília.
As divergências em torno do apoio ao governo federal começaram a vir à tona ainda em 2020, com os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro e aliados em relação à vacina contra Covid-19. Muitos empresários queriam pressa na vacinação e consideravam que o governo estava patinando. Os sinais da cisão do empresariado, no entanto, ficaram mais claros recentemente, com as posições de Bolsonaro sobre o voto impresso e acusações de que as urnas eletrônicas no Brasil permitiriam fraudes.
No início de agosto, empresários, lideranças religiosas, entidades da sociedade civil e líderes políticos divulgaram um manifesto em apoio ao sistema eleitoral brasileiro. O documento, intitulado "Eleições serão respeitadas", afirma que “a Justiça Eleitoral Brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo” e que "a sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias”.
O documento leva a assinatura de grandes empresários, como Roberto Setúbal (Itaú), Guilherme Leal (Natura), Oskar Metsavaht (Osklen), Luiza Trajano (Magazine Luiza) e Pedro Parente (BRF e ex-presidente da Petrobras).
O manifestou evidencia uma mudança de cenário em poucos meses, considerando que em abril passado Bolsonaro havia sido ovacionado por um grupo de empresários durante jantar em São Paulo. No evento estavam presentes nomes como André Esteves (banco BTG), Rubens Ometto (Cosan) e Rubens Menin (MRV e CNN Brasil).
Nos últimos dias, um novo episódio – mais polêmico que os anteriores – expôs a cisão entre grandes detentores do capital no Brasil. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) havia preparado um documento, com a assinatura de mais de 200 entidades empresariais, para pedir harmonia entre os Poderes da República. Uma versão do documento chegou a circular em espaços restritos no sábado, 28 de agosto, mas no começo desta semana a Fiesp, presidida por Paulo Skaf, decidiu adiar a publicação.
Integrantes do governo federal, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, comentaram que “alguém” da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) teria transformado o documento em um ataque ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). As cúpulas da direção da Caixa e do Brasil do Brasil reagiram a ameaçaram retirar as duas instituições financeiras da Febraban.
A Febraban confirma seu apoio ao conteúdo do texto que aprovou, já de amplo conhecimento público, cumprindo assim o seu papel ao se juntar aos demais setores produtivos do Brasil num pedido de equilíbrio e serenidade, elementos basilares de uma democracia sólida e vigorosa.
Trecho da nota divulgada nesta quinta-feira (02) pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban)
Em nota, divulgada nesta quinta-feira (02), a Febraban diz que a redação final do manifesto, enviado pela Fiesp, fora aprovada por seu conselho e que “o conteúdo do manifesto pedia serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes da República e alertava para os efeitos do clima institucional nas expectativas dos agentes econômicos e no ritmo da atividade.
“A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) reafirma o apoio emprestado ao manifesto ‘A Praça é dos Três Poderes’, cuja adesão se deu, desde o início, dentro de um contexto plurifederativo de entidades representativas do setor produtivo e cuja única finalidade é defender a harmonia do ambiente institucional no país”, afirma a entidade.
Em meio ao imbróglio, grandes entidades do agronegócio – setor em que o presidente Jair Bolsonaro tem mantido forte apoio – publicaram na quarta-feira (01) uma carta em defesa da democracia. O texto afirma que o Brasil precisa de paz e tranquilidade para ter um desenvolvimento socioeconômico efetivo e sustentável.
O manifesto de setores do agronegócio deixa ainda mais evidente o racha na base de apoio do governo, considerando que o texto é mais duro que o manifesto da Fiesp. A carta diz que o Brasil não pode se apresentar ao mundo como uma “sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais”.
Assinam o texto, entre outras entidades, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo) e Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
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