Os ataques terroristas em Paris na sexta-feira 13 tiraram um pouco de luz sobre a gravidade das consequências do rompimento das barragens de mineração em Mariana, Minas Gerais.
Além do grande número de pessoas mortas e desabrigadas, a lama tóxica aniquilou a vida animal e a flora da região e matou o Rio Doce, fonte de água para populações de centenas de cidades.
É evidente que ainda é cedo para prever todos os danos do desastre, mas há o consenso entre pesquisadores de que em muitos casos serão necessárias décadas para que a natureza se recupere.
Previsões feitas com base em dados do ecólogo Ricardo Coelho, da Universidade Federal de Minas Gerias, e da Cetesb, publicadas hoje na Gazeta do Povo, mostram que o solo contaminado pela lama poderá levar até centenas de anos para se recuperar caso não seja feita intervenção. O assoreamento dos rios é irreversível na maior parte das áreas afetadas, e a extinção de espécies típicas do Rio Doce, se ocorrer, também será irreversível.
O médico patologista Paulo Saldiva, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos grandes especialistas em poluição ambiental do mundo, disse em entrevista ao Portal Terra que os rejeitos de minérios formarão um “tapete mortal” no fundo do Rio Doce e seus afluentes. Além disso, podem penetrar o solo e infiltrar no lençol freático, inviabilizando o plantio e o uso da água de poços.
Para o pesquisador, “por sua extensão e pela magnitude do impacto sobre a economia e os ecossistemas afetados, o acidente em Minas Gerais tem maiores proporções do que o ocorrido pela contaminação por Césio em Goiânia”, em 1987.
A professora do Instituto de Geociências da UFMG e especialista em geologia ambiental Leila Menegasse explicou à Rede Brasil Atual que “a lama vai formar uma capa muito dura devido à presença do ferro e ficar sobre a superfície formando uma crosta”. Para a professora, essa cobertura deve impedir a infiltração da água, tornando o ambiente estéril.
Isso sem falar nas centenas de pessoas que perderam tudo, ficaram sem o lar que escolheram para viver, e das milhões que estão sendo afetadas de alguma maneira pelo desastre.
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