Em uma carta atribuída a Tony Garcia, amigo de Beto Richa, o ex-deputado critica duramente o governador tucano pelas escolhas políticas e morais.
“Seu governo é campeão em produzir, todo tempo, de maneira eficiente crises desnecessárias em todos os segmentos da sociedade, fazendo transparecer um evidente desmando”, diz um trecho da carta publicada no Facebook.
A carta foi interpretada como uma tentativa de Tony Garcia de voltar à política. Em 1990, ele se candidatou ao Senado,com apoio do ex-presidente Fernando Collor. Fez uma campanha diferente, planejada pelo falecido publicitário Jamil Snege, mas foi derrotado pelo ex-ministro José Eduardo de Andrade Vieira, o Zé do Chapéu – da família proprietária do Banco Bamerindus -, que foi sócio da Folha de Londrina.
O curioso é que Fernanda Richa, esposa do governador Beto Richa, é sobrinha de José Eduardo, que morreu em fevereiro deste ano.
“Carta aberta ao governador Beto Richa
Governando o Paraná há quase cinco anos, você detém a mais alta taxa de rejeição de um governante de nosso Estado pós-ditadura. Não é por acaso que isso acontece, os equívocos constantes em tomadas de decisões, sejam elas por má orientação de sua equipe ou mesmo pelo traço forte de sua personalidade claudicante, são as principais causas para isso.
Seu governo é campeão em produzir, todo tempo, de maneira eficiente crises desnecessárias em todos os segmentos da sociedade, fazendo transparecer um evidente desmando. Os recuos constantes em pautas colocadas à sociedade, além de trazerem um desgaste enorme a você mesmo, cada vez mais, consolidam na população a falta de autoridade que seu cargo requer. As idas e vindas, avanços e recuos a ninguém interessa, principalmente neste momento que nosso país atravessa.
Por conta de alianças programáticas e pragmáticas muito bem costuradas, você foi eleito no primeiro turno por uma maioria esmagadora. Mas frustrou quem esperava em seu segundo mandato o propalado choque de gestão, austeridade, égides contra a corrupção e a tão necessária transparência.
Com razão, você se diz um homem de sorte. Ela lhe acompanha há muito tempo, como bem sei, mas somente isso não será suficiente para tirá-lo das encrencas em que se meteu. Sorte é como dinheiro, não aceita maus tratos. Diante das dificuldades que enfrenta desde o início de seu segundo mandato, você lida muito mal com as adversidades; seus pronunciamentos mais confundem do que explicam e, em um processo suicida, usa a negação do inegável como forma de defesa – o que faz com que os fatos imputados a você tenham mais consistência para a acusação e mais cores para a opinião pública.
Você, que estava somente acostumado a navegar com as marés a favor, saiba: remar contra a maré é o que distingue os homens fortes dos fracos, os inteligentes dos pouco inteligentes e os honestos dos desonestos. As adversidades são os grandes divisores de água na história da humanidade, ter caráter e força para passar por elas é que prova o valor de um homem.
Diante da crise, um governante com visão ampla não se fecha em seus pequenos círculos, pois o fazendo, irá experimentar apenas mais do mesmo, reincidindo nos mesmos erros, insistindo nas mesmas ideias e posicionamentos. Ficar trancado nas opiniões e informações que seus amigos de palácios lhe passam é limitante, fantasioso e muito perigoso. A vida real acontece em outros lugares, fora dessa falsa proteção.
Muitos foram seus amigos, entre eles eu, que o alertaram de suas novas (ou antigas) companhias. Na medida em que pessoas com pensamentos e interesses que manchavam sua reputação e se aproximavam de você com más intenções, seus amigos verdadeiros chamaram sua atenção diversas vezes para o que estava acontecendo e como você não deu ouvidos, não nos restou outra opção a não ser nos afastarmos.
Talvez por má influência, você se afastou dos ensinamentos de seu pai, homem experiente, honrado e probo, que quando assumiu o governo fez o caminho inverso ao seu, manteve-se longe de quem poderia comprometer sua honra pessoal e a liturgia do cargo para o qual foi eleito. Homem sábio, não deixou, por pequenos favores, que pessoas nefastas se aproximassem; agiu assim com o parente distante Luis Abi, evitando os dissabores que hoje, mais de 30 anos depois, você enfrenta e pelo visto continuará a enfrentar.
A vida infelizmente nos ensina pelos nossos próprios erros, às vezes nos dá uma segunda chance para que possamos rever conceitos e retomar o rumo certo. É sua obrigação, principalmente pelo tempo que ainda lhe resta à frente do governo, afastar-se definitivamente do que compromete seu capital político, pessoal e moral. O poder que você detém hoje é efêmero, ao final do seu mandato nada mais lhe restará a não ser a leveza e a paz daqueles que cumpriram sua missão com honradez ou o triste fim daqueles que terão que enfrentar a solidão e o tormento de buscar em tribunais judiciais a liberdade perdida.
Olhe os exemplos recentes de malfeitores públicos e privados, pagam um alto preço pelos erros cometidos e não corrigidos enquanto podiam. Você ainda está entre aqueles que podem resgatar o que a cegueira do poder tirou, pois mesmo adormecido, tenho certeza que ainda existe aquele menino que conheci educado com princípios rígidos por pai e mãe maravilhosos.
É com enorme pesar que escrevo esta carta aberta. Cansei de falar particularmente e aqui expresso não só minha opinião, mas também de uma legião de amigos “das antigas” que ainda torce por sua recuperação moral.
TONY GARCIA”
Após a publicação da carta, surgiram dúvidas se o texto realmente era de autoria de Tony Garcia. Logo em seguida aos questionamentos, foi publicado um novo texto na página atribuída ao ex-deputado em que ele diz que confirma o texto como sendo de sua autoria:
Em 2008, Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, foi condenado em ação penal movida pelo Ministério Público Federal pela prática de crimes financeiros praticados no âmbito do Consórcio Nacional Garibaldi, segundo a 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba.
Por ter colaborado com a Justiça e por ter se comprometido a indenizar parcialmente os lesados, a pena foi reduzida para seis anos de prestação de serviços comunitários.
O deputado sempre negou ter sido sócio do Consórcio Nacional Garibaldi.
Quatro anos antes da condenação, em 2004 Tony Garcia chegou a ser preso Polícia Federal (PF) a mando do juiz federal Sérgio Moro, o mesmo que agora é responsável pelas ações da Operação Lava Jato.
Veja vídeo da campanha de Tony Garcia ao Senado:
Em 1992, Tony Garcia se candidatou a prefeito de Curitiba. Desta vez, mesmo sendo do PRN, ele estava contra Collor, que caiu em desgraça por corrupção. O vencedor foi Rafael Greca, com mais de 52% dos votos. O segundo colocado foi Maurício Fruet (PMDB, 23,2% dos votos), pai do atual prefeito, Gustavo Fruet, seguido de Luciano Pizzato (PFL, 12,3% dos votos) e Dr. Rosinha (PT, 6,5%).
“Aviso aos navegantes”
Com a grande repercussão da carta aberta, Tony García voltou às redes sociais para novos esclarecimentos.
“Não me deixarei ser usado pelos adversários políticos de Beto Richa. A carta tinha um único objetivo, discutir abertamente o impasse em seu governo, envolto em crise de confiança num momento de grandes dificuldades. Quis abrir as portas que permanecem trancadas a sete chaves por assessores que o cercam e impedem que o governo tenha transparência e eficiência”, diz um trecho de um longo texto.
“Minha indignação não é pessoal, contra Beto Richa, mas com o fato de ele ter se deixado cercar por pessoas que prejudicaram seu governo e sua imagem. Os verdadeiros amigos, os “das antigas”, se ressentiram com tudo isso”, diz em outro trecho.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS