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Desde a saída de Franklin Roosevelt – o único presidente da história dos Estados Unidos a cumprir três mandatos –, em 1945, a maioria dos presidentes norte-americanos passou no teste da reeleição. A busca por um segundo mandato necessariamente coloca ao eleitor a possibilidade de avaliação do que o presidente fez nos quatro primeiros anos. Mas, em poucas eleições anteriores, a disputa ganhou caráter plebiscitário tão forte como agora em 2020, quando a avaliação de Donald Trump tornou-se mais relevante que a candidatura do adversário Joe Biden.
Gerald Ford, Jimmy Carter e George H. W. Bush (Bush pai) foram os únicos que perderam a disputa para um segundo mandato. Todos os outros foram vitoriosos na corrida pela reeleição: Harry Truman, Dwight Eisenhower, Lyndon Johnson, Richard Nixon, Ronald Reagan, Bill Clinton, George w. Bush (Bush filho) e Barack Obama. Houve o caso do assassinato de John Kennedy, mas seu vice, Lyndon Johnson, assumiu a Presidência e conseguiu se reeleger. Há que se registrar ainda o caso de Nixon, que ganhou duas eleições, em 1968 e 1972, mas renunciou no início do segundo mandato em meio ao escândalo conhecido como Watergate.
Para grande parte dos analistas americanos, o que está movendo muitos eleitores neste ano é o “sim” ou “não” a Donald Trump. Até o próprio adversário de Trump, o democrata Joe Biden, deu declarações de que espera conquistar muitos votos daqueles que estão indo às urnas com o intuído de tirar o republicano do poder. Por outro lado, não são poucos os que têm na figura pessoal e polêmica de Trump sua principal razão para votar em favor de sua permanência.
![Trump versus Biden;Obama reforça campanha](https://media.gazetadopovo.com.br/2020/11/03001629/Obama-e-Biden-660x372.jpg)
Levantamento do Pew Research – um centro de pesquisas não partidário – mostra as principais questões que os americanos estão levando em consideração ao votar. Quase oito em cada dez eleitores registrados (74%) disseram que a economia será muito importante para eles na tomada de decisão sobre em quem votar. Em segundo lugar vem os cuidados com a saúde: para 65% dos eleitores, a proposta para resolver os problemas de saúde será um fator muito importante em sua decisão.
Além da economia, os americanos estão muito preocupados com a composição da Suprema Corte (63%) e com a pandemia de coronavírus (55%), segundo o Pew Research. E há ainda a imigração e a desigualdade racial e étnica (52%).
De todos esses pontos, Trump vinha se saindo bem no principal deles, segundo a avaliação dos americanos: a economia. Mas a pandemia jogou o país na recessão, o desemprego explodiu e seu principal pilar de campanha sofreu sérios abalos.
Mesmo com a crise, é na economia que Trump ainda aposta para tentar vencer o ‘plebiscito’ sobre seus quatro anos na Casa Branca. O Instituto Gallup fez aos eleitores uma pergunta que se repete desde a campanha presidencial de 1980 – quando Reagan perguntou aos americanos: "Você está melhor hoje do que há quatro anos?". O resultado agora em 2020 foi favorável a Trump, já que 56% disseram que a situação está melhor que quatro anos atrás, enquanto 32% afirmaram que está pior.
Esse ponto favorável a Trump, entretanto, não ofusca a insatisfação dos eleitores com a condução que ele vem dando ao país, especialmente aos temas de saúde, violência e relações internacionais. O mesmo Gallup levantou que apenas 28% dos americanos disseram em outubro estar satisfeitos com os rumos do país.
Em editorial do último dia 31 de outubro, o Wall Street Journal – jornal que apoia abertamente a reeleição – diz que o caso para Donald Trump é a ruptura política. “A Presidência Trump certamente entregou isso, para o bem e para o mal. Suas políticas e quebras das convenções realizaram muito do que era necessário. Mas sua governança divisora e falhas pessoais o colocaram em risco de perder para um democrata cujo tema de campanha é essencialmente que ele não é Donald Trump”, publicou o periódico simpatizante de Trump.
For years you had a President who apologized for America – now you have a President who is standing up for America, and standing up for PENNSYLVANIA. Tomorrow, you have the power, with your vote, to save AMERICA! GET OUT AND VOTE!! #MAGA pic.twitter.com/Sx0PBaplkJ
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 2, 2020
Ao citar que o republicano nunca teve um índice de aprovação superior a 50% em quatro anos, o Wall Street Journal avalia que “a maioria das pessoas gosta dos resultados da política econômica do Sr. Trump, mas não gosta da maneira como ele conduziu sua Presidência”.
O New York Times – que declarou apoio ao candidato democrata –, também em editorial, publicou que os EUA são hoje um país “mais fraco, com mais raiva, menos esperançoso e mais dividido do que há 4 anos”. Para o jornal mais importante do país, Biden é o candidato capaz de restaurar a “confiança do público nas instituições democráticas”.
Muita coisa que funcionou a favor de Trump há quatro anos, agora está jogando contra ele diante da crise do coronavírus – o novo na política, o candidato que diz o que pensa, que odeia o Estado e que cada um deve procurar ‘se virar’ são alguns exemplos. Também entra nessa balança a brutalidade policial discriminatória para com os afro-americanos e o fortalecimento do racismo sistêmico.
Mas o jogo está sendo jogado até o último instante. Os aliados de Trump demonstram estar mais animados do que eleitores de Biden. Nos últimos dias, a campanha do presidente tem buscado incursões entre as minorias e ele declara repetidamente quantos afro-americanos tirou da prisão. Outra aposta é a possibilidade do voto ‘envergonhado’, que representaria uma grande massa de americanos que planejam votar nele, mas não admite publicamente. Para esses, Trump fez um bom trabalho e a economia está se recuperando.
Todos esses ingredientes evidenciam que esta eleição tornou-se, mais do que muitas disputas anteriores, um plebiscito sobre o presidente. Se Biden vencer, como aponta a maioria das pesquisas, a derrota de Trump representará um feito maior que a vitória do democrata. Mesmo que o triunfo possa ser de Biden, o foco será a queda de Trump.