
Na terça-feira (7), a direção do PT Nacional informou que o Whatsapp decidiu suspender as contas do ‘Zap do PT’, mantidas pela legenda para distribuição de mensagens. A presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, reagiu. Classificou o bloqueio de censura e disse ter encaminhado carta à empresa cobrando explicações.
Na quarta-feira (8), o Facebook anunciou ter desarticulado uma rede de 73 contas, 14 páginas e um grupo na rede social e no Instagram de funcionários de gabinete do presidente Jair Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro e do deputado federal Eduardo Bolsonaro, além de envolvidos com o PSL. O presidente criticou a decisão e disse que a medida “sobrou” para quem o apoia.
Os casos envolvendo bloqueios de contas e páginas do PT e de personagens ligadas a Bolsonaro retratam uma elevação das barreiras montadas pelas plataformas das redes sociais para impedir o que classificam de desinformação e manipulação política. As medidas fazem parte de um contexto maior da política dessas empresas de mídia social, que inclui a contenção de mensagens de ódio, discriminação (raça, sexo, religião) e violência.
Os bloqueios são globais. No dia 13 de junho, por exemplo, o Twitter suspendeu 173 mil contas que, segundo a empresa, seriam vinculadas a uma operação de influência apoiada por Pequim. A rede, de acordo com o Twitter, espalhou enganosamente mensagens favoráveis ao governo chinês.
O Twitter informou ainda que a rede tinha links para uma operação anterior apoiada pelo governo chinês, a qual foi desmontada no ano passado pelo próprio Twitter, o Facebook e o YouTube, este último de propriedade do Google. As contas, segundo o Twitter, vinham disseminando narrativas enganosas sobre a dinâmica política em Hong Kong.
Na quarta-feira (9), uma operação do Facebook derrubou 50 contas e páginas de Roger Stone, ex-assessor do presidente americano, Donald Trump. Contas pessoais de Stone no Facebook e Instagram foram removidas como repressão a um "comportamento coordenado não autêntico" em várias partes do mundo, segundo informou a empresa. A gigante de mídia social criada por Mark Zuckerberg também desativou redes no Canadá, Equador e Ucrânia que disfarçavam suas verdadeiras origens.
No caso do PT, o Facebook, que controla o Whatsapp, argumentou que as contas foram desativadas após o sistema automático ter detectado que estavam espalhando spam político (mensagens em massa), o que viola os termos de uso da empresa.
O PT disse que está estudando medidas judiciais cabíveis para reverter a decisão ou obter alguma explicação para o episódio. Gleisi reclamou do fato de o bloqueio ter ocorrido no momento em que o PT havia lançado uma campanha de coleta de assinaturas pelo impeachment de Bolsonaro.
“O Zap do PT foi criado para divulgação de informações do PT aos seus filiados, constituindo comunicação legítima e voluntariamente consentida pelos usuários”, disse Gleisi. O partido anunciou migração para o Telegram.
No caso envolvendo Bolsonaro, as páginas empregavam ações vetadas pela empresa, como contas falsas e envio de spam. A rede tinha mais de 800 mil seguidores no Facebook e cerca de 900 mil no Instagram. A plataforma não detalhou se esses conteúdos difundiam fake news.
“Vemos que o Facebook derrubou páginas em todo o mundo. No Brasil, sobrou pra quem está do meu lado, pra quem é simpático à minha pessoa. A esquerda fica posando de moralista, mas olha aqui, blog me associando ao nazismo. Bolsonaro decaptado. Ninguém fala em derrubar essas páginas”, atacou Bolsonaro.
A decisão do Facebook levou a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), do governo brasileiro, a pedir o encerramento, antes do prazo, do contrato com o Atlantic Council. O instituto americano lidera um programa de investigação de desinformação na internet, o Digital Forensic Research Lab, que forneceu dados ao Facebook sobre perfis falsos de assessores do presidente Bolsonaro.
Pressão financeira
O cerco das empresas de mídia social a determinadas contas, páginas e perfis está crescendo em meio à pressão de grandes empresas investidoras em anúncios. Mais de 200 companhias, entre elas Adidas, Puma, Levis, Coca-Cola, Starbucks, Ford, Microsoft, Mozilla, Pepsi, Reebok, Starbucks e Unilever, decidiram recentemente suspender anúncios no Facebook. Muitas marcas reprovam a atitude considerada permissiva das plataformas com mensagens que promovem desinformação e manipulação.
O boicote vem na esteira de um movimento liderado por organizações de direitos civis em várias partes do mundo para que as redes sociais eliminem mensagens de racismo, ódio e discriminação. Entre essas organizações estão a associação Free Press, o movimento Stop Hate For Profit, que tem feito com que anunciantes retirem seu dinheiro da mídia social, a organização Color of Change, a organização afro-americana de direitos civis NAACP e a Liga Antidifamação.
Ao mesmo tempo em que buscam conquistar confiança dos investidores e do público, os administradores das redes sociais enfrentam acusações de censura por parte de segmentos atingidos. Há argumentos também de que as medidas ferem a liberdade de expressão, direito fundamental na democracia, ao bloquear mensagens.
Em resposta, a gigante Facebook, que controla o Instagram e o Whatsapp, diz que os bloqueios estão sendo feitos com base no comportamento das redes de difusão de mensagens e não pelo conteúdo. A expressão "comportamento inautêntico coordenado” usada pela empresa implica em atividades conectadas que contavam com uma combinação de contas duplicadas e falsas além da criação de personagens fictícias para difundir desinformação.
*Texto atualizado com novas informações em 11/07, à 01h38
Centrão não quer Bolsonaro, mas terá que negociar com ex-presidente por apoio em 2026
“Por enquanto, eu sou candidato”, diz Bolsonaro ao descartar Tarcísio para presidente
Ucrânia aceita proposta dos EUA de 30 dias de trégua na guerra. Ajuda militar é retomada
Frei Gilson: fenômeno das redes sociais virou alvo da esquerda; ouça o podcast
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS