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Vacina promissora contra o coronavírus ainda tem longo caminho a percorrer

Primeiro teste de vacina contra o coronavírus em humanos mostrou segurança
(Foto: Divulgação/NIH)

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A corrida para aniquilar o novo coronavírus ganhou uma injeção de ânimo no começo desta semana com o anúncio da empresa de biotecnologia Moderna Therapeutics. O laboratório informou que uma vacina experimental contra a covid-19 testada em humanos mostrou ser ‘segura e bem tolerada” em um primeiro teste com 45 voluntários saudáveis.

O anúncio da empresa norte-americana, com sede em Cambridge, Massachusetts, trouxe esperança de uma solução para a pandemia que arrasou o mundo e otimismo aos mercados financeiros, além de ter aberto horizontes bilionários para a empresa. As bolsas de valores subiram em todo o planeta e a Moderna atingiu US$ 30 bilhões em valor de mercado.

No comunicado que fez ao mundo, a empresa farmacêutica deixa claro que a pesquisa está em fase inicial. Para se chegar finalmente a uma vacina em condições de distribuir em grande escala ainda há um longo caminho a percorrer. A Moderna também faz um alerta sobre os riscos de seu empreendimento.

“As declarações prospectivas contidas neste comunicado à imprensa não são promessas nem garantias, e você não deve confiar indevidamente nessas declarações prospectivas, pois envolvem riscos conhecidos e desconhecidos, incertezas e outros fatores, muitos dos quais estão fora do controle e da Moderna, o que poderia causar resultados reais diferentes materialmente daqueles expressos ou implícitos nessas declarações prospectivas”, diz a empresa.

Mesmo com as ressalvas, os resultados obtidos após os primeiros testes em humanos coloca a vacina da Moderna – batizada de mRNA-1273 – no pelotão de frente da grande maratona em busca de um produto que impeça o Sars-Cov-2 de infectar as células.

A vacina da Moderna é uma das 118 em desenvolvimento registradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Pelo menos oito delas já estão sendo testadas em seres humanos. Além da Moderna, outros laboratórios com vacina em fase adiantada são CanSino Biologicals, Inovio, Shenzhen Geno-Immune Medical Institute, BioNTech e Pfizer. Apesar dos resultados iniciais promissores de algumas delas, não há ainda garantias de que serão realmente eficazes nem seguras. A vacina do laboratório chinês já está na fase 2 de testes, portanto à frente dos estudos da Moderna.

Os resultados dos estudos da vacina dos EUA

A Moderna destacou os seguintes pontos após a conclusão da ‘fase 1’ dos testes em humanos com a vacina mRNA-1273:

  • Após duas doses, todos os participantes avaliados até o momento que receberam as doses de 25 µg (microgramas) e 100 µg (microgramas) apresentaram níveis de anticorpos com quantidade iguais ou superiores aos níveis observados nos soros convalescentes.
  • A vacina mRNA-1273 provocou níveis de título de anticorpos neutralizantes em todos os oito participantes iniciais das doses de 25 µg e 100 µg, atingindo ou excedendo os títulos de anticorpos neutralizantes geralmente vistos em soros convalescentes (de pessoas que contraíram o vírus e se curaram).
  • A Vacina mRNA-1273 até o momento apresentou ser segura e bem tolerada.
  • O mRNA-1273 forneceu proteção total contra a replicação viral nos pulmões em testes com camundongos.

Reações e nível de segurança

Os pesquisadores da Moderna informaram que foram testados três níveis de dosagem da vacina, de 25 µg, 100 µg e 250 µg (para pessoas com idades entre 18 e 55 anos). “Aumentos de imunogenicidade (de anticorpos) foram observados nos três níveis de dose. Os participantes apresentaram titulação de anticorpos anti-Sars-Cov-2 similar aos níveis observados nos soros convalescentes (amostras de sangue de pessoas que se recuperaram da Covid-19). Porém, para a dose 100 µg foram observados níveis de anticorpos que excederam significativamente os níveis observados nos soros convalescentes”, relatou a empresa.

A empresa também destacou o nível de segurança apresentado pela vacina. De acordo com o comunicado, houve uma única incidência de evento adverso de grau 3 com participante que recebeu a dose de 100 µg, o qual apresentou eritema de grau 3 (vermelhidão) no local da injeção. “Até o momento, os eventos adversos mais notáveis foram observados na dosagem de 250 µg, compreendendo três participantes com sintomas sistêmicos de grau 3, apenas após a segunda dose. Todos os eventos adversos foram transitórios e com auto-resolução. Não foram relatados eventos adversos de grau 4 ou eventos adversos graves”, informou o laboratório.

Os eventos adversos servem para medir o nível de segurança da vacina experimental e podem ser entendidos como o que se chama popularmente ‘reação à vacina’. A gravidade dos eventos adversos é crescente do nível 1 para o 4.

O estudo da fase 2 da mRNA-1273 já está em andamento. Nesta fase, os pesquisadores vão analisar dois níveis de dosagem – 50 µg e 100 µg – com o objetivo de selecionar uma dose para os estudos principais. O início do estudo da fase 3 deve acontecer somente em julho, segundo anunciou a empresa.

“Com os dados intermediários positivos atuais da fase 1 e os dados positivos nos testes em ratos, a equipe da Moderna continua se concentrando em avançar o mais rápido possível para iniciar o estudo de fase 3, em julho”, disse Stéphane Bancel, CEO da Moderna, em comunicado.

Velocidade recorde no desenvolvimento de uma vacina

O processo de desenvolvimento de novas vacinas deve seguir protocolo da OMS. Normalmente, uma vacina demora entre 6 e 8 anos para chegar à fase 3. Por causa da urgência da pandemia do novo coronavírus, os laboratórios estão apressando esse processo sem pular etapas.

Durante os ensaios pré-clínicos são feitos testes em animais. Em seguida, na fase 1 – etapa cumprida até agora pela Moderna – a vacina é testada em pequenos grupos de humanos (de 10 a 100 voluntários). Na fase 2, os testes podem ser feitos em grupos de 100 a 300 voluntários. Finalmente, na fase 3, pode se aplicar a vacina em mais de mil voluntários.

O desenvolvimento de novas vacinas contra a covid-19 ganhou velocidade devido a abordagens inovadoras adotadas pelos pesquisadores. Na forma tradicional e que comprovadamente tem tido alta eficácia, as vacinas apresentam parte ou todo o patógeno no sistema imunológico humano, na forma de uma injeção e em dose baixa, para levar o sistema a produzir anticorpos. A imunização é alcançada usando formas vivas e enfraquecidas do vírus, ou parte ou todo o vírus inativado. Pelo método novo, a partir do sequenciamento do RNA do Sars-Cov-2 os cientistas manipulam o material genético dos vírus, estimulando respostas imunes do organismo.

A chave da virulência do novo coronavírus, segundo constataram os estudos até agora, está nas proteínas de suas espículas, protuberâncias que fazem com que no microscópio pareça uma clava de espinhos medieval. Os cientistas copiam a parte do material genético do vírus – o RNA – que contém as instruções para produzir essa proteína da espícula. Ao injetar essa receita de RNA em uma pessoa, as células humanas fabricam somente a proteína do vírus e, em teoria, desencadeiam uma resposta imune sem risco.

vacina moderna coronavírusSede moderna em 8 de maio de 2020 em Cambridge, Massachusetts. (Foto: Maddie Meyer/Getty Images/AFP)

Vacina e sucesso de mercado

A vacina contra o novo coronavírus não é a única em desenvolvimento pela Moderna. A empresa de biotecnologia trabalha em oito outros candidatos para diversas infecções, como vacina do vírus sincicial respiratório (VSR), uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças pequenas, e um de muitos vírus que podem causar bronquiolite.

Também estão em estudo vacinas contra o metapneumovírus humano (hMPV) e o vírus parainfluenza tipo 3 (PIV3) (mRNA-1653), contra a gripe H7N9 (mRNA-1851), contra citomegalovírus (CMV) (mRNA-1647 e contra o zika (mRNA-1893). Nenhuma delas foi aprovada até agora.

Enquanto as vacinas caminham e prometem, o valor de mercado da Moderna Inc. vai às alturas. No mesmo dia em que noticiou os avanços nos estudos contra o coronavírus, a empresa anunciou a oferta de 17,6 milhões de ações, além de opção por 30 dias de compra de mais 2,64 milhões de ações para quem participar da oferta pública, ao preço de US$ 76. A receita bruta estimada com a operação é de US$ 1,34 bilhão.

A oferta de ações, segundo a companhia, tem como objetivo formar um fundo para produzir 1 bilhão de doses da vacina contra a covid-19 por ano. Segundo os resultados do primeiro trimestre, a empresa tem hoje em caixa US$ 1,7 bilhão.

O sucesso de mercado da Moderna tornou seu idealizador um bilionário. O professor de biologia da Universidade de Harvard Timothy Springer, há uma década, teve a ideia de apostar em uma empresa de biotecnologia.

Atualmente, Springer detém 3,5% das ações da companhia. Com a supervalorização das ações nos últimos meses, chegando a bater os US$ 80 na segunda-feira (18), o patrimônio do professor saltou para US$ 1 bilhão.

*Texto com informações atualizadas às 19h47

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