Um retrato da vacinação contra Covid-19 e dos impactos do coronavírus na América do Sul coloca a Venezuela em pontos opostos. Por um lado, o país governado por Nicolás Maduro é o que apresenta pior índice de vacinados. Por outro, é o que registra o mais baixo índice de mortes pela doença.
Os problemas da vacinação na Venezuela envolvem uma série de fatores. O primeiro é que, até agora, o país recebeu imunizantes de apenas dois fabricantes, a chinesa Sinopharm e a russa Sputinik V. A exemplo do que vem ocorrendo em muitos outros países, as remessas tem chegado a conta-gotas, o que impede um ritmo mais rápido na aplicação das vacinas.
Outro problema está relacionado à disputa política entre o governo chavista e Juan Guaidó – autoproclamado presidente e reconhecido por cerca de 50 países – e envolve fundos venezuelanos bloqueados no exterior estimados em US$ 6 bilhões.
O governo Maduro acusa a oposição liderada por Juan Guiadó de sabotar as negociações para a liberação dos recursos que estão congelados no estrangeiro. O líder oposicionista, por sua vez, diz que falta um plano transparente de vacinação na Venezuela e que tem trabalhado para garantir o ingresso de imunizantes ao país.
O governo chavista também acusa os Estados Unidos e o Reino Unido de negarem a liberar os recursos bloqueados para a compra de vacinas. “A Venezuela exige a liberação de pelo menos 300 milhões de dólares, dos quase seis bilhões bloqueados pela imposição de sanções penais. Nem os Estados Unidos nem o Reino Unido liberaram um dólar sequer", escreveu no Twitter o ministro venezuelano da Relações Exteriores, Jorge Arreaza.
O congelamento de recursos venezuelanos no exterior é fato, mas a realidade das negociações tem uma série de nuances. Em junho do ano passado, depois de duras disputas, foi assinado um acordo, o qual permitiu que uma pequena parte recursos congelados no exterior – que são controlados por Guaidó – fossem usados para a compra de equipamentos de proteção para os profissionais da saúde.
Em março último foi elaborado um plano para obter imunizantes do consórcio Covax, por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), integrada à Organização Mundial de Saúde (OMS). O organismo multilateral reservou 2,4 milhões de doses da vacina da AstraZeneca para a Venezuela.
O acordo azedou dias depois com as decisões de vários países europeus de suspenderem temporariamente a aplicação do imunizante da AstraZeneca diante de registros de casos de trombose entre alguns vacinados. “Não vai entrar nenhuma vacina no país, nem deve ser enviada, que não tiver sido autorizada por nossos institutos científicos nacionais”, disparou Maduro.
Pressionado com o aumento de casos e de mortes, além da saturação do sistema de saúde, o governo anunciou acordo com Cuba, que tem duas candidatas a vacina (Soberana 2 e Abdala), na fase III de testes. Há duas semanas Maduro disse que 30 mil doses de casa imunizante serão aplicadas como parte da fase III dos ensaios clínicos.
Na quinta-feira (08), a vice-presidente executiva do país, Delcy Rodriguez, anunciou que a vacina Abdala será produzida em um laboratório estatal em Caracas. A vice-presidente não informou quando a Venezuela prevê iniciar a fabricação da vacina, já que ainda depende dos testes da fase III, ou quantas doses por mês serão produzidas.
Dados do portal Our World in Data, organizado pela Universidade de Oxford, mostra que até 2 de abril (últimos dados disponíveis) a Venezuela havia vacinado menos de 100 mil pessoas. Esse número representa apenas 0,34% da população do país, o menor porcentual entre todos os países sul-americanos. O Brasil, por exemplo, já vacinou mais de 11% com pelo menos uma dose.
O governo contesta esses números. Segundo informação oficial, o país recebeu até agora 750 mil doses de vacina, suficientes para vacinar apenas 2,6% da população com uma dose. A maior parte desse total foi destinada à imunização dos profissionais de saúde e de educação, além de integrantes das forças armadas e do próprio presidente Maduro. Na quinta-feira (8), o país começou a convocar os idosos para receber imunizantes.
Quando a comparação é feita pelo número de mortes por Covid-19, a Venezuela fica do lado inverso do gráfico. Desde o início da pandemia foram registrados, segundo os dados da plataforma Our World in Data, 1.720 mortes por Covid-19 em todo o país. Esse número representa 60 mortes por milhão, a menor proporção entre todos os países da América do Sul. No Brasil, a proporção é de 1.623 mortos por milhão.
Sem vacina em quantidade suficiente para acelerar o programa de imunização, o governo Maduro se lança agora para manter o controle da escalada do vírus, o que foi conseguido no primeiro ano da pandemia. Nas últimas semanas houve aumento de casos de mortes. Em 3 de março a média semanal de mortes por Covid-19 era de 27 pessoas. Na última quinta-feira (08/04), a média chegou a 105. Os novos casos saíram de uma média diária de cerca de 400, em fevereiro, para um pico de mais de 1.700 em 4 de abril.
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