Os resultados da fase 3 de testes clínicos da vacina Coronavac apresentados pelo Instituto Butantan trouxeram otimismo. Pelos números divulgados, será possível produzir em solo brasileiro um imunizante eficaz e seguro contra a Covid-19. Mas a ausência de alguns dados, especialmente o da eficácia geral da vacina (média), motivou questionamentos. Tais dados constam na divulgação de estudos de outras quatro vacinas que já estão sendo aplicadas – AstraZeneca/Oxford, Instituto Gamaleya/Sputnik V, Pfizer/BioNTech e Moderna.
O Butantan anunciou que a Coronavac tem 78% de eficácia contra casos leves de Covid-19 que precisaram de intervenção médica e de 100% contra casos moderados e graves, que precisam de internação, mas não forneceu o dado geral. O diretor do instituto, Dimas Covas, disse, informalmente, que houve 218 casos de covid-19 entre os voluntários, dos quais cerca de 160 ocorreram no grupo que recebeu placebo e pouco menos de 60, entre os vacinados.
Alguns pesquisadores que comentaram os dados disseram que, pelos números citados informalmente por Covas, a eficácia geral da Coronavac seria de 63%. O índice é considerado bom e está acima do mínimo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde) e pela Anvisa para uso durante a pandemia da covid-19, de 50%, mas é preciso transparência.
Para que não fique nenhuma dúvida sobre os testes realizados com a Coronavac, o Butantan precisa fornecer publicamente mais dados. E entre as informações mais aguardadas está a da eficácia geral da vacina. Quantas pessoas receberam a vacina e quantas receberam um placebo? Das que receberam vacina, quantas foram infectadas? Das que receberam um placebo, quantas foram infectadas? Quantos voluntários desenvolveram a forma grave da doença? Quantos desenvolveram a forma leve?
Para efeito de comparação, a vacina desenvolvida em parceria entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica sueca AstraZeneca apresentou média de eficácia de 62% para quem recebeu duas doses completas e de 90% para meia dose seguida de uma dose de reforço. No geral (média), a eficácia ficou em 70,4%.
Para chegar a esses dados, os pesquisadores analisaram as informações referentes a 11.636 pessoas vacinadas no Reino Unido e no Brasil. Dessas, 8.895 receberam as duas doses completas, e 2.741 receberam a meia dose seguida de uma dose completa.
Dos 8.895 voluntários que receberam duas doses, 4.440 tomaram a vacina e os outros 4.455 tomaram um placebo (substância inativa). Entre os que tomaram a vacina, houve 27 casos de Covid-19, enquanto que entre os que tomaram placebo foram 71, o que dá proteção de 62%.
No grupo de 2,741 voluntários que tomaram uma dose e meia, 1.367 receberam a vacina e outros 1.374, um placebo. Entre os que tomaram a vacina, houve 3 casos de Covid-19 e entre os que tomaram placebo, foram 30, isto é, o imunizante apresentou 90% de eficácia.
Quanto à vacina da Pfizer/BioNTech, os resultados da fase 3 publicados na revista científica "New England Journal of Medicine" mostram que a eficácia chega a 94,7%, a maior até agora entre todos os concorrentes. Dos 43.448 participantes do estudo, 21.720 receberam a vacina e 21.728 receberam o placebo. Foram confirmados 170 casos do novo coronavírus: 8 entre participantes que receberam a vacina e 162 entre participantes que receberam o placebo (substância inativa), isto é, eficácia de cerca de 95%.
A norte-americana Moderna apresentou dados à FDA, agência regulatória dos Estados Unidos, os quais mostram eficácia de 94,5%, praticamente o mesmo índice da Pfizer. Foram realizados testes em 30 mil voluntários (metade recebeu a vacina e a outra metade, o placebo). Das 196 pessoas no estudo que tiveram covid-19, 185 delas estavam no grupo do placebo, enquanto apenas 11 infectados haviam recebido a vacina ativa.
No caso da vacina russa, o Centro Gamaleya divulgou em 14 de dezembro que a Sputinik é 91,4% eficaz. Os números para se chegar a esse percentual são claros e estão no site criado especialmente para divulgar informações sobre a vacina. Das 22.174 pessoas que participaram dos testes, 17.032 receberam a vacina e 5.672, um placebo (proporção de 3 para 1). Do total geral, 78 foram infectadas. Entre os que pegaram o vírus, 62 não tomaram a vacina, mas sim um placebo. Já entre os que tomaram a vacina, 16 foram infectados.
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