Geraldo Alckmin e José Serra no banco dos réus. O primeiro responde por falsidade ideológica eleitoral (caixa dois), corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Justiça Eleitoral de São Paulo. O segundo deverá ser julgado pela Justiça Federal por lavagem de dinheiro transnacional. Os dois negam qualquer acusação.
As decisões do juiz Marco Antonio Martin Vargas, titular da 1ª Zona Eleitoral da capital paulista, envolvendo Alckmin, e do juiz federal Diego Paes Moreira, relacionada a Serra, simbolizam um trágico desfecho do ‘velho PSDB’, que surgiu de uma dissidência do antigo MDB. A fundação da sigla embasada na social-democracia europeia – mas que nunca chegou a se consolidar como tal – reuniu outros nomes emblemáticos da redemocratização do Brasil, como Mário Covas, Franco Montoro, José Richa e Fernando Henrique Cardoso.
O ‘velho PSDB’ e o PT lideraram a política brasileira desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, até a vitória de Jair Bolsonaro – então no PSL – nas eleições presidenciais de 2018.
Com a queda de Collor no início dos anos 90, os tucanos deram apoio ao governo do vice, Itamar Franco, e a partir daí ficaram por uma década no poder central do país. Fernando Henrique Cardoso, como ministro da Fazenda de Itamar, construiu o Plano Real e conseguiu debelar a hiperinflação crônica, principal problema da economia brasileira na época. Com o sucesso do Real, FHC se elegeu presidente em 1994 e conquistou a reeleição quatro anos depois. Nas duas eleições, o PSDB derrotou Lula e o PT, em uma delas no primeiro turno, com 54,2% dos votos válidos.
A maioria dos tucanos históricos tem origem no MDB e todos integravam as forças democráticas que lutaram para derrubar o regime militar. O núcleo do velho PSDB sempre foi comandado por líderes políticos de São Paulo – estado em que o partido governa ininterruptamente há 26 anos. Os tucanos nunca perderam uma eleição ao governo paulista desde a primeira vitória de Mário Covas, em 1994. Mas antes disso, fundadores do PSDB já governavam São Paulo. Foi o caso de Franco Montoro, que governou o estado entre 1983 e 1987, na época filiado ao ‘MDB velho de guerra’.
Durante muitos anos o PT bateu na tecla de que denúncias de desvios e corrupção ‘não colavam’ em tucano. Foi assim durante os oito anos do governo do presidente FHC. Nem mesmo as acusações de corrupção durante o processo que foi taxado de “privataria do PSDB” e de compra de votos no Congresso para aprovar a reeleição de Fernando Henrique foram em frente. Ser tucano parecia sinônimo de ter asas para voar livre de punições.
A ‘blindagem’ dos líderes do PSDB começou a ser destruída após o que ficou conhecido como mensalão tucano, também denominado mensalão mineiro e tucanoduto. O escândalo de peculato e lavagem de dinheiro que ocorreu na campanha para a reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) – um dos nomes históricos da legenda e presidente nacional da sigla – ao governo de Minas Gerais em 1998, resultou em sua condenação e prisão.
Da primeira geração de novos tucanos, o ex-governador de Minas e hoje deputado federal Aécio Neves não demorou a cair em desgraça. Candidato à Presidência da República derrotado pela petista Dilma Rousseff em 2014, o neto do ex-primeiro ministro e presidente eleito que não chegou a tomar posse Tancredo Neves se livrou do mensalão mineiro, mas é investigado em uma série de inquéritos.
Em 2018, Aécio tornou réu sob acusação de corrupção passiva e obstrução da Justiça no processo relativo ao episódio em que foi gravado, em março de 2017, pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS. O deputado ainda não foi julgado.
Outro herdeiro do tucanato histórico, o ex-governador do Paraná Beto Richa – filho do também ex-governador José Richa, um dos fundadores do PSDB –, também não conseguiu se proteger com a mitológica ‘blindagem’ dos tucanos.
Nascido em Londrina, cidade que relevou seu pai para a política, Beto Richa responde a vários inquéritos. Foi preso três vezes. Na primeira vez, foi acusado de fraude em licitações num programa de estradas rurais do governo do Paraná. Na segunda, sob acusação de envolvimento em um esquema de corrupção na concessão de rodovias. E na terceira vez foi levado à prisão em ação que apura desvios na educação durante a sua gestão.
Os contratempos aniquilaram a carreira dos dois expoentes do tucanato. De governador, senador e presidencial, Aécio Neves teve de se contentar com a eleição para deputado federal em 2018. Beto Richa era favorito ao Senado, mas, com os escândalos, amargou um sexto lugar, com apenas 3,73% dos votos. Aécio e Beto negam irregularidades e dizem que a justiça ainda provará que não são culpados por desvios.
Com Covas e José Richa além da vida nesses trópicos, FHC aposentado e Aécio e Beto aniquilados politicamente, todas as fichas do PSDB destinam a uma aposta que, para muitos, não tem o selo tucano original: João Doria.
Em que pese se distanciar do tucanato histórico, a carreira política de Doria foi erguida sob a tutela dos tucanos. O atual governador de São Paulo, candidatíssimo à Presidência da República em 2022, entrou na política em 1983 pelas mãos de Mário Covas, que era prefeito de São Paulo pelo PMDB e o nomeou secretário municipal de Turismo.
Apesar das ligações com tucanos históricos, Doria só veio se filiar ao PSDB no novo século, em 2001, depois de ter participado do governo do ex-presidente José Sarney. Se, por um lado, o atual governador de São Paulo demorou a chegar à cúpula tucana, por outro, depois que chegou teve ascensão meteórica. Ganhou as eleições para a prefeitura de São Paulo em 2016, no primeiro turno, e, dois anos depois, deixou o cargo para vencer a disputa pelo governo de São Paulo, numa campanha que deixaria certamente Covas e José Richa corados: a chamada dobradinha BolsoDoria, numa referência à aliança informal com Jair Bolsonaro, hoje seu adversário.
Com Doria na liderança, é imprevisível a manutenção das últimas raízes ainda vivas do 'velho PSDB'. Para tucanos históricos, as tradições do partido estariam mais seguras nas mãos de Bruno Covas, neto de Mário Covas e atual prefeito de São Paulo.
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