Desde que o Brasil restabeleceu a eleição direta para presidente da República, em 1989, apenas um candidato conseguiu vencer no primeiro turno. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ganhou duas vezes a disputa na primeira rodada, em 1994 e 1998. Agora, em 2022, a campanha do voto útil começa a deslanchar e as chances de não haver segundo turno aumentam.
O cenário de decisão já no dia 2 de outubro é reforçado pelos apoiadores do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro (PL). A saída do ex-juiz Sergio Moro (antes filiado ao Podemos e agora no União Brasil) da corrida presidencial aumentou essa possibilidade, com acirramento da polarização entre petistas e bolsonaristas.
A pressão nas últimas semanas recaiu sobre o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes, veterano em disputas presidências. O pré-candidato do PDT é considerado decisivo para levar o pleito ao segundo turno. Essa posição de Ciro já ocorreu em 1998 e 2018, quando ele terminou em terceiro lugar. Em 2010, o ex-ministro também teve papel importante na disputa, obteve mais de 10 milhões de votos, mas terminou em quarto lugar, atrás de Anthony Garotinho (PSB).
Ciro tem procurado enfrentar a onda favorável à decisão no primeiro turno. Logo após a desistência de Moro, o ex-ministro foi às redes sociais para reafirmar a manutenção de sua candidatura. “Muitos vão ceder, mas não serei eu”, bradou. No último dia 11 de maio, em reação a manifestações de simpatizantes de Lula pedindo para que ele desista em favor do petista, Ciro voltou à carga: “É simplesmente impossível eu retirar a minha candidatura. Digo mais: vou até o fim e vencerei no 2º turno”.
Desde que o Brasil reconquistou o voto direto para presidente da República, 2006 foi a eleição mais polarizada. Lula e Alckmin receberam 90,24% dos votos no primeiro turno. A terceira colocada, Heloísa Helena, teve 6,85%. Assim mesmo, a eleição foi para o segundo turno pelo fato de nenhum dos candidatos ter alcançado mais de 50% dos votos.
Agora, na pré-campanha de Lula aumentam as articulações para tentar liquidar a eleição em 2 de outubro. Os movimentos são muitos. Um dos primeiros manifestos saiu em fevereiro, articulado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que foi defensor da Lava Jato no passado, mas agora integra a coordenação da campanha do petista.
Na última semana, a manifestação pública do tucano Aloysio Nunes de apoio ao petista, além de ter sido uma grande baixa na campanha de João Doria (PSDB), animou a expectativas. Aloysio Nunes, tucano histórico, foi um dos principais nomes dos governos de Fernando Henrique Cardoso. Ele foi ministro da Justiça e de Relações Exteriores, além de Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. “Não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno”, disse Aloysio em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no último dia 13 de maio.
Do lado de Bolsonaro, campeão de audiência nas redes sociais (apesar da diferença para seu principal adversário ter caído nos últimos meses, segundo levantamento da Bites, a pedido do portal Poder 360), a cada dia mais seguidores postam mensagens reforçando a tese de que a eleição deve ser decidida no primeiro turno.
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, é um dos bolsonaristas que apostam na decisão a favor de Bolsonaro. Para isso, ele tem afirmado que todos os ex-presidentes eleitos pelo voto direto após a redemocratização foram reeleitos. Em entrevista em março ao jornal Estado de Minas. Ciro esqueceu de dizer que a exceção foi Fernando Collor, que sofreu impeachment.
Torcidas à parte, o fato é que a provocação de segundo turno depende da reação da chamada terceira via. Enfraquecidos, os candidatos desse campo terão que enfrentar ainda a investida dos concorrentes que estão à frente, Lula e Bolsonaro. O apelo pelo voto útil tem tudo para se transformar na tônica da corrida presidencial daqui para a frente.
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