De um tempinho pra cá venho me perguntando o que leva os clientes ao restaurante, a cafeteria, a fazer sua refeição fora de casa.
Alguns anos atrás, essa reflexão, ou melhor, essa inquietação, teria sua resposta na ponta da língua: um belo cardápio, o preço justo e um atendimento cordial e atencioso. Hoje, aqui na China, a resposta não nos parece tão óbvia. Sinto que os clientes se desconectaram um pouco dos pratos, da comida. Procuram por mais que sabor, aroma, por mais que comida boa e bom atendimento. Desejam mais que pratos incríveis e instagramáveis. Desejam lugares que proporcionarão em seus melhores ângulos, as melhores e mais surpreendentes fotos. Fotos que sacarão dos seus seguidores, mesmo dos mais críticos, os mais longos e surpreendentes suspiros.
E esse novo perfil mexe com o mercado, impulsiona os empreendedores locais mais antenados a agirem rápido, a transformarem seus espaços em estúdios que permitirão o seu cliente por alguns minutos ser o grande astro.
Doses cavalares de inovação no projeto de construção, decoração arrojada, cores vibrantes nas paredes, corredores misteriosos, escadas infinitas, portas incríveis, cantos secretos, lagos, barcos, azulejos que se harmonizam e presenteiam quem veio visitar com a experiência de estar e não só com a de degustar. Uma nova era? Uma tendência? Não sei! Com certeza, algo com que se deve preocupar!
Visitamos nestes últimos meses vários lugares que se destacavam nas mídias sociais pela sua beleza, pelo inusitado e instagramável, e nos surpreendeu em quantos desses as pessoas estavam mais preocupadas com os clicks fora da mesa do que com os clicks sobre a mesa. Quantos desses lugares as pessoas circulavam encantadas pela experiência que a ela estava sendo oferecida, e com toda normalidade, pareciam se preocupar mais com o tempo de espera para a foto nos pontos épicos do restaurante do que com o prato escolhido no cardápio. De repente, um movimento, uma cena inesperada, os pratos esperando os clientes e não clientes esperando pelos seus pratos.
Vilão ou herói, as mídias sociais imprimem essa nova tendência, essa concorrência explícita entre pratos e locais. O on-line, o virtual, inegavelmente presente e inevitável nas nossas vidas, impõe um ritmo diferente, uma exposição e linguagem que em excesso reverte valores, percepções, prioridades. Muda hábitos e costumes. E se você acredita que não, avalie quantas vezes no entorno da mesa rodeada de amigos nos silenciamos em prol da telinha do celular. Viu, é mais corriqueiro que a gente possa imaginar. Mas será que esse movimento terá o poder de mudar o nosso paladar?
Reflexões que podem gerar um bate papo muito legal, sem celular em punho, em prosa, sem pressa, apreciando cada bocada da melhor comida, a comida escolhida pelo prazer de comer, de se sentar ao redor da mesa. Vamos tentar? Aceita vai ...
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