Da mesa escolhida no pátio externo, a bela vista encanta, convida para um passeio pelos inúmeros cantinhos instagramáveis que o Restaurante Casa Blanca oferece, e claro, muitas fotinhos tirar| Foto: Photo by Valéria Vicenti
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De um tempinho pra cá venho me perguntando o que leva os clientes ao restaurante, a cafeteria, a fazer sua refeição fora de casa.

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No restaurante Havana Banana, a prancha, o lago e os arcos, fazem sucesso, emplacam na capa da maioria das postagens, conquistam curtidas e comentários.

Alguns anos atrás, essa reflexão, ou melhor, essa inquietação, teria sua resposta na ponta da língua: um belo cardápio, o preço justo e um atendimento cordial e atencioso. Hoje, aqui na China, a resposta não nos parece tão óbvia. Sinto que os clientes se desconectaram um pouco dos pratos, da comida. Procuram por mais que sabor, aroma, por mais que comida boa e bom atendimento. Desejam mais que pratos incríveis e instagramáveis. Desejam lugares que proporcionarão em seus melhores ângulos, as melhores e mais surpreendentes fotos. Fotos que sacarão dos seus seguidores, mesmo dos mais críticos, os mais longos e surpreendentes suspiros.

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No menu mais que pratos bem elaborados, cor, criatividade e bom gosto por onde se caminha, por onde se deseja registrar mais um capitulo das suas experiências a serem compartilhadas com seus seguidores| Foto: Photo by Valéria Vicenti

E esse novo perfil mexe com o mercado, impulsiona os empreendedores locais mais antenados a agirem rápido, a transformarem seus espaços em estúdios que permitirão o seu cliente por alguns minutos ser o grande astro.

Doses cavalares de inovação no projeto de construção, decoração arrojada, cores vibrantes nas paredes, corredores misteriosos, escadas infinitas, portas incríveis, cantos secretos, lagos, barcos, azulejos que se harmonizam e presenteiam quem veio visitar com a experiência de estar e não só com a de degustar. Uma nova era? Uma tendência? Não sei! Com certeza, algo com que se deve preocupar!

De repente, um movimento, uma cena inusitada, os pratos chegando a mesa, esperando os clientes e não os clientes esperando os pratos.| Foto: Photo by Valéria Vicenti

Visitamos nestes últimos meses vários lugares que se destacavam nas mídias sociais pela sua beleza, pelo inusitado e instagramável, e nos surpreendeu em quantos desses as pessoas estavam mais preocupadas com os clicks fora da mesa do que com os clicks sobre a mesa. Quantos desses lugares as pessoas circulavam encantadas pela experiência que a ela estava sendo oferecida, e com toda normalidade, pareciam se preocupar mais com o tempo de espera para a foto nos pontos épicos do restaurante do que com o prato escolhido no cardápio. De repente, um movimento, uma cena inesperada, os pratos esperando os clientes e não clientes esperando pelos seus pratos.

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Réplica de roda gigante, pátios verdes e floridos, restaurantes que mais se parecem castelos, as mídias sociais imprimem a nova tendência, uma concorrência explícita entre pratos e locais. | Foto: Photo by Valéria Vicenti

Vilão ou herói, as mídias sociais imprimem essa nova tendência, essa concorrência explícita entre pratos e locais. O on-line, o virtual, inegavelmente presente e inevitável nas nossas vidas, impõe um ritmo diferente, uma exposição e linguagem que em excesso reverte valores, percepções, prioridades. Muda hábitos e costumes. E se você acredita que não, avalie quantas vezes no entorno da mesa rodeada de amigos nos silenciamos em prol da telinha do celular. Viu, é mais corriqueiro que a gente possa imaginar. Mas será que esse movimento terá o poder de mudar o nosso paladar?

E a gente procura o equilíbrio. Amamos um click, mas continuamos amando comida boa.| Foto: Photo by Valéria Vicenti

Reflexões que podem gerar um bate papo muito legal, sem celular em punho, em prosa, sem pressa, apreciando cada bocada da melhor comida, a comida escolhida pelo prazer de comer, de se sentar ao redor da mesa. Vamos tentar? Aceita vai ...