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Tem coisas na vida que nos fazem perder a noção do tempo, para mim, uma delas é o café da manhã. Sou apaixonada pelo café com leite quentinho, entre boa prosa, entre notícias, e claro, entre um pãozinho e outro na chapa com manteiga, que delícia. Amo padaria! No meu caso, posso afirmar, um dos mais importantes momentos do dia.
Surpresa minha, aqui na China, sinto que essa paixão é ainda mais arrebatadora. Por aqui, ditado é lei: café da manhã é de rei. E para conciliar a paixão nacional com a rotina do dia-a-dia, muitas empresas ajustam seus horários do início do trabalho para facilitar o primeiro encontro do dia da família ao redor da mesa. Privilégio imensurável, eles sabem e reconhecem isso.
E contando assim, os sentimentos e a reverência sobre o bom café nosso de cada dia, nos faz pensar, que mesmo do outro lado do mundo, tudo pode ser tão diferente, mas ainda assim, é muito igual! Mas vamos dizer, que a similaridade para por aí, no sentimental, nas palavras. A rotina, os amigos, nos apresentaram um cardápio rico, uma verdadeira refeição no cardápio de casa, ou de fora dela. A cultura milenar deste país acorda cedinho e na mesa, dá seu Bom Dia!
Sopas, macarrões, vegetais e ovos cozidos, legumes, arroz, carnes cozidas, saladas, bao bun (pão chinês cozido) recheado, tofu, algas, frutas, um cardápio que me perco só no descreve-lo. Para nós, acostumados com o café da manhã ocidental, o comparamos facinho, facinho com o nosso almoço, com o nosso jantar. E claro, acompanhado sempre de chá, ou leite de soja.
Inicialmente, não posso negar, achava estranho, torcia o nariz, olhava até mesmo indignada, e pensava com meus botões: não dá, é muita comida! E olha que sou boa de garfo. Mas aos poucos reconheci, que o real problema não era o cardápio e sim meus paradigmas. Enfrentava uma guerra mental entre títulos e ingredientes, preconceitos em torno de pratos e horários, que aos poucos, decidi que essa poderia ser uma das grandes lições do dia: olhar, provar e apreciar, sem rotular, só sentir!
Aceitar o cardápio, sem questionar a hora do dia, e sim se preocupando e aprendendo com os diferentes sabores que nos despertam para mais uma jornada, me deu a oportunidade de olhar para as outras refeições, e de passinho em passinho, tirar da teoria o ditado que ouvia desde bem pequenininha: “café de rei, almoço de príncipe, jantar de plebeu”, mas que nunca fui disciplinada para implementar. Uma grande mudança, uma reeducação alimentar, pode acreditar.
Mas vocês devem estar pensando, e como fica o pãozinho com manteiga nosso de cada dia? Surpresa! Sem conflito, o novo ganha espaço ao lado do antigo, encanta a mesa! As padarias que nos rodeiam contam com receitas encantadoras, e tanto o pãozinho francês, como a baguete, o pão de queijo, o croissant, os bolos e bolachinhas caseiras, muffins, pretzel e toda o cardápio das padarias ocidentais já podem ser encontradas por aqui. Um sucesso de bilheteria.
Durante a quarentena da Covid-19, uma grata surpresa, as padarias, além de incluírem em seus cardápios produtos exclusivos por assinatura, criações dos chefs confeiteiros, que podem ser surpresa ou não aos clientes, entregues por assinaturas semanais, quinzenais ou até mesmo mensais, também incluíram serviços de agendamento de pão quentinho. Algumas opções é a do cliente no dia anterior agendar a retirada do seu pão fresquinho, quentinho, que pode ser por serviço de entrega, se ocorrer até 30 minutos, quesito de destaque pós pandemia, ou retirada, na janela de horário da saída da fornada. Uma delícia, imagina a manteiga deslizando no pão quentinho... humm vamos parar tudo, deu uma fominha!
Assim o tradicional, os costumes milenares, vão aos poucos dando espaço ao novo, vão unindo cardápios, sabores e por que não, abrindo espaço aos diferentes povos, e para eles, inusitados ingredientes. E se eles, os mestres de cerimônia deste país estão se dando a oportunidade de olhar além dos limites de um país, de um cardápio, estão se dando a oportunidade de experimentar o novo, por que não deveria fazer o mesmo?
Então que seja assim, que a mesa e a boa comida sejam mestres, abram nossa mente e os nosso coração para o novo, sem rótulos, sem limites, mas temperado com o melhor dos sentimentos.
Até o nosso próximo encontro deste outro ladinho do mundo, desbravando um mundo muito diferente, mas as vezes muito igual!