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Neste novo mundo à nossa frente, pelas circunstâncias e riscos da pandemia, muitos conceitos, hábitos e até mesmo tradições estão sendo revistas. Estamos aprendendo que o novo, mesmo imposto, nos dá a oportunidade de sermos melhores. Nos desperta para uma necessidade de doses cavalares de empatia por dia. Nos leva ao exercício da avaliação contínua sobre a importância de praticarmos mais o verbo ser e de forma moderada o verbo ter.
Na China, como em muitos outros lugares do mundo, mesmo antes da pandemia, o desperdício de comida sempre esteve sob os holofotes, sempre esteve presente nos discursos mais fervorosos e politicamente corretos, mas agora se tornou questão de honra no país.
É hora de mudar a forma de consumir. Comida não pode ser ostentação, a comida merece respeito! O Presidente Xi Jinping em campanha nacional, apoiado pelas mídias sociais ressaltou nestes últimos dias: “Não há lugar para desperdício de comida, mesmo que a vida esteja melhorando”. Mas o que nos faz desperdiçar: o hábito, os maus costumes, o comer sem perceber? Na China, uma das respostas pode ser o resultado de colheitas abundantes em anos sucessivos, e com isso, algumas tendências indesejáveis surgiram, como "alimentação ostentosa" e "hospitalidade extravagante". Passou da hora de se mudar os hábitos!
E vamos refletir: um terço de todos os alimentos produzidos na terra, totalizando 1,3 bilhão de toneladas, é perdido ou desperdiçado a cada ano. Pelo menos uma em cada nove pessoas passam fome no mundo, segundo estatísticas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Em junho de 2020, a Organização das Nações Unidas alertou que o mundo está à beira da pior crise alimentar em 50 anos.
Ainda assim a gente leva a comida ao lixo pela validade vencida, pela compra exagerada e desnecessária, pela promoção imprescindível, por ter cozinhado mais do que seria consumido, por ter colocado no prato o desejo dos olhos, a gula, e não o “tamanho” do estomago, o tamanho da fome. E nesta tendência, não é só a terra que perde com o uso de mais agrotóxicos, mais combustíveis para entrega, mais embalagens no lixo etc, perdem as empresas com compras e estoques desnecessários, perdem os consumidores que pagam e não consomem em sua plenitude, perdemos nós quando fechamos as continhas do final do mês e notamos que gastamos mais do que o necessário, e que muitas vezes esses gastos foram pelo ralo, seguiram para o lixo. Para tudo! Neste novo mundo, não há mais espaço para uma vida compulsiva e descontrolada.
Por aqui, o presidente recebeu uma resposta entusiástica de todo o país pelo seu discurso, com o apoio explícito dos governos locais, universidades e empresas correndo para implementar regras e políticas para reduzir o desperdício de alimentos. Desenvolvendo planos e relatórios para revisar ou promulgar regras rápidas, simples, imediatas para tratar do assunto. Não dá mais para esperar! E nem deu tempo de finalizar o discurso e várias campanhas foram iniciadas. Projetos por todo o país estão sendo implementados, o primeiro sinal de um engajamento em massa, de um pensar e agir muito além do prato.
A Universidade Westlake em Hangzhou, província de Zhejiang, no leste da China, está realizando uma "campanha de limpeza do prato". No refeitório os alunos são levados a reflexão diária sobre a quantidade de comida servida em seu prato, sensibilizando os a evitarem o desperdício. O controle mais severo do número de jantares servidos, o planejamento mais inteligente do cardápio e o controle dos ingredientes também fazem parte da campanha da universidade. E seguindo as instruções do presidente Xi, a Wuhan Catering Industry Association pediu aos restaurantes da cidade que limitassem o número de pratos servidos aos clientes, implementando um sistema em que os atendentes peçam um prato a menos do que o número de clientes à mesa. A agência estatal chinesa CCTV e as redes sociais também assumiram a luta contra o desperdício. Convocaram influenciadores gastronômicos, que normalmente se filmam comendo grandes quantidades de comida e os convidaram a serem agentes de mudança, mas se assim não fizerem, encerram suas contas. Simples assim.
Slogans decoram os espaços comuns, restaurantes e refeitórios de empresas e escolas, como por exemplo: “não importa quanta riqueza tenhamos, devemos acabar com o desperdício”. E claro, para mobilizar ainda mais, alguns modelos de negócio estão incentivando o “prato limpo” com presentinhos, selos especiais, frutas. Quem não gosta de ser reconhecido?
Mas do que dependerá o sucesso desta campanha? Acredito que além da empatia, mobilização e engajamento de todos, da fiscalização, das regras claras, do olhar de todos olhando por e para todos, da reeducação em massa, do reconhecer, o penalizar deverá fazer parte desse roteiro àqueles que se negarem a enxergar a vida como ela é. Fácil? Quem diria... mas tem que começar!
Então, vamos lá, que venham as cenas dos próximos capítulos, deste outro lado do mundo, vivendo cenários e mudanças que combinam com qualquer lugar!