Desde pequena, bem pequenininha, percebia caras de repúdio quando se sugeria, mesmo de forma hipotética, a combinação do leite com manga. Então, distorcendo o antigo ditado, achei mais juízo do que sorte, evitar por anos a tão temida combinação. Talvez esse receio, essa falta de coragem em provar o que me parecia tão inusitado fosse resultado dos inúmeros “cruz credos” ouvidos a cada vez que a combinação era citada. Mas de verdade, que mal será que faz?
Sorte nossa que a gente cresce, vai perdendo um pouquinho do juízo que nos resta à mesa, vai ficando mais curiosos e arrisca! Pede ao garçom o que conhece e o que não conhece, o que gosta e as vezes o que não gosta tanto, o que consegue ler e o que não tem a mínima ideia do que possa ser, pela simples vontade de desbravar novos sabores, texturas e aromas, de conhecer mais de perto novas culinárias. No restaurante, o cardápio com pratos sugeridos pelo chef, nos levou a tirar a prova dos nove: Bórala, hoje é dia de provar na sobremesa uma receita de manga com leite.
O título, sagu de Manga&Pomelo ( 楊枝 甘露 ), se não fosse pelas pérolas de tapiocas, nada o remeteria ao sagu servido em mesas brasileiras, mas nem por isso menos delicioso. O frescor, resultado da combinação dos ingredientes de uma receita nada mirabolante, imprime sua marca. Sobremesa mais líquida que a nossa versão, com pérolas de tapioca bem menores que as conhecidas por nós, conta com a lembrança leve do leite de coco, o doce da manga, e o suave cítrico da polpa dos gominhos do pomelo salpicados pelo jarrinho que o serviu. A folhinha de hortelã, além de delicada como as perolazinhas de sagu, finalizam com charme o prato, contribui no frescor.
Reconhecida como uma receita contemporânea revigorante, o sagu de manga & pomelo, conquistou a China em meados de 1980 pelas mãos do chef Wong Wing-Chee, chegando a brilhar até no cardápio do jantar do Guia Michelin ed. Ásia 2018. Uma receita com muitos mistérios sobre sua criação. Alguns afirmam inspiração do chef, outros a farta produção de manga e pomelo na região a qual o chef trabalhava, e até mesmo, criação da receita para aproveitamento das sobras de pomelo e manga utilizada nas receitas mais tradicionais. Independente das vertentes e caminhos que a história nos leve, a conclusão é unanime: Que criação fantástica!
Então, advinha, não resisti! Depois de provar e aprovar na mesa do restaurante, preparei a sobremesa em casa. Sua receita simples e generosa nos passa confiança, nos dá a certeza que vamos acertar! E claro, acertei!
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