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A grande diferença entre realidade e redes sociais

(Foto: dlxmedia.hu/Unsplash )

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As redes sociais moldam como percebemos a realidade e o mundo, mas de forma distorcida e desproporcional. Um estudo recente de Robertson, Del Rosario e Van Bavel (Inside the Funhouse Mirror Factory: How Social Media Distorts Perceptions of Norms, 2024) revelou dados preocupantes sobre esse fenômeno: “Apenas 3% das contas nas redes sociais produzem 33% do conteúdo tóxico, enquanto 0,1% dos usuários são responsáveis por compartilhar 80% das notícias falsas”. Esses números ilustram como uma pequena parcela de usuários domina o discurso online, amplificando visões extremas que não refletem a realidade. O ambiente digital, em vez de representar a pluralidade de ideias, age como um palco onde extremos ganham os holofotes, e o centro moderado permanece nas sombras.

Os pesquisadores explicam que as redes sociais funcionam como espelhos distorcidos da realidade. As normas sociais, aquelas que definem o que é aceitável em um grupo, surgem de interações orgânicas no mundo offline. As pessoas interpretam sinais do comportamento coletivo e ajustam suas ações de acordo com essas percepções.

Ao alimentar a viralização de conteúdo polêmico, as redes incentivam a criação de um ambiente tóxico, onde a polarização é recompensada e a moderação é ignorada ou silenciada. É um modelo que mina a coesão social, substituindo debates construtivos por batalhas intermináveis de opiniões extremas

Já no ambiente digital, essa dinâmica é artificialmente moldada por uma minoria ruidosa. Essa pequena parcela utiliza a polarização e o conteúdo emocional para atrair atenção, enquanto a maioria silenciosa, composta por usuários moderados, é invisibilizada. Como afirmam os autores do estudo, “a mídia social age como um espelho de parque de diversões, exagerando e amplificando certas vozes e comportamentos, enquanto diminui outros”. Isso cria uma falsa percepção de consenso, conhecida como ignorância pluralística, na qual os usuários acreditam que as normas exageradas das redes refletem as opiniões da maioria.

Os algoritmos das plataformas desempenham um papel central nesse processo. Eles priorizam conteúdos que geram engajamento, geralmente carregados de emoção, conflito ou choque, enquanto vozes equilibradas e ponderadas recebem pouca visibilidade. Esse mecanismo cria um ciclo vicioso: usuários extremistas postam mais para ganhar atenção, o que alimenta a percepção de que suas visões são predominantes. A pluralidade de ideias e as opiniões moderadas tornam-se invisíveis ou, pior, atacadas por trolls e grupos organizados, os canceladores. Isso não apenas limita a diversidade de perspectivas online, mas também reforça divisões sociais e políticas no mundo offline.

O impacto dessa distorção vai além da esfera digital. No âmbito político, as divisões tornam-se mais profundas, porque os usuários acreditam que seus adversários possuem posições mais extremas do que realmente têm. Isso dificulta o diálogo e estimula a hostilidade entre grupos opostos.

Além disso, plataformas como o Instagram reforçam padrões irreais de beleza, levando a problemas como baixa autoestima, ansiedade e depressão, especialmente entre adolescentes. Esses jovens, ao verem conteúdo que glamouriza comportamentos de risco, como o consumo excessivo de álcool ou drogas, podem interpretar tais práticas como normais ou aceitáveis, aumentando a probabilidade de adotarem essas condutas.

Um aspecto crucial é como essa dinâmica das redes sociais afeta a maneira como compreendemos a realidade. A popularidade de narrativas extremas não se traduz em autenticidade. Pelo contrário, ela é resultado de uma economia da atenção que prioriza o choque e a emoção como forma de retenção do usuário. Ao alimentar a viralização de conteúdo polêmico, as redes incentivam a criação de um ambiente tóxico, onde a polarização é recompensada e a moderação é ignorada ou silenciada. É um modelo que mina a coesão social, substituindo debates construtivos por batalhas intermináveis de opiniões extremas.

A solução para esse problema é frequentemente simplificada com sugestões de censura ou regulação de conteúdo. Contudo, essas medidas não enfrentam a raiz do fenômeno. Regular ou proibir certos tipos de discurso pode até reduzir a visibilidade de conteúdos nocivos, mas não resolve a estrutura sistêmica que incentiva e promove comportamentos extremos. Além disso e mais importante, a tentação da restrição frequentemente conduz à censura sistemática e a uma escalada de autoritarismo.

Segundo o estudo, “resolver esse problema exige mudanças nos níveis individual e sistêmico”. Isso inclui tanto a reformulação dos algoritmos que priorizam o engajamento como a conscientização dos usuários sobre como as redes distorcem suas percepções.

Mudanças estruturais nas plataformas poderiam incluir maior transparência sobre como os algoritmos operam e um esforço ativo para promover conteúdos mais equilibrados. Isso não significa censurar opiniões, mas garantir que a moderação tenha espaço igual ao das extremidades do espectro ideológico. Paralelamente, os usuários das redes sociais devem ser incentivados a adotar uma postura crítica, reconhecendo que aquilo que veem online raramente representa a realidade como um todo. Educar o público sobre como as redes sociais manipulam a percepção é essencial para mitigar os efeitos dessa distorção.

Se o funcionamento das redes sociais permanecer inalterado, as distorções da realidade continuarão a crescer, agravando as divisões políticas e sociais e perpetuando normas irreais que corroem o bem-estar individual e coletivo. As plataformas precisam assumir responsabilidade pelo impacto que causam, enquanto os usuários devem repensar sua interação com esses ambientes.

É uma tarefa que melhoraria bastante o acirramento social. Infelizmente, nada disso parece ter lugar numa sociedade cada vez mais viciada em internet e tretas, onde os arroubos autoritários fazem muito sucesso.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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