Esta semana o Brasil ficou chocado com uma tragédia que jamais vamos entender. Um menino de 13 anos de idade, aluno da 8ª série, levou uma faca à escola com a intenção de cometer assassinatos. Matou uma professora. Feriu outras pessoas. Não tem como explicar algo assim. Sabemos que existe e que está ficando mais frequente, mas não há explicações que justifiquem o ocorrido.
A primeira vez em que ouvimos falar em algo do gênero foi ainda no século passado, 1999. O massacre numa escola em Columbine, nos Estados Unidos, cometido por dois adolescentes. Ali era mais que um tiroteio, eles tinham bombas para afastar as autoridades. Isso envolveu carros-bomba, quase 100 explosivos em lugares estratégicos e o uso do propano da cozinha para fazer uma bomba. Mataram 12 pessoas, feriram mais de 20 e depois cometeram suicídio em uma biblioteca.
Atualmente, postam abertamente sobre planos para cometer assassinatos em escolas.
Os assassinos suicidas, já vindos de uma subcultura digital que idolatrava a morte, viraram grandes ídolos mundiais nesse nicho. Tudo começa com um site feito pelos dois para colocar mapas do game Doom, que eles jogavam. Depois, começam a colocar pensamentos livres e piadinhas no meio dos mapas. Então, a coisa degringola completamente. Eram dois meninos com ódio da sociedade que começaram a fazer manuais de como prejudicar pessoas, causar prejuízos, montar bombas. Então começa o que até hoje existe e faz sucesso, as postagens com fantasias violentas envolvendo pessoas conhecidas.
Ao mesmo tempo em que postam sobre armas, dizem que estão construindo bombas e que querem fazer um ataque, colocam ali suas fantasias mórbidas do que fariam com professores e colegas de escola. A mãe de um colega dos dois, frequentador do site, viu o conteúdo e resolveu ir até a polícia. Isso foi um ano antes do ataque. Nada foi feito.
A maioria tem no nickname do Twitter ou Instagram o nome Taucci, sobrenome do assassino suicida de Suzano.
Os assassinos de Columbine viraram ídolos em fóruns de conversas da deep web, uma parte da internet que não é acessível aos navegadores que usamos. Ali, no mundo todo, jovens sem propósitos e com ódio da sociedade falavam dos assassinos como heróis. Isso inicia uma subcultura com um conjunto de valores próprios, muito atraente para adolescentes problemáticos. Assim como no site inicial, é uma situação intrincada. A grande maioria dos frequentadores desses fóruns tem a fantasia mórbida de imaginar como seria assassinar os outros. Sente prazer falando disso, trocando fotos de corpos ou vídeos de assassinatos. Mas ali no meio também tem quem queira levar essa fantasia para a realidade.
Aqui no Brasil, um grupo desses acabou sendo o celeiro de preparação para o Massacre de Suzano. Os assassinos diziam claramente que tinham o objetivo de superar o número de mortes de Columbine. Como já estavam inseridos nessa subcultura e nessa competição, acabaram mais famosos do que os autores dos outros nove massacres escolares ocorridos no Brasil antes daquele, em 2019. Eles não conseguiram superar o número de mortos. Mataram 8 pessoas e então um dos assassinos matou o outro e então cometeu suicídio.
O suicida é quem se tornou aqui no Brasil o grande ídolo dessa subcultura que fantasia diariamente sobre massacres em escolas. A máscara que ele usava, de caveira com gola, virou uma marca dos admiradores. Muitos começaram a postar vídeos com essas máscaras em redes sociais abertas, não mais nos fóruns da deep web. No início não falavam em assassinato, mas em desobediência civil. Contam vantagem, posam de agressivos, às vezes fingem militar politicamente.
Temos de cuidar dos filhos que estão quietos em casa da mesma forma que os preparamos para sair sozinhos na rua.
Atualmente, postam abertamente sobre planos para cometer assassinatos em escolas. A maioria tem no nickname do Twitter ou Instagram o nome Taucci, sobrenome do assassino suicida de Suzano. É o caso do assassino desta semana aqui em São Paulo. Ele usou a mesma máscara de caveira, tinha o nome de Taucci no nickname do Twitter e falou abertamente o que pretendia fazer e como. Ninguém impediu? Não. E há dezenas de outros nesse momento fazendo a mesma coisa.
Veja algumas frases que estão no ar neste momento:
“Parece que tem pessoas que pararam de postar edit de massacres, polícias estão investigando o twitter. Pessoas estão excluindo contas com medo. Estou normal até agora. Se me pegarem não irá acontecer nada.”
“Imagina fazer um m4ss4cr3 escutando essa música kkkk, perfeito cara... M4tar cada infeliz, no ritmo da música ????”
“cada dia chegando mais perto pra mim coloca meu plano rm ação…”
“Estamos em tempo sangrentos, vai acontecer várias mortes. Está chegando aniversário de Columbine até lá vai ter muitos atentados em escola isso nunca irá acabar.”
“Melhor morrer como herói, do q viver e não significa nada p alguem”
“Já está tudo planejado, máscaras, luvas... Só falta armamento.”
“no dia que for acontecer, vou foca só nas meninas, nos homen já sofrem d+”
“Quero minhas edites depois em! Kkkk mesmo não vendo elas.”
Edits são vídeos editados, muito famosos entre gamers por razões completamente diferentes. Eles editam as cenas mais emocionantes dos jogos para mostrar aos amigos e postar nas redes sociais. Na subcultura de idolatria de massacres, um dos passatempos preferidos é fazer edits de tiroteios em escolas. Antes, isso era postado na deep web. Agora, você encontra facilmente no Twitter e Instagram.
Todas as frases de adoradores de massacre que eu uso aqui foram tiradas de redes abertas e contas abertas, que estão há meses no ar. Todas elas têm vídeos dos donos das contas usando as máscaras de caveira e também infindáveis edições – ou edits – de massacres em escolas, algumas sonorizadas com música.
Como saber quais dessas contas realmente são de pessoas planejando assassinatos e quantas são de gente maldosa, doente, desencaminhada ou espírito de porco?
É uma comunidade tão cruel que já está fazendo edições ridicularizando o assassino desta semana em São Paulo. Dizem que ele é ridículo e fez errado, matou uma pessoa só de idade avançada e não conseguiu se matar. Como usava a máscara do assassino de Suzano, fazem a comparação. Há vários vídeos intercalando imagens do massacre de Suzano e da ação do assassino de São Paulo. Eles idolatram a figura de Taucci e dizem que a última tragédia é uma piada. A foto do assassino de 13 anos dentro da viatura está em todos esses vídeos e contas.
Como saber quais dessas contas realmente são de pessoas planejando assassinatos e quantas são de gente maldosa, doente, desencaminhada ou espírito de porco? Certeza total não é possível, mas já há investigações sofisticadas e avançadas nesse sentido. Vários atentados em escolas brasileiras já foram evitados devido à ação das autoridades brasileiras, estaduais e federais, em trabalho conjunto com autoridades internacionais. São casos muito menos divulgados, mas importantes.
Os dois principais sinais de alerta são usar o nome Taucci nos nicknames e a máscara de caveira.
Pais e professores podem estar atentos aos símbolos dessa subcultura dos adoradores de massacres escolares. Não quer dizer que a criança que usou o símbolo, entrou no fórum ou disse que quer matar alguém realmente vai fazer isso. Mas quer dizer que ela está sendo capturada por essa subcultura.
Os dois principais sinais de proximidade são usar o nome Taucci nos nicknames e a máscara de caveira. Usam Taucci3895239825, FulanoTaucci ou algo do gênero em contas que não falam de assassinatos, contas normais. A máscara de caveira também está em diversas fotos de contas normais, em eventos com amigos, sem falar de assassinatos. É muito provável que quem usa esses símbolos saiba do que se trata, mas também é possível que não, que esteja apenas copiando aqueles de quem deseja se aproximar. A única certeza é de que teve contato com essa subcultura e há alguma atração.
Esse universo orbita também em torno de games, anime e neonazismo. Na área de anime, são especialmente fãs de personagens femininas infantilizadas e os meninos se representam como heróis fortes, quase sempre assassinos. O neonazismo não aparece propriamente como teoria, mas é muito forte como simbolismo. Há figurinhas de todo tipo com símbolos nazistas.
Jovens problemáticos, sem propósito e sem sensação de pertencimento a algo sempre foram alvos preferenciais de todo tipo de grupos criminosos e perversos, inclusive terroristas. A diferença agora é que esse pessoal entrou pela porta de casa via internet. Temos de cuidar dos filhos que estão quietos em casa da mesma forma que os preparamos para sair sozinhos na rua.
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