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Combate à pedofilia: Operação Terabyte da Polícia Federal prende 61 e resgata uma vítima

Vício em pornografia é mais fácil de alimentar e mais difícil de reconhecer e tratar.
Imagem ilustrativa. (Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney)

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O debate nacional sobre internet e crime acabou ficando centrado no que pessoas falam, principalmente no debate político. Não há dúvidas de que é um tema importantíssimo. No entanto, quando falamos de malignidade e perversidade, outro crime cibernético chama a atenção: abuso sexual de criança ou adolescente.

É urgente a necessidade de conscientizar as pessoas sobre esse tipo de crime, muitas vezes silencioso e insidioso. Quando feito pela internet, o criminoso pode entrar no quarto da criança sem passar pelos pais. Em boa parte das vezes, os pais da vítima são surpreendidos pela polícia, não faziam ideia do que a filha ou filho estavam sofrendo.

Há um mercado gigantesco de produção e distribuição de imagens pornográficas com crianças e adolescentes. Combater essa indústria e prender os culpados tem sido um trabalho importantíssimo feito por policiais brasileiros qualificados, em coordenação com polícias de outros países. É muito comum que esses criminosos organizem redes internacionais.

Na última quarta-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Terabyte nos 27 estados da Federação. Percebam com que tipo de criminoso estão lidando. O nome da operação é o mesmo da unidade de armazenamento de dados cibernéticos que equivale a 1 mil gigabytes. Foi escolhido porque os alvos são primordialmente indivíduos que armazenam ou trafegam grande quantidade de material de abuso sexual infantil.

É importante notar que aqui não falamos somente de vídeos ou fotos pornográficos do tipo tradicional no qual são incluídas crianças. Essa indústria macabra se diversificou com a chegada de mais meios de comunicação digital. Nós, adultos, às vezes sequer imaginamos o nível de perversidade a que esses criminosos podem chegar e como falhamos em fechar as portas para a ação deles.

Creio que recorrer a exemplos é a melhor forma de ilustrar. Os que cito aqui são contados pela jornalista Carla Albuquerque ao humorista Mauricio Meirelles no programa Achismos. Ela tem sido incansável no combate a esses criminosos, tanto fazendo denúncias quanto esclarecendo a população.

Uma menina começa um namoro virtual com um menino. Aparentemente inocente, se conversam à distância. Um dia, ele a convence a mandar uma foto mais sensual. A coisa muda. Ele fica agressivo e ameaça distribuir essa foto a todos os contatos da rede social dela, incluindo a família. Ou colocar no servidor do Discord onde os dois participam para jogar videogame.

Desgraçadamente, muitas crianças e adolescentes nessa situação preferem fazer o que o criminoso ordenar a contar para a família. Isso se deve a vários fatores. Falta de diálogo é o primeiro que vem à cabeça, mas não é o único. Há um pânico da difamação em massa pelo meio virtual, que não pode ser revertida. Não adianta nem mudar de cidade, onde a pessoa for a difamação acompanha. Outro problema é os pais não entenderem a dimensão daquilo e imaginarem que basta sair da internet para tudo sumir. Não some, não há dois mundos, um real e outro virtual. É um mundo só.

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Em alguns casos, depois de chantagear, o criminoso consegue que a vítima dê todas as senhas e credenciais de redes sociais e WhatsApp. Usa isso para deixar a vítima ainda mais dependente. Pede mais fotos ou vídeos sensuais. Se a vítima nega, agora tem meios de acabar com a reputação dela ainda mais.

Há casos em que a vítima é convencida a abrir a câmera em um servidor de Discord, onde é vista por diversas pessoas convidadas pelo criminoso. Pedem a ela que faça atos sexuais e introduza objetos nos órgãos genitais. O tempo todo ridicularizam, riem, debocham, xingam. Tudo é gravado, a violência escala ainda mais.

Outra prática comum dos criminosos é marcar a víitima para satisfazer o ego. Carla Albuquerque relata transmissões com meninas novas, de 12 ou 13 anos, que além de serem coagidas a fazer atos sexuais são induzidas a se cortar marcando na pele o nickname virtual do criminoso ou do grupo formado por ele.

Em um dos casos, a vítima chegou a pegar um carro de aplicativo e sair da cidade no interior para encontrar o criminoso em São Paulo. A família viu, tentou interceptar o carro de aplicativo de todas as formas e não conseguiu. Ela chegou a uma casa onde havia vários homens, foi dopada e estuprada por dias. Havia outras meninas lá, na mesma condição.

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Tudo o que ocorre é filmado e esse material vale dinheiro. Passa a ser comercializado no submundo virtual. Pouco se fala dessa dinâmica macabra, que pode chegar a qualquer casa. Começa como algo inocente, uma aproximação de amigos ou romance e escala aos poucos até o inimaginável.

Quando falo disso, muita gente fica apavorada pensando que ninguém está fazendo nada a respeito. É porque falamos pouco disso, mas tem muita gente fazendo. E, felizmente, muitos desses monstros estão indo para o lugar em que merecem estar, a cadeia.

Foi o que ocorreu na última quarta-feira.

A Justiça expediu 145 mandados de busca e apreensão de material com abuso sexual infantil e adolescente armazenado de forma digital. Foi uma operação simultânea em todos os estados brasileiros, envolvendo 542 policiais federais e 216 policiais civis. Eles trabalharam em conjunto com a Agência de Investigação Interna (Homeland Security Investigations – HSI), da Embaixada dos Estados Unidos. Foram instaurados 139 inquéritos policiais, 61 pessoas foram presas em flagrante e uma vítima foi resgatada.

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Pouca gente sabe, mas existe na Polícia Federal uma Coordenação de Repressão aos Crimes Cibernéticos Relacionados ao Abuso Sexual Infantojuvenil. É um departamento inteiro dedicado a identificar e prender esses criminosos digitais. Entre dezembro do ano passado e agosto deste anos, já foram cumpridos 1291 mandados de busca e apreensão de abusadores sexuais de crianças e adolescentes.

Reproduzo aqui uma mensagem importante das autoridades policiais na última operação: “A Polícia Federal alerta aos pais e responsáveis sobre a importância de monitorar e orientar seus filhos no mundo virtual e físico, protegendo-os dos riscos de abusos sexuais. A prevenção é fundamental para garantir a segurança e o bem-estar das crianças e adolescentes”.

Se você é pai ou mãe e está lendo isso, provavelmente terá a mesma reação que eu ao saber pela primeira vez desse universo: queria tirar meu filho da internet para sempre. Pensei em ir para o meio do mato, onde não tem sinal, blindar do mundo. Ocorre que não é possível e, caso fosse, não seria justo.

A internet traz um mundo de possibilidades de evolução pessoal e profissional, é um meio incrível para aprendizado, nos possibilita conexões com pessoas interessantes, pode melhorar nossa experiência humana. Como tudo o que é humano, tem o lado bom e o ruim.

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Antes nossa preocupação é quando os filhos estavam na rua, em casa ficavam seguros. Agora a rua está no quarto deles, no celular que eles carregam para todo canto. Conhecer, obter informação e, sobretudo, manter o diálogo aberto é fundamental.

Minha geração era alertada sobre os perigos nas ruas. Não deveríamos entrar em carros de estranhos, tomar bebidas oferecidas por desconhecidos, ir sozinhos a lugares novos. A nova geração precisa aprender a não confiar em quem parece bonzinho, não trocar imagens íntimas nem com conhecido e, se cometer esses erros, a recorrer à família, que precisa ser um porto seguro, não um carrasco.

Caso você saiba de algum caso de abuso sexual cibernético ou de pessoa que armazena ou transmite imagens desse tipo, é possível denunciar online por este link: https://apps.pf.gov.br/r/comunicapf/comunicapf/pagina-inicial?session=1731948468976

O sistema Comunica PF recebe todo tipo de denúncia que seja da alçada da Polícia Federal, incluindo o abuso sexual de crianças e adolescentes em ambiente cibernético.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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