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Houve diferença de tratamento nos problemas de Twitter e Facebook após Elon Musk

Elon Musk e Twitter
Elon Musk, bilionário sul-africano radicado nos Estados Unidos, pagou 44 bilhões de dólares pelo Twitter. (Foto: Bigstock / sergei_elagin)

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Elon Musk finalmente assumiu o Twitter e, como era de se esperar, enfrenta uma revolta interna na empresa. A compra da rede social foi feita de forma bastante ruidosa e com o objetivo declarado de mudar a cultura. Problemas com a equipe já eram esperados. Se somarmos à equação o temperamento do bilionário, seu estilo de gerenciamento e a forma absolutamente pública como tudo tem sido feito, é a receita perfeita para muita confusão. À parte disso, temos a questão ideológica. Elon Musk sempre se posicionou publicamente contra o identitarismo e as políticas de controle de conteúdo de todas as redes sociais. São políticas amplamente apoiadas pela mídia internacional.

O Facebook também promove o mesmo tipo de controle de conteúdo e incentivo da privatização da militância, em que todo o discurso é mediado pelo capitalismo e não por instituições constituídas ou pelo interesse da sociedade civil. A ideia de controle centralizado de conteúdo como forma de manter a internet mais segura já é abraçada por muitos formadores de opinião, embora tenha se provado ineficiente para conter desinformação e radicalismo. É, no entanto, uma desculpa excelente para dar poder sobre a política – sobretudo nas democracias – a um punhado de conglomerados bilionários. A situação se agrava quando falamos de um mercado predatório como o das Big Techs, que não vive na realidade da liberdade econômica e de competição.

A ideia de controle centralizado de conteúdo como forma de manter a internet mais segura já é abraçada por muitos formadores de opinião, embora tenha se provado ineficiente para conter desinformação e radicalismo.

Há um punhado de players gigantescos, internacionais e bilionários que tentam comprar quem prometa fazer sombra no futuro. Quando não conseguem, esmagam os novos competidores. Ainda é uma questão que o mundo tenta resolver. A ideia de controle centralizado de conteúdo, com foco em derrubada de contas e posts, tem gerado políticas públicas que ameaçam a liberdade de expressão em todo o mundo. Semana passada, debatemos neste espaço casos de vários países diferentes.

A Wikimedia Foundation, ligada à Wikipedia, um projeto fundado na produção coletiva de conteúdos, está fazendo uma série de artigos mostrando suas preocupações com a consolidação da ideia de controle centralizado de conteúdo por outras empresas. Esta semana, a fundação mostrou suas preocupações com uma legislação que começa a ser feita no Reino Unido.

Ao mesmo tempo, o Twitter já começou a reverter suas políticas. As contas do acadêmico Jordan Peterson e da comediante Kathy Griffin já voltaram à ativa. Elon Musk já mostrou a intenção de colocar Donald Trump de volta na plataforma. Já houve uma enxurrada de demissões no Twitter em todo o mundo. A imprensa internacional estima que aproximadamente metade da equipe deixou a plataforma.

A mídia especializada no mercado tech trata essa movimentação em um contexto de estouro de bolha setorial. Houve um deslumbramento com a tecnologia e um investimento financeiro e de intenções nessas empresas como sendo o futuro. Agora passamos por um freio de arrumação. Segundo a análise da Futurism, por exemplo, são esperadas mais de 45 mil demissões no mercado das Big Techs.

“Embora as demissões do Twitter sob o novo proprietário, Elon Musk, tenham recebido ampla cobertura, enormes medidas de corte de pessoal em outras empresas também estão deixando suas marcas. Até o momento, o maior corte único está programado para ocorrer na Intel, com 20% da equipe enfrentando o corte, de acordo com um relatório da Bloomberg no mês passado. Com mais de 120.000 funcionários, esse número seria superior a 24.000 - embora, para ser justo, isso ainda não tenha acontecido”, diz o artigo.

A Amazon tem planos de demitir até 10 mil funcionários. O Facebook anunciou que vai demitir 45 mil pessoas. O número de demitidos no Twitter também é alto, estimado em 7500 pessoas. Lyft, Shopify e Snapchat também anunciaram demissões.

Num mercado que já enfrenta uma crise, o Facebook ainda tem de lidar com a contratação de pessoas e empresas que roubavam dados e contas de usuários mediante suborno. Você ouviu falar disso? Muito provavelmente essa seja a primeira vez.

A Insider fez vários artigos analisando o fenômeno. Um deles mostra que as demissões já eram esperadas porque, após um boom também ligado às necessidades do público durante a pandemia, o resultado das empresas não seguiu o ritmo de crescimento esperado. No entanto, o foco parece estar todo sobre o Twitter. Todas as empresas enfrentam os mesmos desafios econômicos no mundo real. O Twitter, coincidentemente, é a única que enfrenta uma mudança de visão sobre cultura do identitarismo e controle de conteúdo. Teria nascido aí a diferença de tratamento?

Aqui no Brasil já há um movimento de criação de contas na rede social indiana Koo. Muitos influencers e até veículos de comunicação apostam que a revolta dos funcionários com o estilo do novo CEO vai tirar o Twitter do ar. Existe a busca por outra solução. Em outros países, há a mesma movimentação. Muita gente publicamente aposta que o Twitter não terá condições de se manter no ar por falta de funcionários. Cada e-mail interno e cada caso específico de demissão têm ampla cobertura, sobretudo na grande mídia.

A imprensa especializada não está tão pessimista. A própria Insider já colocou na capa um artigo dizendo que a implosão do Twitter não será o drama que as pessoas estão esperando e cita ainda a situação específica do Facebook, que não tem tido a mesma cobertura. O Facebook, além de enfrentar os problemas que todas as Big Techs estão enfrentando, com questões econômicas e cortes de pessoal, ainda vive um novo escândalo de venda ilegal de dados de usuários.

O Wall Street Journal trouxe ontem um artigo muito preocupante sobre segurança de dados, mostrando o resultado de ações internas da empresa. Dezenas de pessoas foram demitidas e contratos com empresas contratadas para segurança foram encerrados. A investigação concluiu que havia tomadas impróprias de contas de usuários tanto no Facebook quanto no Instagram. Muitas vezes, isso acontecia por meio de subornos às empresas contratadas para resolver problemas desses usuários.

É, sem sombra de dúvidas, um problema muito mais crítico do que o sofrido pelas demais empresas. Num mercado que já enfrenta uma crise, o Facebook ainda tem de lidar com a contratação de pessoas e empresas que roubavam dados e contas de usuários mediante suborno. Você ouviu falar disso? Muito provavelmente essa seja a primeira vez. No entanto, você já deve ter visto um mundaréu de gente anunciando quais são seus novos perfis no Koo. Têm certeza de que o Twitter vai sair do ar.

Se isso irá acontecer, só o tempo dirá. Antes de Elon Musk, o Twitter era uma empresa cronicamente deficitária. Perdia US$ 4 milhões ao dia e uma das principais preocupações das equipes parecia ser a derrubada de posts e contas consideradas ofensivas. Uma operação tocada dessa maneira estava inevitavelmente fadada ao fracasso financeiro, que acabaria tirando a plataforma do ar. Não havia, no entanto, este temor. Ele só se instaura por consequência da mudança no comando.

Não sabemos se Elon Musk está certo ou errado na condução de suas políticas no Twitter. A ampla cobertura sobre demissões e forma de gerenciamento não foi capaz ainda de avaliar com precisão se a estrutura está ou não sob risco, são especulações. O resultado da mudança só será revelado pelo tempo. No entanto, é inegável que a cobertura da imprensa internacional é muito diferente quando a Big Tech é regida por uma ou outra postura ideológica.

No livro Transumanismo e a imagem de Deus, o autor Jacob Shatzer cita diversas vezes o ditado: “quando você tem um martelo na mão, tudo o que você vê é prego”. Talvez estejamos enredados nisso. Diante da mudança de comando do Twitter, algo muito mais importante, o estouro da bolha das Big Techs, pode ter passado despercebido simplesmente por não ser prego.

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