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Maduro agora é de direita? Entenda de onde vem essa narrativa maliciosa

(Foto: Henry Chirinos / EFE)

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, promoveu eleições fraudadas no último dia 28 de julho. A falta de legitimidade foi atestada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo Carter Center, observador internacional. Os Estados Unidos reconheceram seu oponente como vencedor após a oposição a Maduro mostrar a contagem de 80% dos boletins de urna. A Argentina seguiu no mesmo sentido. O Brasil até agora não se pronunciou sobre quem considera o vitorioso e sabemos que o presidente Lula tem fortes e antigos laços com o ditador da Venezuela.

Assim que a fraude ficou evidente, lulistas e até alguns jornalistas começaram a dizer que Nicolás Maduro é de direita. Mas o próprio Maduro gravou um vídeo dizendo que é socialista e de esquerda, como sempre foi. Entre os que distorcem o fato, dizendo que ele é de direita, surge uma tese inacreditável: esquerda seria sinônimo de democracia e direita de ditadura, uma manipulação preocupante e perigosa.

Não é à toa que se distorcem conceitos. Um exemplo claro é a chamada Democracia Popular de Processo Integral da China, a maior falsificação do conceito de democracia.

Há um documento oficial sobre o tema: "China: a democracia que funciona". Ele mostra o poder de destruição da narrativa. Em 23 páginas, o documento recorre à história política de 5 mil anos da China para legitimar o Partido Comunista como fiador da democracia. A introdução afirma que o Partido Comunista Chinês tentou todas as formas de democracia utilizadas atualmente no ocidente e elas falharam. A releitura histórica se funde com a releitura do conceito de democracia em si, criando uma mistura perversa entre o conceito de governo do povo e a ascensão social mediada por um partido que é o único garantidor da “vontade popular”.

O documento se utiliza de um enfoque moral distorcido, onde os direitos humanos são reinterpretados. Na China, afirma-se que “viver uma vida de contentamento é o direito humano supremo”. É a execução perfeita da novilíngua de George Orwell. Não basta apenas renomear o que desagrada, é preciso criar teorias morais que degradem algo valorizado na democracia. Os direitos humanos, elencados de forma objetiva numa declaração internacional, são sistematicamente atropelados pelo governo chinês, acusado diuturnamente dos mais diversos tipos de violações.

A distorção da linguagem leva à degradação da sociedade e suas instituições

A ideia de contentamento é manipulada para justificar a privação de liberdades individuais, criando uma ilusão de liberdade ao mesmo tempo em que se justifica as violações. O Partido Comunista Chinês controla a economia e a vida das pessoas com mão forte, utilizando a memória de eventos trágicos como "A Grande Fome de Mao" para sustentar sua narrativa de progresso e felicidade. Durante esse período, milhões morreram de fome devido a políticas desastrosas que regulavam o acesso a alimentos para consolidar poder.

As instituições democráticas passam por um período de descrédito no mundo todo, e a abertura de qualquer tipo de dissenso é vista pela China como oportunidade para advogar pelo conceito de “democracia de consenso”. O documento chinês fala com empolgação sobre a inexistência de partidos de oposição e promove a ideia de que um bom modelo de democracia deve construir consenso, manter a ordem e a estabilidade sociais, e inspirar positividade, enquanto persegue e silencia qualquer forma de oposição.

Martin Luther King dizia que a paz não é ausência de conflito, é presença de justiça. Este conceito é completamente subvertido no pacifismo movido pela mão forte da ditadura. A ideia é que você pode chamar de democracia se conseguir convencer as pessoas de que é democracia, mesmo num regime de partido único, cada vez mais fechado ao mundo exterior, com inúmeros mecanismos de controle social de última geração.

Esse tipo de narrativa, que redefine os conceitos de democracia e direitos humanos, pode contaminar o mundo democrático, especialmente em tempos de crises institucionais. Se cada um criar sua versão de democracia e contestar a legitimidade de todas as instituições democráticas, tudo passa ser chamado de democracia.

A narrativa maliciosa que tenta redefinir Maduro como sendo de direita é apenas mais um exemplo de como conceitos podem ser manipulados para servir a interesses específicos, mascarando a realidade e confundindo a população. Precisamos estar atentos. A distorção da linguagem leva à degradação da sociedade e suas instituições.

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