Esta história que parece inacreditável é fundamental para mostrar a crueldade e a desumanidade dos grupos terroristas financiados pelo Irã. Uma missão internacional rara e altamente complexa resultou na libertação de Fawzia Amin Saydo, uma jovem yazidi que foi sequestrada pelo Estado Islâmico há 10 anos. A operação, que contou com a colaboração de Israel, Estados Unidos, Iraque e Jordânia, trouxe a mulher de 21 anos de Gaza para a segurança de sua família no Iraque, após anos de sofrimento sob o controle de seus captores.
Fawzia foi sequestrada pelos militantes do ISIS em agosto de 2014, aos 10 anos, na sua cidade natal de Sinjar, no Iraque, juntamente com seus dois irmãos mais novos. Enquanto seus irmãos conseguiram escapar, ela foi mantida como escrava sexual, passando por anos de abuso físico e emocional. Isso mesmo, os terroristas usam meninas de 11 anos como escravas sexuais.
A trilha percorrida por Fawzia Amin Saydo durante o calvário como escrava sexual ilustra bem como os terroristas entendem as liberdades individuais e os direitos humanos. Mais que isso, desnuda o que os fundamentalistas islâmicos são capazes de fazer com mulheres
Em 2015, foi levada para Raqqa, na Síria, onde foi forçada a se casar com um palestino de 24 anos que era membro do Estado Islâmico. Fawzia deu entrevistas depois de liberta. À Voice of America (VOA), Fawzia relembra: “Ele me disse que eu tinha que dormir com ele. No terceiro dia, ele foi até uma farmácia e trouxe uma droga que adormece parte do corpo. Ele me deu a droga e eu chorei”.
Durante os anos que passou sob o domínio do Estado Islâmico, Fawzia deu à luz dois filhos. Mesmo sendo abusada repetidamente pelo marido, ela decidiu se focar em cuidar de suas crianças. Com a derrota territorial do ISIS em 2018, Fawzia perdeu contato com seu captor, que fugiu para a província de Idlib, na Síria, e foi reportado como morto no início de 2019.
Os líderes Yazidis não recebiam em seu território filhos das mulheres sequestradas com os terroristas do Estado Islâmico. Sem poder retornar à sua comunidade yazidi no Iraque, onde seus filhos não seriam aceitos, Fawzia decidiu se mudar para Gaza, em 2020, para viver com a família do marido, que continuou a abusar dela.
A situação de Fawzia em Gaza tornou-se insustentável, especialmente após os ataques do Hamas a Israel em 7 outubro do ano passado. Ela tomou a difícil decisão de fugir e buscar uma maneira de voltar para sua família no Iraque, ainda que isso significasse deixar seus filhos para trás. Steve Maman, ativista da ONG Liberation of Christian and Yazidi Children do Iraque disse que este caso foi, de longe, o mais difícil em que ele já trabalhou.
Maman, junto com uma pequena equipe de ativistas iraquianos, passou meses negociando com autoridades israelenses, jordanianas e norte-americanas para possibilitar a libertação de Fawzia. Ela foi escondida em uma casa a cerca de dois quilômetros da passagem fronteiriça de Kerem Shalom, enquanto aguardava uma decisão final de Israel. O processo de resgate foi adiado várias vezes devido à delicada relação diplomática entre Israel e o Iraque, já que o parlamento iraquiano criminalizou qualquer vínculo com Israel em 2022.
O resgate finalmente aconteceu na madrugada do último 1º de outubro, quando uma equipe não identificada a transportou para Israel em uma ambulância da ONU. De lá, Fawzia foi levada para a Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém e, posteriormente, atravessou a fronteira com a Jordânia pela Ponte Allenby. No dia seguinte, foi recebida pela embaixada iraquiana em Amã, onde documentos de viagem foram emitidos, e ela foi levada de volta a Bagdá.
A família de Fawzia aguardava ansiosamente por sua chegada. Seu irmão, Barzan, que vive na Alemanha, disse ao Voice of America que, apesar da alegria de tê-la de volta, a dor do pai, que faleceu de um ataque cardíaco dois meses antes do resgate, foi um golpe difícil de superar. “Ele morreu pela dor de estar separado dela”, declarou. Barzan também expressou sua gratidão a todos que ajudaram no resgate: “Agradecemos de coração a cada pessoa que ajudou a resgatá-la”.
O trauma de Fawzia não terminou com sua libertação. Apesar da alegria de ser reunida com sua família, ela agora enfrenta a difícil realidade de estar separada de seus filhos, que ficaram com a família do marido em Gaza. Alguns, no entanto, julgam sua decisão de deixar as crianças para trás. Há cometários como: “Nenhuma mãe deixaria seus filhos. Eles vieram de seu ventre”.
De acordo com Mirza Dinnayi, ativista yazidi baseado na Alemanha, ainda existem 2.745 yazidis desaparecidos desde o massacre do Estado Islâmico em 2014. Muitos deles podem estar em campos na Síria, como o de al-Hol, ou em áreas controladas por terroristas. Não sabemos se essas pessoas ainda estão vivas. Se estiverem, provavelmente estão em diferentes regiões da Síria controladas por terroristas.
É uma história fantástica, inspiradora e que, ao mesmo tempo mostra a complexidade das relações diplomáticas no Oriente Médio, a capacidade de compor alianças e o repúdio até de nações árabes ao terrorismo financiado pelo Irã. A trilha percorrida durante o calvário como escrava sexual ilustra bem como os terroristas entendem as liberdades individuais e os direitos humanos. Mais que isso, desnuda o que os fundamentalistas islâmicos são capazes de fazer com mulheres.
Segunda-feira, faz um ano que o Hamas cometeu o atentado terrorista contra Israel e sequestrou civis. Ainda há dezenas de reféns. Corpos de mulheres reféns já foram resgatados em situações chocantes. Uma tinha DNA de sêmen de mais de 50 homens diferentes. O corpo de outra, encontrada recentemente, pesava apenas 36 quilos.
A história de Fawzia tem todos os componentes para chamar a atenção do público. Muito curioso que tenha tido tão pouca repercussão aqui no Brasil. Por que você pensa que isso acontece? Tenho um palpite, vou guardar para mim.
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