Esta semana, a primeira-dama do Brasil, dona Janja, chegou mais uma vez aos assuntos mais comentados nas redes sociais. Foi devido a um vídeo em que ela estava num barco em Belém com uma taça na mão, suco de bacuri. Dizia, em tom de influencer lifestyle, que estava ao lado de Lula e Macron, ocupados com a gravação de um vídeo. Também falava que a COP30, em Belém, seria linda.
A reação não foi boa. Fãs do governo tentam dizer que os bolsonaristas reagiram de forma negativa, seria a intriga da oposição. Mas tem até gente que votou no Lula tirando sarro ou indignada. Belém tem problemas sociais graves e até deficiência de saneamento básico. Isso contrasta com o clima de luxo da filmagem. Este tem sido um problema recorrente na atuação da primeira-dama, a dissonância cognitiva. A fala dela não coincide com os fatos.
Janja quer destaque como primeira-dama tendo vergonha de ser primeira-dama. É uma situação delicada.
A imagem de primeira-dama empoderada é problemática por si só. Não existe. Ser primeira-dama é abrir mão dos próprios projetos para viver em função de um projeto do marido. Muitas mulheres fazem isso e têm orgulho, é um esforço comum do casal rumo a um objetivo da família.
Ruth Cardoso, feminista clássica, falava muito bem do tema. Não ficava confortável com a ideia de ser feminista e estar na posição, mas fez a escolha pensando no marido. Escolheu uma causa social para atuar durante o período, a substituição de programas de assistencialismo por transferências de renda com foco em desenvolvimento. Surge daí o Bolsa Escola. Ela é lembrada por este legado.
A dissonância cognitiva faz com que os mais radicais fiquem ainda mais fãs de Janja. É como em seitas do fim do mundo.
É muito comum que primeiras-damas abracem causas sociais. Michelle Obama, por exemplo, focou nos exercícios físicos e manutenção da saúde. Michelle Bolsonaro focou nas pessoas com deficiência. E ela é um caso diferente das declaradamente feministas, tem orgulho em ser a mulher ajudadora do marido.
Janja quer destaque como primeira-dama tendo vergonha de ser primeira-dama. É uma situação delicada. Recentemente, houve um episódio marcante em que foi nomeada por Lula, como socióloga, para fazer parte da delegação brasileira na ONU. Discursou ali pelo empoderamento feminino e pela presença da mulher nos espaços de poder em pé de igualdade. No entanto, discursou pela delegação tendo em segundo plano, na cadeira de trás, a ministra das mulheres. Não era a ministra, a mulher que conquistou o espaço, quem discursava. Era a mulher do presidente, que decidiu fazer a indicação, uma solidificação das estruturas do patriarcado.
A dissonância cognitiva faz com que os mais radicais fiquem ainda mais fãs de Janja. É como em seitas do fim do mundo. É marcada a data e o mundo não acaba. Os seguidores, em vez de rejeitar o líder, ficam ainda mais dedicados. Para eles, é mais dolorido abrir mão do sistema de crenças do que viver uma mentira. O resultado da exposição de Janja é parecido. Para os já convertidos resulta em mais aderência. No entanto, não atrai novos seguidores nem consegue reter os moderados. Parece culminar no oposto do aparentemente pretendido, a popularização.
Tudo indica que o governo Lula vai continuar promovendo Janja cada vez mais. Existe apenas uma pessoa que ganha popularidade com isso, Michelle Bolsonaro. A ex-primeira-dama, à frente do PL mulher, tem visto sua popularidade crescer. Resta saber se é justamente a insistência do PT com Janja que trará a viabilidade nas urnas.
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