No primeiro episódio do podcast Digital News Report 2024, do Instituto Reuters, publicado no site da instituição, foi discutido como o termo "fake news" evoluiu e como o público o utiliza não apenas para desinformação clara, mas também para se referir a notícias políticas da imprensa tradicional. O episódio contou com a participação de Nic Newman, autor do relatório, e Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Instituto Reuters.
A pesquisa anual do instituto revelou que muitos consumidores de notícias têm dificuldade em distinguir entre informações falsas intencionalmente criadas e notícias de que não gostam ou com as quais não concordam.
A queda da qualidade da cobertura política também é um fator importante. O foco excessivo em opiniões, em detrimento dos fatos, prejudica a credibilidade da imprensa
Esse fenômeno reflete a crescente desconfiança na mídia tradicional, especialmente no contexto das notícias políticas. Conforme destacado por Newman, "há uma tendência preocupante de o público rotular como 'fake news' qualquer cobertura jornalística com a qual não concorda, especialmente em questões políticas."
Durante o podcast, Nielsen acrescentou que essa percepção distorcida do que constitui "fake news" está alimentando a polarização e a desinformação, pois "quando as pessoas não confiam na mídia tradicional, ficam mais suscetíveis a acreditar em teorias da conspiração e informações erradas disseminadas nas redes sociais."
A pesquisa do Digital News Report 2024 mostra que essa tendência é global, com variações significativas entre diferentes países e culturas. A cobertura política, em particular, é onde o termo "fake news" é mais frequentemente aplicado de forma errônea pelo público. Essa generalização do termo mina a confiança no jornalismo sério e torna mais difícil combater a verdadeira desinformação.
A queda da qualidade da cobertura política também é um fator importante. O foco excessivo em opiniões, em detrimento dos fatos, prejudica a credibilidade da imprensa. No receituário do jornalismo, as opiniões deveriam ser o sal do prato feito de reportagens focando em fatos. Avalie o que estamos servindo ao público: muitas vezes, um prato indigesto repleto de opiniões e carente de substância factual.
Além disso, a imprensa tem uma tendência política progressista de esquerda, o que afasta ainda mais uma parte significativa do público, principalmente em países de maioria conservadora. Essa percepção de parcialidade contribui para a desconfiança geral na mídia.
No contexto brasileiro, onde a polarização política é intensa, essa dinâmica é particularmente preocupante. As campanhas de desinformação têm aproveitado essa desconfiança na mídia para promover narrativas falsas e dividir ainda mais a sociedade. Como resultado, o trabalho dos jornalistas se torna ainda mais desafiador, pois precisam navegar em um ambiente onde a credibilidade da imprensa é constantemente questionada.
A grande discussão que fica é como recuperar a confiança do público. O cenário é desafiador. Há quem creia que, se a imprensa recuperar altos padrões de precisão no noticiário, exista um caminho para que a confiança também aumente. Por outro lado, há quem argumente que o público quer ouvir quem diga o que ele já pensa, não que o faça questionar certezas.
Durante muito tempo, a imprensa foi chamada de Quarto Poder, a que vigiava os Três Poderes. A sociedade necessita ter força para cobrar os políticos, que estão se tornando cada vez mais hábeis no uso das mídias sociais e parcerias com influencers e agências. Neste cenário, resta saber que tipo de força surgirá para questionar as autoridades.
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Premiê de Assad concorda em entregar poder a rebeldes da Síria
EUA alertam que Estado Islâmico pode tentar “tirar vantagem” da situação na Síria
Segurança pública de São Paulo enaltece recorde histórico de redução de crimes
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS