Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash
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Eu já fiquei inconformada ao ver pessoas sábias, educadas ou informadas serem enganadas por predadores digitais. Existem agora diversas séries interessantes sobre o tema. Confesso que eu também já fui uma dessas vítimas e talvez você tenha sido. Quando a gente acredita em algo fantástico ou cai em um golpe, a sensação de vergonha e derrota é avassaladora. A gente tende a repassar cada momento, tentando encontrar em qual momento nosso raciocínio falhou. Só que o raciocínio não falhou.

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Nós acreditamos piamente que somos racionais e tomamos decisões racionais. Por isso temos essa sensação negativa de culpa quando somos enganados, algo que se torna frequente nessa vivência digital. Tanto a arquitetura das redes quanto o aumento da frequência dos contatos interpessoais fazem com que isso seja mais intenso e frequente. Ocorre que não somos racionais como pensamos, isso é um fato. Humanos são seres emocionais que raciocinam. Parece desesperador, não é. Nós conseguimos aprender sobre nossos vieses cognitivos e, a partir desse conhecimento, adquirimos a capacidade de tomar decisões melhores.

Sem saber quais são nossos vieses cognitivos, a gente acabe fazendo escolhas dissociadas da realidade, já que praticamente criamos uma realidade própria.

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O que são vieses cognitivos? Simplificando bastante, são atalhos mentais naturais que nos levam a desviar o raciocínio do caminho da lógica e da racionalidade. O maior talento e maior prazer do cérebro humano é criar padrões, inclusive onde não existem. Pense em algo inocente, como vemos figuras, bichos e plantas na formação das nuvens. Esse é o ponto de partida. A partir de nossas experiências pessoais, criamos padrões que distorcem nosso julgamento. É normal que, sem saber quais são nossos vieses cognitivos, a gente acabe fazendo escolhas dissociadas da realidade, já que praticamente criamos uma realidade própria.

Precisamos aprender quais são esses vieses cognitivos. Tente pesquisar, é uma lista infindável. Recentemente, dois cientistas agruparam os seis mais sensíveis para que a gente se deixe enganar por narrativas nessa era de redes sociais.

Aileen Oeberst, do departamento de Psicologia da Mídia da University of Hagen Leibniz-Institut für Wissensmedien em Tübingen e Roland Imhoff, do Departamento de Psicologia Legal e Social da Johannes Gutenberg University of Mainz, apontam que esses seis vieses são os principais para que a gente se enfie em narrativas. É um alento, já que temos agora um ponto de partida muito mais fácil para compreender nossas mentes, entender quem somos e, por consequência, evitar que sejamos enganados. Vamos a eles.

1. Minha experiência é uma referência razoável, que agrega os seguintes vieses cognitivos:

  • Efeito holofote: superestimar o quanto os outros nos percebem.
  • Ilusão de transparência: superestimar o quanto nossas questões interiores são percebidas pelos outros.
  • Falso consenso: superestimar o quanto as nossas crenças são compartilhadas por outras pessoas.
  • Projeção social: tendência de julgar os outros de acordo com nossa própria régua.
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2. Eu faço avaliações corretas sobre o mundo, que agrega dois vieses cognitivos:

  • Viés do ponto cego: crença de que só os outros sucumbem a informações enviesadas.
  • Viés da mídia hostil: o grupo tem a impressão de que toda a mídia, de forma generalizada, é partidária ao outro grupo.

3. Eu sou bom, que agrega dois vieses cognitivos:

  • Efeito do melhor que a média: superestimar a própria performance com relação à performance alheia.
  • Viés de auto-serviço: atribuir as próprias falhas aos outros mas as dos outros a eles próprios.

4. Meu grupo é uma referência razoável, que agrega dois vieses cognitivos:

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  • Viés etnocêntrico: dar precedência ou mais autoridade ao próprio grupo em vez de reconhecer a preferência.
  • Projeção sobre o grupo: percepção de que o próprio grupo provavelmente tem uma identidade superior aos demais grupos.

5. Meu grupo e os membros do meu grupo são bons, que agrega 4 vieses cognitivos:

  • Viés intragrupo ou partidário: ver o próprio grupo ou os membros do próprio grupo sob uma luz mais favorável. Por exemplo, são moralmente superiores ou menos responsáveis por causar danos aos demais.
  • Erro de atribuição final: atribuir àqueles fora do grupo a responsabilidade pelo comportamento de quem é do grupo, mas não fazer a recíproca.
  • Viés linguístico intergrupo: usar palavras mais abstratas e menos palavras concretas para descrever os comportamentos positivos e negativos dentro do grupo. Mas usar mais palavras concretas e menos abstratas para descrever comportamentos de quem não é do grupo.
  • Efeito de sensibilidade intergrupo: críticas avaliadas de forma menos defensiva quando feitas por alguém de dentro do grupo em comparação àquelas feitas por alguém de fora do grupo.

6. Os atributos das pessoas – e não o contexto – determinam os resultados, que agrupa 2 vieses:

  • Erro de atribuição fundamental ou viés de correspondência: preferir a explicação da disposição individual sobre a das circunstâncias reais quando avaliando a ação fora do grupo.
  • Viés de resultado: avaliar a qualidade da decisão de alguém somente em função do resultado, sem considerar as circunstâncias reais.
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Esses são caminhos naturais do nosso raciocínio, que fogem da realidade e prejudicam os nossos julgamentos. No frenesi das redes sociais, isso nos torna vítimas dos mais diversos tipos de predadores. Convido você à reflexão. Não podemos combater nem evitar esses padrões mentais. Devemos ter consciência que eles existem e são reais para tomarmos decisões mais justas.

A vida digital é uma novidade para nós, que temos mentes analógicas. Não é apenas uma novidade, é um caminho sem volta. Viver nesse mundo exige que a gente conheça muito mais sobre a condição humana do que sobre tecnologia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]