Gad Saad, professor de marketing e ciências comportamentais evolutivas, carrega em sua trajetória pessoal e acadêmica uma perspectiva única sobre os perigos que o tribalismo e as ideologias extremas representam para as universidades e as sociedades. Nascido no Líbano em 1964, ele cresceu em um dos últimos lares judeus do país, testemunhando de perto o sectarismo que transformou a próspera Beirute, apelidada de “Paris do Oriente Médio”, em um campo de batalha de violência sectária e ódio. Hoje, vivendo no Canadá e professor visitante nos Estados Unidos, Saad alerta que as democracias ocidentais estão reproduzindo os mesmos erros que ele viu devastarem seu país natal.
Em entrevista esta semana a Bari Weiss, jornalista e ex-editora do New York Times, Saad falou sobre os paralelos entre o colapso do Líbano e a ascensão de ideologias que, segundo ele, estão corroendo os pilares das universidades ocidentais. Com o tom incisivo que o tornou conhecido como uma das vozes mais críticas do que chama de “ideias parasíticas”, ele destacou que essas tendências não são meras disputas culturais, mas ameaças reais à racionalidade, à liberdade de expressão e à integridade do pensamento científico.
Saad argumenta que, assim como no Líbano, onde a religião determinava os direitos e privilégios dos cidadãos, o Ocidente está dividindo suas sociedades com base em marcadores de identidade como raça, gênero e orientação sexual
“Quando criança no Líbano, eu via tudo ser filtrado através da identidade religiosa. Isso era a essência do tribalismo: quem você era não importava tanto quanto o grupo ao qual você pertencia. Hoje, vejo exatamente o mesmo fenômeno nas universidades ocidentais, onde identidades superficiais como raça e gênero substituíram qualquer ideia de mérito ou valores universais”, disse Saad, conectando suas memórias da guerra civil libanesa ao que descreve como o sectarismo ideológico que domina as universidades e o ambiente acadêmico contemporâneo.
A história pessoal de Saad é um lembrete poderoso dos perigos do extremismo e das ideologias nas universidades. Ele relembrou a atmosfera de crescente hostilidade no Líbano, exemplificada por um episódio marcante de sua infância: durante uma atividade em sala de aula, um colega declarou que queria ser “matador de judeus” ao crescer, recebendo risadas e aplausos de seus companheiros. Para ele, aquele momento encapsulava como o ódio era normalizado e celebrado, um prenúncio da violência que sua família enfrentaria nos anos seguintes.
Na entrevista, Saad ressaltou que esse mesmo tribalismo é o motor por trás das “ideias parasíticas” que hoje se proliferam nas instituições ocidentais. Ele descreve essas ideias como conceitos que se apresentam como nobres, mas que, ao serem aplicados, destroem o tecido social e cultural. “Ideias como a política identitária, o relativismo cultural e o pós-modernismo se infiltraram nas universidades como parasitas. Elas destroem a razão, substituem a verdade por narrativas ideológicas e eliminam a capacidade de diálogo honesto”, explicou Saad, destacando o impacto corrosivo dessas correntes e ideologias nas universidades.
Um ponto central de sua crítica é o impacto da política identitária, que ele considera uma nova forma de tribalismo. Saad argumenta que, assim como no Líbano, onde a religião determinava os direitos e privilégios dos cidadãos, o Ocidente está dividindo suas sociedades com base em marcadores de identidade como raça, gênero e orientação sexual.
Para ele, isso não apenas mina o princípio da igualdade perante a lei, mas também fragmenta comunidades em grupos que se veem como adversários. “O que fez o Ocidente ser grande foi a transcendência dessas divisões. Mas agora, estamos regredindo para uma mentalidade de clãs, onde seu valor é determinado pela identidade com a qual você nasceu”, diz o professor.
A crise nas universidades é, na visão de Saad, um microcosmo de uma decadência cultural maior. Ele relata como a Concordia University, onde lecionou por décadas, tornou-se um ambiente hostil, dominado por antissemitismo e conformidade ideológica. O cenário o levou a buscar refúgio acadêmico nos Estados Unidos, onde atualmente é professor visitante. Para ele, o que está em jogo não é apenas a integridade do ensino superior, mas o futuro da civilização ocidental como um todo.
Saad também criticou a cultura do cancelamento, que ele vê como uma extensão natural das ideias parasíticas. Segundo ele, essa prática não é apenas uma ferramenta de silenciamento, mas um reflexo da recusa em permitir o dissenso e o debate aberto. “O cancelamento não é apenas uma censura, é uma forma de controle social. Ele garante que apenas uma visão de mundo seja permitida, e isso é o oposto do que as universidades deveriam representar”, afirmou, reforçando a necessidade de resistir a essas tendências.
Embora seu diagnóstico seja sombrio, Saad acredita que a reversão ainda é possível. Ele defende que a sociedade ocidental deve resgatar valores fundamentais, como a liberdade de expressão, o pensamento crítico e o compromisso com a verdade objetiva. Para ele, isso exige coragem para desafiar o status quo e as ideologias um esforço coletivo para reconstruir a integridade intelectual das universidades.
A entrevista de Gad Saad com Bari Weiss não foi apenas um mergulho em memórias de um passado conturbado, mas um alerta sobre os rumos que o Ocidente está tomando. Sua experiência como sobrevivente da guerra civil libanesa e observador atento da decadência acadêmica o torna uma voz única e necessária em tempos de crescente polarização.
Para Saad, o maior perigo é a complacência. “A história mostrou repetidamente que ideias ruins têm consequências reais. Se o Ocidente não despertar para os perigos das ideias parasíticas, ele estará caminhando voluntariamente para sua própria destruição”, conclui. Um belo recado para todos nós.
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