Richard Bilkszto foi alvo de uma perseguição nas redes e no local de trabalho, apontado como supremacista branco, algo que nunca foi, e suicidou-se em 13 de julho.| Foto: Reprodução/TVO
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Ideologia woke mata? Essa questão foi repetida sem parar na internet após o suicídio do professor canadense Richard Bilkszto, de 60 anos de idade. Ele sofreu bullying sistemático e assassinato de reputação após fazer um questionamento em uma aula de educação antirracista. Agora o governo canadense diz que vai investigar por que as diversas queixas dele relacionadas a assédio sistemático foram solenemente ignoradas. Um tanto tarde demais. Obviamente não se pode dizer que o suicídio, algo misterioso e extremamente complexo, está diretamente relacionado à perseguição. Mas é óbvio que a perseguição e a permissividade das autoridades não ajudaram em nada.

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O Ministério da Educação do Canadá resolveu fazer o que muitas empresas têm feito: contratar para treinamentos antirracistas quem não tem absolutamente nenhum trabalho prático para apresentar na área. São pessoas que falam da temática de forma hiperbólica e atuam nas redes e na imprensa, não raro por meio de bullying. Assim ganham fama e acabam sendo contratadas.

Richard Bilkszto passou a ser alvo de uma perseguição implacável nas redes e no local de trabalho, apontado como supremacista branco, algo que nunca foi.

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Muita gente pensa que, se bem não faz, também não faz mal. Afinal, mesmo que sejam pessoas com comportamento tóxico, estão falando de algo bom, conceitos contra o racismo. Ocorre que não estão. Ao propor soluções simplistas para problemas complexos, impedem que eles sejam resolvidos. E obviamente trazem consigo todos os efeitos colaterais que a presença de praticantes de bullying tem em grupos humanos.

O caso de Richard Bilkszto é especialmente triste porque poderia ter sido resolvido ali mesmo no evento do treinamento, de forma civilizada. Não foi porque o método para propagação da ideologia woke é a demonização, bullying e cancelamento.

Durante o treinamento antirracismo, os professores canadenses aprendiam uma fake news para valorizar o trabalho da consultoria. Era dito que o racismo canadense sempre foi pior que o norte-americano. Richard Bilkszto contestou a treinadora. Lembrou que os Estados Unidos tiveram efetivamente um processo legal de segregação racial. São fatos. A treinadora desprezou os fatos e partiu para a imaginação, moralização e assassinato de reputação. São os métodos que vemos diariamente nas redes sociais. Claro que todos esses anjos garantem só fazer isso pelo bem, mas cada vez fica mais cristalino que é apenas pelo bem do próprio bolso e da própria imagem.

É preciso parar de premiar pessoas e movimentos que tratam seres humanos como alvos ou efeitos colaterais.

O argumento é que o Canadá teria uma história mais racista porque não teve de enfrentar fatos como a segregação racial dos Estados Unidos, então não discute o tema. Num mundo normal, quem apresenta esse argumento jamais treinaria pessoas contra o racismo. Achar que segregação racial é menos grave que a realidade do Canadá parece bem racista.

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Parecia ter ficado por aí. Mas vocês conhecem a patrulha nas redes, imaginem com poder, dinheiro e plateia. A educadora antirracista passou a atacar sistematicamente Richard Bilkszto, que passou a ser apontado como exemplo de racismo e supremacia branca. Claro que isso atiça toda a patrulha woke. São os famosos “flanelinhas de minoria”, que fingem defender alguém para poder agredir sem sofrer as consequências sociais pelos próprios atos. Richard Bilkszto passou a ser alvo de uma perseguição implacável nas redes e no local de trabalho, sempre apontado como supremacista branco, algo que nunca foi.

O professor chegou a fazer reclamações oficiais, que jamais foram respondidas. Isso deveria abrir os olhos de autoridades em todo o mundo. Muitos ainda tratam esses casos como uma simples ofensa ou o dito pelo não dito. Perseguições em forma de bullying sistemático e assassinato de reputação vão além disso e as autoridades precisam começar a enxergar o que realmente ocorre.

Há uma confusão entre assédio sistemático e intimidação, algo que já faz parte do dia a dia, com liberdade de expressão. Nesse caso, no Canadá, provavelmente é o que ocorreu. Como o professor apresenta declarações contra ele, as autoridades tendem a analisar se aquela declaração em si viola ou não direitos. Não vê, no entanto, a nuvem de bullying e as consequências reais do tsunami de respostas, repostagens e assédio direcionado.

Kevin Spacey está aí, inocentado de todas as acusações de assédio sexual. Quem vai pagar pelo cancelamento? O caso de Richard Bilkszto não tem nem como ser reparado.

O ministro da educação de Ontário, Stephen Lecce, reviu as reclamações de Richard Bilkszto. Disse que elas eram sérias e perturbadores. Pediu para sua equipe uma reforma completa no treinamento profissional para que casos como esse jamais ocorram outra vez. "Esse incidente trágico apenas ressalta a necessidade de maior responsabilização dos conselhos escolares e a necessidade de garantir que o treinamento profissional esteja livre de assédio e intimidação", afirmou o ministro em comunicado.

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Durante o processo, houve decisões favoráveis ao professor, que chegou a atuar como diretor escolar. Se reconheceu que ele sofria assédio e bullying, que foi pego como exemplo para que ninguém mais questionasse os treinamentos. Ainda assim, os treinamentos continuaram e ele não. Depois de meses de assédio sistemático, tendo sua reputação destruída como se fosse um supremacista branco, ele teve uma licença de saúde. Não foi reintegrado na volta, se aposentou. Diagnosticado com ansiedade e insônia crônica, cometeu suicídio no último dia 13 de julho.

Muito mais do que lutar contra os métodos utilizados pelos flanelinhas de minoria, temos de parar de premiar essas práticas.

Sempre houve gente que assedia os outros e sempre houve bullying. A diferença agora está em dois pontos específicos. O primeiro é que toda a ideologia woke tem servido de justificativa para essas práticas condenáveis. O outro é o quando a hipercomunicação potencializa o assédio e o torna mais invasivo.

Muita gente tem se colocado contra esses métodos, mas ainda há uma dispersão em bolhas. Sempre acreditamos que isso só ocorre no grupo oposto. Pessoas com prazeres perversos são mais espertas, se infiltram em todo tipo de grupo. É por isso que não podemos permitir, principalmente nos nossos grupos, a atuação com assédio sistemático e bullying. Quem faz precisa encontrar limites rápido ou toma todo o grupo.

No caso da ideologia woke, já temos neste mês dois casos graves. Kevin Spacey está aí, inocentado de todas as acusações de assédio sexual. Quem vai pagar pelo cancelamento? O caso de Richard Bilkszto não tem nem como ser reparado.

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Muito mais do que lutar contra os métodos utilizados pelos flanelinhas de minoria, temos de parar de premiar essas práticas. É a primeira coisa. Quem assedia e faz bullying tem sido recompensado com a leniência dos poderes estabelecidos e recompensas das empresas. Com medo do cancelamento, muitas premiam essas personalidades tóxicas. É preciso parar de premiar pessoas e movimentos que tratam seres humanos como alvos ou efeitos colaterais. Está mais que claro que não farão nenhuma inclusão.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]