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Imagem ilustrativa.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Você já parou para pensar o que aconteceria se uma tribo isolada, sem qualquer contato com a tecnologia moderna, tivesse acesso à internet? A curiosidade é natural, mas a realidade dessa experiência pode ser surpreendente e, em muitos aspectos, preocupante.

Recentemente, a tribo Marubo, situada no coração da Amazônia, teve a oportunidade de conectar-se ao mundo digital graças ao satélite Starlink, de Elon Musk. A reportagem do New York Times foi até o lugar conversar com os membros da tribo e revelou que essa introdução ao mundo online trouxe mudanças drásticas, para o bem e para o mal.

Inicialmente, a alegria e a empolgação tomaram conta. Jovens passaram a explorar redes sociais, assistir a jogos de futebol ao vivo e até mesmo jogar videogames. Contudo, logo surgiram problemas. Tsainama Marubo, de 73 anos, expressou preocupações: “Quando chegou, todos ficaram felizes. Mas agora, as coisas pioraram“.

O acesso à internet trouxe consigo hábitos antes inexistentes, como a disseminação de vídeos pornográficos, um tabu cultural para os Marubo, onde até beijar em público é visto com maus olhos. Alfredo Marubo, líder de uma associação da tribo, teme que os jovens queiram imitar o que veem nesses vídeos. “Todo mundo está tão conectado que às vezes nem conversam com a própria família“, lamenta Alfredo.

Além disso, a internet começou a isolar os jovens de seus próprios familiares. Em vez de socializarem da maneira tradicional, muitos preferem passar o tempo nas redes sociais, trocando interações reais por virtuais. "As conversas ao redor da fogueira, os ensinamentos dos mais velhos, tudo isso está sendo substituído por uma tela brilhante", comenta Alfredo. Isso preocupa os líderes da tribo, pois a cultura e a história dos Marubo sempre foram passadas oralmente, de geração em geração.

Entretanto, a internet também trouxe benefícios indiscutíveis. A comunicação instantânea facilitou a coordenação entre as vilas e o contato com autoridades locais, abrindo novas oportunidades de emprego e, em alguns casos, até salvando vidas. Enoque Marubo destacou a importância do recurso em emergências, como em casos de picadas de cobra que exigem tratamento médico imediato. “Conseguir ajuda médica rápida pode fazer a diferença entre a vida e a morte“, afirmou ao jornal norte-americano.

Apesar dos desafios, a liderança da tribo reconhece que não pode mais viver sem a internet. Eles implementaram janelas de tempo para o uso da conexão, tentando balancear os prós e contras dessa nova realidade. Existe uma busca pelo equilíbrio, desfrutar dos benefícios da tecnologia sem perder a identidade cultural.

O que aconteceu com a tribo Marubo ao entrar na internet é um microcosmo da experiência humana global com a tecnologia. A internet tem o poder de conectar e dividir, educar e distrair, salvar e corromper. A interação humana, moldada por milhões de anos de evolução, está agora à mercê de algoritmos que priorizam o engajamento acima de tudo.

A experiência dos Marubo reflete nossa própria luta com a internet. Todos nós, de certa forma, enfrentamos os mesmos desafios: a tentação da negatividade, o apelo do extremismo, a atração pelo conflito e a sedução do falso moralismo. A verdadeira questão é como podemos usar essa poderosa ferramenta para o bem, promovendo conexões significativas e um entendimento mais profundo.

Ao observarmos os impactos da internet na tribo Marubo, vemos um reflexo de nossa própria sociedade. A tecnologia, que tem o potencial de nos aproximar, muitas vezes nos afasta de nossas raízes culturais e familiares.

Nosso comportamento na internet é um espelho da nossa natureza humana. Temos a capacidade de fazer escolhas conscientes que podem nos levar a um diálogo mais construtivo e a uma sociedade mais unida. Também podemos fazer exatamente o oposto.

A questão do vício em pornografia não pode ser ignorada. O fácil acesso e a vasta quantidade de conteúdo pornográfico na internet têm levado a um aumento no consumo. Isso não só causa desequilíbrio nas relações pessoais, mas também contribui para a normalização de comportamentos sexuais violentos ou promíscuos. A influência de tais conteúdos pode distorcer a percepção da sexualidade saudável e afetar profundamente o desenvolvimento emocional dos jovens.

Nosso comportamento na internet é um espelho da nossa natureza humana. As tentações para uma tribo da Amazônia são as mesmas que seduzem os moradores das maiores metrópoles do mundo. O grande desafio é ter disciplina para domar diariamente a porção sombria da alma. O grande objetivo é encontrar o equilíbrio entre o progresso tecnológico e a preservação dos valores e laços humanos essenciais. Infelizmente, ele não dá tanto prazer imediato quanto cair nas tentações.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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