O repórter Dave McNary, da Variety, escreveu um artigo interessante nesta semana. Ele traz à tona mais um estudo acadêmico que se propõe a discutir a influência da violência nos filmes norteamericanos sobre o comportamento de crianças e adolescentes. O estudo, lançado na última segunda-feira, foi produzido por pesquisadores da The Annenberg Public Policy Center da University of Pennsylvania.
A metodologia utilizada é interessante, embora não permita uma ligação direta com o efeito que a violência exerce sobre os espectadores. Os pesquisadores assistiram aos filmes com maior bilheteria nos últimos 25 anos (de 1985 a 2010) e concluíram que, em 90% dessas produções, os protagonistas agem com violência e, em 77% dos filmes, esses personagens também estão envolvidos com sexo e uso de álcool e cigarro. O estudo foi publicado na revista especializada Pediatrics deste mês. Aqui, em uma notícia da própria universidade, é possível ter mais detalhes sobre a pesquisa (em inglês).
O estudo vai além e mostra que, mesmo os filmes com censura para crianças mas liberados para adolescentes, os chamados PG-13, mostram tanta violência quanto aqueles que são classificados para serem assistidos somente por espectadores com mais de 18 anos. Neste caso, cerca de metade destes filmes apresenta os protagonistas envolvidos em cenas de violência, sexo e consumo de álcool e cigarro por pelo menos cinco minutos.
Assim, os pesquisadores concluem que existe pouca diferença entre os filmes de distintas faixas de classificação, o que, no mínimo, mostra que talvez as formas de avaliação destes filmes tenham que ser revistas. Faz sentido. O problema é que, em seguida, os responsáveis pelo estudo dão um pulo maior do que a perna e fazem a relação que, por muito tempo, tornou-se senso comum: filmes violentos ou politicamente incorretos são uma má influência para crianças e adolescentes.
Para os pesquisadores, estes filmes “estão potencialmente ensinando aos jovens que que a violência é aceitável, assim como esses outros comportamentos (aqueles ligados ao consumo de álcool e outras drogas)“. “Nós sabemos que alguns adolescentes imitam o que eles vêem na tela”, diz Amy Bleakley, uma das pesquisadores que lideraram o estudo. “O que nos preocupa é que estes filmes com foco nos espectadores jovens estão fazendo uma conexão entre violência e uma variedade de comportamentos de risco – sexo, bebida e fumo”, completa a cientista.
A preocupação dos pesquisadores da Pennsylvania é válida. É correto ou seguro que adolescentes tenham acesso fácil a filmes que mostram outras pessoas bebendo, brigando ou transando? O problema é que essa é uma questão ainda difícil de responder. Afinal, qual a influência prática que os filmes exercem sobre o comportamento dos jovens? É possível pensar que, depois de ver um filme ou vários, a criança ou adolescente passe a imitar as ações que viu na tela?
Essas mesmas perguntas, claro, valem também para séries de TV, games, histórias em quadrinhos e outras mídias de entretenimento consumidas com avidez hoje em dia por esse público — seja nos Estados Unidos ou em qualquer outro país. O estudo citado não responde a estas questões. A pesquisadora se limita a dizer que “nós sabemos que alguns adolescentes imitam o que vêem na tela”. Se tal afirmação possui alguma base científica comprovada ou é apenas parte do senso comum (duvidoso), é difícil de saber.
Já contei aqui no blog que, antes mesmo de saber ler ou escrever, eu era aficionado pelos filmes do Rambo. A série, cá entre nós, tem lá seus excessos de sangue, tiros e pescoços quebrados. Uma vez, quando criança, fiquei empolgadíssimo ao ganhar de presente uma roupa do Rambo, com direito a calça cáqui, fita vermelha para amarrar na cabeça e uma faca de plástico. De lá pra cá, não lembro de, por isso, ter esfaqueado alguém ou me envolvido em uma briga por achar que violência é um “comportamento aceitável”.
OK, não sou pesquisador nem tenho base científica para defender minha tese. Mas tenho um medo tremendo desse senso comum que perdura até hoje na cabeça de muita gente. É muito fácil — conveniente até — jogar a culpa de comportamentos violentos em filmes e games. Ao mesmo tempo que cresci jogando Carmagedom (o infame game em que se ganhava pontos atropelando velhinhas inocentes) e Blood (um shotter das antigas em que podia botar fogo em zumbis e depois chutar suas cabeças), tive uma educação familiar preocupada. Foram meus pais e, de certa forma, a escola, que me ensinaram o que é certo ou errado. Nunca encarei filmes ou games como forma de catecismo, mas sim como puro entretenimento. Hoje, uma das maneiras de relaxar após um dia de trabalho cansativo, é chegar em casa e jogar GTA 5. Dar uns tiros, explodir carros, roubar bancos.
Talvez o momento em que eu tiver um filho eu me preocupe mais sobre a influência destes mesmos filmes e games. Não acharia razoável, por exemplo, que um garoto de dez ou doze anos jogasse GTA. Não pela violência ou pelo “comportamento de risco” dos personagens, mas pelos palavrões e xingamentos que ecoam no jogo a cada 30 segundos. Se uma criança sai por aí repetindo sem pensar o que os adultos falam, nada mais natural do que faça o mesmo ao ter contato com isso na TV. Mas uma coisa é xingar os colegas de classe. Outra é sair batendo com um porrete neles.
Enfim. Essa discussão é antiga e certamente não vai se esgotar tão cedo. Por isso, conto com a opiniões de vocês pra seguirmos o papo. O que você acha? Filmes violentos influenciam de fato o comportamento de crianças e adolescentes? É perigoso que eles tenham acesso a estes filmes? Você, que é pai, como limita o acesso de seus filhos a games e filmes que mostrem violência, sexo ou uso de drogas?
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