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Como o Batman de Tim Burton mudou os filmes de super-heróis para sempre

Depois que Christopher Nolan trouxe ao mundo sua visão realista e dramática do Cavaleiro das Trevas, muita gente passou a ignorar os filmes anteriores, como se tudo o que tivesse sido produzido até então não fosse digno de lembrança. É comum os espectadores — principalmente a gurizada — se empolgarem com que é novo e mais recente, e convenhamos que os dois filmes anteriores do Joel Schumacher não empolgam muito mesmo (embora ao menos sirvam para dar boas risadas).

Agora, é preciso dar o braço a torcer e reconhecer que o Batman de Tim Burton, protagonizado por Michael Keaton, merece sim ser resgatado e reconhecido como um clássico das adaptações de super-heróis. O primeiro filme completou nesta semana 25 anos (é tempo!!) e, pra homenagear a obra, a revista Variety publicou um artigo sobre “as nove maneiras com que o Batman de Tim Burton mudou para sempre os filmes de super-heróis”.

Não se trata de jogar confete em cima da obra por conta de seu aniversário. Vale lembrar que Batman (1989) surgiu em uma época em que adaptações de quadrinhos no cinema eram exceção, e não a regra — ao contrário do que ocorre hoje em Hollywood. O filme de Burton foi sucesso de bilheteria, apresentou um dos vilões mais pirados do cinema e garantiu uma sequência (que também é bacana). Como bonus track, ajudou a sedimentar o caminho que outras produções do gênero trilhariam mais de uma década depois, com o lançamento de X-Men: O Filme (X-Men, 2000).

Ainda não está convencido da herança deixada por Burton e Keaton? Então veja o que a Variety diz a respeito (e, se quiser, leia aqui o artigo na íntegra, em inglês):

Armaduras X calças justas

Basta olhar o visual do Morcego no filme de Tim Burton para concluir que os produtores finalmente reconheceram que os uniformes colantes e coloridos dos quadrinhos não poderiam ser utilizados literalmente na telona. OK, o filme de Superman dirigido por Richard Donner em 1978 é um barato, mas aquele uniforme justo azul e vermelho não dá pra ser levado a sério. A armadura de Batman no filme de 1989 passou a ser um padrão a ser seguido: segundo a Variety, basta olhar para o visual recente de outros heróis no cinema, como o o traje de couro de Wolverine em X-Men ou a armadura de Superman em O Homem de Aço (Man of Steel, 2013).

Um universo à parte

O visual gótico-noir-steampunk de Gotham City no primeiro Batman rendeu ao filme um Oscar de Melhor Direção de Arte. Enquanto os filmes anteriores do Superman se passavam em um mundo realístico, Burton criou um novo universo inteiro a partir de rascunhos de papel, comprovando que adaptações de HQs podem sim apresentar uma realidade à parte, distante das amarras do “mundo real” já conhecido pelos espectadores. O impacto desta nova maneira de se pensar a concepção visual dos filmes pode ser sentido em obras como Blade, Hellboy e Watchmen.

Why So Serious?

Até o lançamento do Batman de Tim Burton em 1989, a imagem que existia do herói no imaginário dos espectadores era aquele festivo e cômico interpretado por Adam West na década de 1960, na série de TV. Até para se distanciar desta lembrança, Burton apostou em uma versão muito mais séria e sombria do Cavaleiro das Trevas. Há várias piadinhas e momentos cômicos no filme — afinal, temos o Coringa por ali –, mas a produção está longe de ser voltada para o público infanto-juvenil. Como diz a Variety, esta versão sombria do herói se mostrou tão popular que até hoje ecoa em filmes como O Justiceiro: Em Zona de Guerra (Punisher: War Zone, 2008), Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (Ghost Rider: Spirit of Vengeance, 2011) e, claro, a própria trilogia de Nolan do Cavaleiro das Trevas.

A teoria do autor

Até o lançamento de Batman, Tim Burton tinha no currículo apenas duas produções de relativo sucesso nas bilheterias — Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988) e As Grandes Aventuras de Pee-wee (Pee-wee’s Big Adventure, 1985). Foi a adaptação do Cavaleiro das Trevas que o conduziu ao estrelato como um diretor visionário cujo estilo visual é fácil de ser reconhecido. Seria muito fácil Burton ter dirigido um filme sob encomenda, quadrado e esquecível. Porém, foi sua visão peculiar do universo do Batman que chamou tanta atenção e provou que adaptações de quadrinhos também podem ser “filmes de autores”, abrindo espaço para diretores como Guillermo del Toro, Zack Snyder, Christopher Nolan e Sam Raimi.

O rosto por trás da máscara

Na época, ninguém entendeu muito bem o que Burton e o produtor Jon Peters queriam escalando Michael Keaton para o icônico papel de Batman/Bruce Wayne, um ator que até então era mais conhecido por filmes de comédia. O sucesso de público e crítica do filme comprovou que os dois estavam corretos e que um super-herói não necessariamente precisaria ser interpretado por um galã ou sujeito musculoso. Para a Variety, foi essa decisão arriscada que abriu as portas para a escalação pouco convencional de outros atores para filmes do gênero anos depois, como Tobey Maguire, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo.

Aquele que você ama odiar

Já virou chavão falar que “atrás de todo grande herói há um grande vilão”. O ditado foi seguido à risca no filme de Tim Burton, que trouxe ninguém menos do que o ganhador do Oscar Jack Nicholson para interpretar o arqui-inimigo do Cavaleiro das Trevas. Nicholson nos presentou com uma atuação memorável que, em vários momentos, ofuscou o protagonista (o que se repetiria com o Coringa de Heath Ledger). Desde então, vários outros grandes atores foram chamados para interpretar vilões em adaptações de quadrinhos, como Jeff Bridges Ian McKellenWillem Dafoe.

Uma marca para ficar

Hoje, em filmes de super-heróis, é comum que o título do filme venha acompanhado de um emblema à altura, que fale por si só e seja identificado com facilidade pelo espectador. A Variety reforça que essa é mais uma herança do Batman de 1989, que apresentou o símbolo do morcego, em preto e dourado — havia, inclusive, cartazes que traziam apenas o logo, sem o nome do filme. A teia do Homem-Aranha, o escudo do Capitão América e o 4 metalizado do Quarteto Fantástico são exemplos similares da importância de uma marca visual impactante, reforça a revista.

Bat-merchandising

A Warner Bros. não foi boba. Junto do filme nos cinemas, lançou uma série enorme de brinquedos, produtos e roupas que se inspiravam no Batman de Tim Burton, o que contribuiu para aumentar ainda mais o hype em torno da obra. A estratégia não era nova – vide Star Wars -, mas foi a primeira vez que era utilizada para vender (literalmente) uma adaptação de histórias em quadrinhos. Hoje, os filmes de super-heróis são acompanhados por todo tipo de produtos voltados não só aos fãs, mas aos consumidores que conhecem de longe os personagens — desde os óbvios bonecos até cosméticos e edições limitadas de salgadinhos.

Respeite o cânone

Aqui, a Variety talvez se equivoque um pouco em seus argumentos. A revista defende que, antes da chegada do filme de Burton, as adaptações de histórias em quadrinhos se baseavam apenas vagamente no material original, deixando muita coisa de fora e acrescentando tantas outras, para desespero dos fãs mais xiitas. Até aí, tudo bem. Para a Variety, Burton reescreveu essas regras ao olhar diretamente para as páginas dos quadrinhos ao adaptar as HQs, trazendo de lá sequências e cenas que os espectadores já haviam visto no papel. Duas das fontes usadas pelo diretor no filme de 1989 foram as clássicas histórias A Piada Mortal, de Alan Moore, e O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Mas é preciso lembrar que o roteiro do filme de 1989 também escorregou em algumas polêmicas. Burton sugere que foi o próprio Coringa, antes da sua transformação no vilão, que matou os pais de Bruce Wayne. Batman revela sua identidade para a repórter Vicky Vale com uma facilidade nunca vista antes nas HQS. E, no fim, o Coringa morre (de verdade), o que foi considerado um sacrilégio por alguns fãs. Discussões à parte, é fato que, atualmente, muitas das adaptações bebem diretamente da fonte de arcos clássicos das histórias em quadrinhos, visto as aventuras mais recentes na telona de Capitão América e dos X-Men.

E você, concorda com a avaliação da Variety? O Batman de 1989 merece mesmo ser chamado de clássico? Deixe nos comentários seu veredicto sobre a obra!

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