A escalação do diretor novaiorquino James Mangold para dirigir The Wolverine, o segundo filme solo do mutante mais querido da Marvel, deixou muita gente com o cabelo em pé. Primeiro, porque ele assumiu o lugar que até então seria do cult Darren Aronofsky. Segundo, porque Mangold não tem lá muita experiência em filmes de ação ou blockbusters.
Os fãs mais xiitas podem espernear, mas, mesmo com uma filmografia enxuta (oito filmes até então), Mangold é um diretor que escreveu e dirigiu produções bem interessantes. É dele, por exemplo, Garota Interrompida (1999), que deu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Angelina Jolie. Ele também esteve por trás do thriller Identidade (2003), um dos suspenses mais originais da última década. Mais recentemente, dirigiu Johnny e June (2005), cinebiografia do cantor Jonny Cash, que garantiu o Oscar de Melhor Atriz a Reese Witherspoon.
É o seu segundo filme, porém, que mais me chama a atenção. Este fim de semana tive a oportunidade de rever Cop Land (1997), um drama policial 100% filho de Mangold – ele escreveu o roteiro e convenceu os produtores de que só o venderia se ele mesmo pudesse dirigi-lo. O filme conta com um elenco estelar, que inclui Robert De Niro, Harvey Keitel, Ray Liotta e Sylvester Stallone, em uma atuação inspirada, acreditem.
Cop Land se autointitula um “western urbano” e a definição até que faz sentido. Stallone interpreta Freedy Heflin, o xerife de uma pequena comunidade ao lado de Nova Iorque, separada da grande cidade pelo Rio Hudson e a ponte George Washington. Ele e mais dois agentes são os responsáveis por policiar o subúrbio de mil habitantes e onde há uma grande concentração de famílias de policiais – os “policiais de verdade”, que trabalham na grande metrópole.
O que, num primeiro momento, parece um subúrbio paradisíaco, com as taxas de crimes mais baixas do estado, logo se revela um antro de corrupção, negociatas e assassinatos mal resolvidos, levados a cabo justamente pelos agentes da lei. E é neste cenário que o xerife Freedy precisa decidir se entra em conflito com os “amigos” de longa data, numa batalha que, sabe muito bem, não tem como vencer.
Visto outros posts que já escrevi, pode parecer que sou fã incondicional do Stallone, mas, neste caso, garanto que o elogio é merecido. Ao contrário dos brucutus que se acostumou a viver no cinema, em Cop Land ele interpreta um sujeito simplório, acima do peso, que vive à margem de um sonho que nunca conseguiu realizar – um problema de audição o impede de entrar na corporação policial e atuar na cidade grande. Os policiais que vivem na comunidade o tratam quase como a um garoto, nunca perdendo a oportunidade de relembrá-lo que, na verdade, ele não possui autoridade nenhuma ali.
Por isso, Cop Land pode decepcionar os fãs de Stallone ou dos filmes policiais “tradicionais”, em que pululam tiroteios, explosões e atos de heroísmo. O filme se desenvolve de forma lenta, sem pressa, retratando o lado mais trivial do trabalho policial – como ficar monitorando a velocidade dos carros, por exemplo. Isto permite, porém, que os personagens se desenvolvam e, um a um, cresçam na tela bem verossímeis. Não há espaço para heróis ou vilões típicos. Mesmo o “parceiro” do xerife é um viciado em cocaína que tem sua própria dose de ilegalidades pra lhe afligir a consciência.
Neste sentido, a resposta tardia à rede de corrupção, do xerife vivido por Stallone, tem suas próprias ambigüidades. Estaria ele decidido a agir por uma mera questão de justiça, ou como uma forma de vingança velada para com aqueles que sempre o ridicularizaram? Assista e tire suas próprias conclusões.
Não dá pra deixar de citar aqui a bela e original sequência final, único trecho do filme em que há, de fato, tiroteios. Numa ação para tentar salvar um homem ameaçado pelos “policiais mafiosos”, o xerife fica temporariamente surdo. Mesmo assim, decide ir atrás dos bandidos. E, aí, como espectadores, acompanhamos o estado conturbado do protagonista. Por vários minutos, justamente no momento em que há ação, não há som. Os bandidos e o parceiro do xerife gritam com ele, gesticulam, mas não entendemos exatamente o que falam. Não se ouve nem sequer o som dos tiros. É quase um anti-clímax. Mais uma mostra de que Cop Land não deve ser encarado como um filme policial típico.
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