Qualquer cinéfilo há de concordar que uma das atividades mais prazerosas nessa vida é sentar (ou deitar) no sofá com tempo de sobra para assistir a um bom filme, deixando todo o resto de lado. E bem sabe quem também é leitor ávido que tão bom quanto isso é ler a respeito do cinema, seus gêneros, diretores, celebridades, indústria, etc e tal.
Felizmente, há ótimos livros disponíveis que, longe de serem do estilo “acadêmico”, são boas leituras para momentos de lazer, ensinando sobre teoria e prática ao mesmo tempo em que divertem o leitor com detalhes e curiosidades dignas de um romance. Abaixo trago uma lista com pitacos sobre algumas obras essenciais para quem gosta de cinema e quer saber um pouco (ou muito) mais sobre essa arte. Deixei de lado os livros que são apenas compilações de filmes – como o popular 1001 filmes para ver antes de morrer -, já que listas do tipo são fáceis de achar por aí (aqui mesmo no blog há várias).
Alguns destes livros já estão com edições esgotadas ou não são tão fáceis de serem encontrados nas livrarias. O jeito é dar um rolê pelos sebos ou apelar para o Estante Virtual.
Como ver um filme, de Ana Maria Bahiana
Leitura leve, didática e repleta de curiosidades sobre a história do cinema, o livro de Ana Maria Bahiana fornece uma introdução básica para quem quer entender o processo de desenvolvimento de um filme – desde a concepção do roteiro até a pós-produção. Em seguida, a autora destrincha os gêneros mais populares e influentes, relatando as características mais comuns destes grupos e os filmes de referência. Pode parecer chato, mas a linguagem é descolada, irônica e acessível.
Editora Nova Fronteira, 224 páginas.
*
Como a geração sexo, drogas e rock’n roll salvou Hollywood, de Peter Biskind
Livro-reportagem que retrata a ascensão e queda da chamada Nova Hollywood – geração de jovens cineastas que tomou a indústria norte-americana de assalto na década de 1970 e produziu verdadeiras pérolas, antes de sucumbir diante dos excessos do cinema autoral e da chegada dos primeiros blockbusters. Estão na lista grandes figuras como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Roman Polanksi, Brian De Palma, George Lucas e Steven Spielberg. O livro passeia pela década por meio de minibiografias desses diretores, detalhando a produção de seus principais filmes durante o período e a reação da indústria e da mídia. Simplesmente essencial.
Editora Intrinseca, 520 páginas.
*
Tudo sobre cinema, editado por Philip Kemp
Espécie de enciclopédia sobre a história do cinema, apresentada em uma edição caprichadíssima. Todo o material é apresentado em ordem cronológica, organizado tematicamente por região ou gênero. Em geral, o livro é formatado em capítulos, como “Os primeiros épicos” ou “Heroínas do cinema mudo”, por exemplo, em artigos de duas ou quatro páginas. No rodapé da página há sempre uma linha do tempo que apresenta os principais acontecimentos da década, referentes à temática do capítulo. O mais interessante é que cada capítulo é seguido por um ou dois filmes que são “destrinchados” e que mostram, na prática, as características de determinada época ou gênero. Já dediquei um post aqui no blog só sobre esse livro.
Editora Sextante, 576 páginas.
*
Filme, de Lilian Ross
Quem cursou Jornalismo sabe que esse é um dos livros sempre indicados por professores para tratar de jornalismo literário, ao lado de outras obras do gênero como A Sangue Frio, de Truman Capote, e Hiroshima, de John Hersey. De fato, o livro da jornalista Lilian Ross merece ser lido como um romance, repleto de personagens pitorescos e com drama de sobra. A obra acompanha todo o processo de desenvolvimento do filme A Glória de um Covarde (The Red Badge of Courage, 1951), dirigido por John Huston e é exemplar por mostrar, claramente, como a mão pesada de um estúdio e dos produtores pode transformar um possível clássico em um fracasso – risco que persiste até hoje.
Editora Companhia das Letras, 312 páginas.
*
Cenas de uma Revolução, de Mark Harris
Livro-reportagem que retrata, de forma minuciosa, as condições que permitiram a chegada da Nova Hollywood (aquela mesma que é tema do livro de Peter Biskind citado ali acima). A obra gira em torno do desenvolvimento dos cinco filmes que acabariam concorrendo ao Oscar de Melhor Filme no ano de 1968, entre eles Bonnie e Clyde e A Primeira Noite de um Homem (The Graduate). O livro é importante para entender esse momento tão peculiar na indústria cinematográfica e na cultura americana como um todo. Harris não tem pressa e é preciso que os leitores estejam prontos para descrições detalhistas que, muitas vezes, fogem do escopo do cinema em si. Ficou curioso? Já escrevi sobre este livro em outro post aqui no blog.
Editora LPM, 488 páginas.
*
Conversas com Scorsese, de Richard Schickel
A Cosac Naify lançou outras duas obras nesta mesma coleção – Conversas com Woody Allen e Conversas com Kubrick – mas essa aqui é de longe a melhor organizada e mais cativante (se bem que, em se tratando de Scorsese, sou suspeito pra falar). Schickel também é roteirista, diretor e produtor de documentários e, por isso, o que é apresentado ao longo das 520 páginas do livro é um extenso e cativante bate-papo, como se escutássemos dois velhos amigos falando sobre cinema em um bar, na mesa ao lado. Facilita o fato de que as entrevistas são separadas em capítulos por temas e filmes – as conversas contemplam o período até o lançamento de Ilha do Medo (Shutter Island), em 2010. Também já dediquei um outro post no blog só pra este livro.
Editora Cosac Naify, 520 páginas.
*
Alfred Hitchcock e Os Bastidores de Psicose, de Stephen Rebello
O livro-reportagem de Rebello sem dúvida é um achado para os fãs de Hitchcock e de seu mais icônico filme. O ponto de partida é a produção do romance de Robert Bloch que inspirou Psicose e, a partir daí, podemos acompanhar todo o turbulento e inusitado desenvolvimento do filme, desde a escolha dos atores até a criação da famosa trilha de Bernard Herrmann para a cena do chuveiro. Este livro-reportagem recebeu uma espécie de adaptação para o cinema, no filme Hitchcock (2012), estrelado por Anthony Hopkins no papel do cineasta. Mas não se engane: o livro não faz menção alguma ao insosso e dispensável drama familiar vivido por Hitch e sua esposa no filme.
Editora Intrínseca, 256 páginas.
*
Ismos – Para entender o cinema, de Ronald Bergan
Pense nesse livro como uma versão pocket de Tudo Sobre Cinema, citado ali acima. Dividido por épocas, apresenta os principais gêneros e movimentos cinematográficos que se consolidaram ao longo da história do cinema, de 1895 a 2010. Os artigos são pequenos e objetivos, mas longe de serem simplórios. Como a ideia da coleção é trabalhar com a premissa de “ismos” (há livros da mesma série sobre moda e arte), surgem alguns nomes e conceitos bem estranhos, como “gangsterismo”, “caligarismo” e “catastrofismo”. Pra facilitar e dar exemplos práticos, cada gênero/movimento vem com exemplos de obras-chave e de diretores que fazem parte do grupo.
Editora Globo, 160 páginas.
*
Uma viagem pessoal pelo cinema americano, de Martin Scorsese e Michael Henry Wilson
A Cosac Naify é mesmo especialista em nos presentear com edições caprichadíssimas, daquelas que ficam bonitas na estante ou na mesinha da sala. Este livro é uma espécie de transcrição (pra não dizer roteiro) de um documentário dirigido por Martin Scorsese em 1995 sob encomenda do British Film Institute de Londres, como parte das comemorações do centenário do cinema. Assim como no doc, Scorsese “narra” o livro, dando sua visão pessoal sobre as primeiras décadas da indústria do cinema nos Estados Unidos, com especial atenção para três gêneros que definiram essa época: o faroeste, os musicais e os filmes de gângster.
Editora Cosac Naify, 224 páginas.
*
Masters of cinema, da Cahiers du Cinema
Aqui, não se trata de um livro específico, mas sim de uma coleção lançada pela prestigiada revista francesa Cahiers du Cinema. Cada livro traz uma espécie de biografia e filmografia básica de diretores consagrados, como Federico Fellini, Martin Scorsese, George Lucas, Billy Wilder, Orson Welles, Ingmar Bergman, Alfred Hitchcock, David Lynch, Pedro Almodóvar e tantos outros. Além de resgatar a vida pessoal dos cineastas, os livros trazem artigos detalhados sobre filmes e sequências icônicas. As fotos são uma atração à parte, geralmente ocupando uma ou duas páginas inteiras. O único porém é que a coleção nunca foi lançada oficialmente no Brasil, por isso os livros são importados e estão em inglês. Fácil de achar nas livrarias Cultura, por cerca de R$ 30 cada.
Editora Cahiers du Cinema, 100 páginas.
Tem alguma outra sugestão de livros sobre cinema que merecem ser lidos? Deixe sua dica nos comentários!
**
Deixe sua opinião