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Atual queridinho do público e da crítica (e, por tabela, dos executivos de Hollywood), o diretor inglês Christopher Nolan completou 43 anos em julho gozando da fama de ser reconhecido como um cineasta sério e inventivo – mesmo que tenha na bagagem blockbusters e adaptações de um personagem em quadrinhos. Sua abordagem dramática de um dos maiores ícones do universo dos super-heróis, na trilogia do Batman, e o campeão de bilheteria A Origem (Inception, 2010), são os maiores responsáveis por esta “virada” na carreira do diretor, que, se já possuía bons filmes no currículo, ainda vivia distante dos holofotes.

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Considerando seus últimos filmes de orçamentos milionários, é um bom exercício, para entender a trajetória do diretor e suas preferências artísticas, olhar para trás e degustar o hiper-modesto Following, filme com que Nolan estreou no cinema há 15 anos, em 1998. Rodado em preto e branco em Londres, ao longo de um ano e sem um orçamento definido, a produção de apenas 69 minutos é um belo exemplo de como um bom roteiro e uma edição original podem fazer maravilhas por qualquer história.

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O roteiro, escrito pelo próprio Nolan, tem uma premissa interessante: um estranho sujeito, aspirante a escritor, passa os dias seguindo desconhecidos na rua, a fim de buscar inspiração para os personagens que quer apresentar no papel. Certo dia, é confrontado por um homem que seguia, um ladrão de residências que o convence a acompanhá-lo em seus crimes. A dupla não leva produtos de valor das casas: apenas objetos pessoais das vítimas, como fotografias, roupas íntimas, bugigangas, livros e fitas K-7.

Dizer mais pode estragar as surpresas que a história, muito mais intrincada do que parece, reserva ao espectador. Até porque desde o primeiro minuto, o filme assume ares de quebra-cabeça: a trama é apresentada em três linhas temporais distintas, sem que haja distinções claras entre elas. Ou seja, até certo momento, não sabemos se a ação que assistimos no momento se passa antes ou depois da sequência anterior. As peças só vão se encaixando nos instantes finais, quando, por conta própria, organizamos essa linha temporal na cabeça.

A “brincadeira” de edição, claro, pode afastar os espectadores mais preguiçosos ou que simplesmente curtem uma história mais linear. Até porque, apesar da premissa original, a trama demora a engrenar. Por um bom tempo, o que vemos na tela são sequências que fazem pouco sentido, envoltas em um tom onírico, reforçado pela fotografia em preto e branco e pela filmagem em 16mm – como um autêntico universo de David Lynch.

Segundo o próprio diretor, a inspiração para Following surgiu durante suas andanças em meio às multidões nas ruas de Londres e após o arrombamento de seu apartamento. “Você saia de seu apartamento e era cercado por pessoas. Eu comecei a ficar interessado pela ideia de olhar para desconhecidos e imaginar ‘qual é a história dessa pessoa?’ Logo depois desse tempo, alguém invadiu meu apartamento”, disse Nolan ano passado, em um evento em Nova York para apresentar a restauração de seu filme de estreia. O site Mental Floss escreveu um artigo bem bacana sobre a ocasião.

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Apesar de Following sempre ter sido pensado como um filme não-linear, o roteiro foi escrito em ordem cronológica e só depois reorganizado para representar os diferentes momentos – processo que foi feito no próprio roteiro em si, e não na ilha de edição. A opção se mostrou bastante dura para o diretor, visto a necessidade de reescrever várias sequências para que a narrativa se tornasse mais fluída. No seu filme seguinte, Amnésia (Memento, 2000), que também apresenta uma trama não-linear, de trás para frente, Nolan optou por fazer o contrário, escrevendo de acordo com o que traria na tela.

Rodado de forma independente com a ajuda de amigos e parentes – o irmão do diretor, inclusive, faz um dos personagens secundários – Following foi lançado em vários festivais europeus, onde conquistou alguns prêmios, como o de melhor filme no British Independent Film Award. A boa acolhida e recepção dos críticos o levou então para território americano, onde rodou Amnésia, desta vez com um orçamento de US$ 9 milhões e atores de renome, como Guy Pearce e Carrie-Anne Moss. O filme, similar na estrutura e temática a Following, foi indicado a dois Oscar, de Melhor Edição e Melhor Roteiro Original.

Infelizmente, Following segue sendo uma produção desconhecida para o grande público, mesmo com o recente sucesso de Nolan e suas superproduções. O filme – ao menos segundo pesquisa que fiz – nunca foi lançado no Brasil. Desta maneira, o jeito é recorrer à internet ou a DVDs importados. No próprio YouTube dá pra encontrar a obra na íntegra.

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Já assistiu a Following? O que achou do filme? Aproveitando: quais são suas obras preferidas de Christopher Nolan? Comente aqui no blog!

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