Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Godzilla e o envelhecimento precoce

Percebi neste domingo que estou envelhecendo antes do tempo. O que não significa que estou ficando mais sábio ou maduro, mas sim que tem sido cada vez mais fácil dar uma de ranzinza ou se entediar com facilidade. Claro, percebi isso durante uma sessão de cinema. O filme? Godzilla, a produção repleta de hype dirigida por Gareth Edwards, que estreou há pouco mais de uma semana no Brasil e arrecadou  por enquanto cerca de R$ 300 milhões pelo mundo. Diante da boa receptividade do público, uma sequência já foi confirmada.

Godzilla ressurge: boa arrecadação nas bilheterias já garantiu uma sequência.

Godzilla ressurge: boa arrecadação nas bilheterias já garantiu uma sequência. (Foto: Divulgação)

Mesmo que você nunca tenha assistido a um filme ou desenho do Godzilla quando criança, certamente já ouviu falar do monstrengo japonês ou tem a imagem de uma de suas aparições na cabeça. O bicho gigante é pop e está longe de ser um produto voltado somente aos nerds ou aos nostálgicos. Nesse sentido, qualquer filme que o apresente já tem uma premissa interessante aos olhos do grande público, sedento por destruição e efeitos especiais fantásticos. Afinal, não é todo dia que vemos um monstro marrento destruindo cidades inteiras enquanto batalha com outros bichos ainda menos cuidadosos. E depois do infame filme de 1998 dirigido por Roland Emmerich, todos estavam à espera do que Hollywood poderia fazer com o gigante pop caso o respeitasse minimamente.

Dito isto, é preciso reconhecer que o Godzilla de Edwards é realmente impressionante, do ponto de vista estético. É fascinante e ao mesmo tempo assustador ver o rastro de destruição deixado pelos monstros, embora o filme se abstenha de ser sangrento (crianças e animais sempre dão um jeitinho de se safar). Entendemos com facilidade o quão poderoso – e perigoso – Godzilla é, assim como seus inimigos. Logo fica claro que à humanidade não resta nada além do que assistir de camarote a passagem do gigante.

E é isso. Nas semanas anteriores, ouvi comentários dos mais otimistas e empolgados a respeito do filme, que o retratavam como “um drama de ação” ou uma produção séria e engajada que alertava para o perigo da energia nuclear e da ganância do homem frente à natureza. O roteiro de Godzilla realmente traz à tona lembranças incômodas como o desastre na usina nuclear de Fukushima e os tsunamis que devastaram tanto o país quanto o sudeste asiático, em 2004.

Longa conta com Aaron Taylor-Johnson e  Bryan Cranston disputando espaço com Godzilla.

Longa conta com Aaron Taylor-Johnson e Bryan Cranston disputando espaço com Godzilla. (Foto: Divulgação)

Agora, querer titular Godzilla como um “drama” já é forçar a barra. Ou, como eu disse lá em cima, talvez seja eu que não tenha mais paciência para este tipo de filme. Mudam os monstros e os eventos catastróficos — queda de meteoro, inverno global, terremotos ou tsunamis gigantes –, mudam os personagens que precisam sobreviver em meio ao caos, mas o cerne que sustenta estas produções continua lá, intacto. Vemos primeiro a Terra receber com espanto as notícias sobre o desastre iminente, em seguida iniciam-se as sequências de destruição, os protagonistas vêm e voltam em meio aos escombros e, ao fim, um raio de luz ilumina a cidade devastada. Milhares morreram, mas os pobres humanos escaparam da extinção — inclusive o casal ou família que passou por poucas e boas ao longo da projeção, mas sobreviveu para se abraçar com emoção antes dos créditos subirem. The end.

É o que ocorre com o núcleo familiar de Godzilla, formado pelo militar vivido por Aaron Taylor-Johnson, sua esposa enfermeira, papel de Elizabeth Olsen, e o filho do casal. A tensão e os perigos que cercam a família parecem quase ilusórios, mesmo diante da catástrofe que os cerca. Afinal, fica claro já no início que, não importa o que aconteça, todos sairão sãos e salvos. É essa previsibilidade que incomoda, assim como a garantia de que o monstro japonês sairá vitorioso ao final. Se você é frequentador assíduo das salas de cinema e já passou um bom tempo assistindo a filmes, independente do gênero, sabe como vai terminar a trama. Fica claro que, para muitos espectadores que vibram com Godzilla, o desfecho parece não importar — o que vale mesmo é toda a pirotecnia e destruição no meio do caminho.

O longa de Gareth Edwards respeita o cânone do monstro mais icônico da cultura pop, não é apressado (longe disso, aliás) e tem belas cenas — como a primeira aparição de Godzilla no aeroporto e a chegada dos paraquedistas em uma São Francisco devastada. Mas, daqui a uma semana, o filme desaparecerá da minha lembrança, como tantos outros que me entretiveram por duas horas e depois desvaneceram com o tempo. Ou pode ser que o filme seja realmente bom (o melhor do ano, como alguns afoitos dizem por aí) e eu que esteja virando um velho chato. E esquecido.

Já assistiu a Godzilla? Qual a sua avaliação sobre o filme? Comente aqui no blog e defenda o monstro se quiser!

**

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.