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Como muitos cinéfilos e apaixonados por filmes, sigo algumas convicções na hora de desfrutar de qualquer obra, seja no conforto do lar ou na sala de cinema. Uma das principais é resistir até o fim, mesmo que o tédio, a indignação ou a decepção sejam minhas companheiras durante a sessão. Ou, em outras palavras: mesmo se o filme for ruim pra burro, o jeito é assistir até os créditos subirem.

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Claro que isso faz muito mais sentido quando estamos no cinema. Afinal, pagamos para estar ali (normalmente o preço não é barato) e não parece valer a pena sair no meio da sessão e perder dinheiro só porque o filme não foi aquilo que esperávamos. Depois, sempre podemos nos “vingar” xingando muito no Twitter ou convencendo os amigos a não assistirem. Além do mais, devemos muito aos filmes ruins: são eles que nos ajudam a compreender o que de fato é bom no cinema e merece reconhecimento. Acredite, depois que você assiste a algo como Espartalhões (Meet the Spartans, 2008), passa a dar muito mais valor a Corra Que a Polícia Vem Aí! (The Naked Gun: From the Files of Police Squad!, 1988).

Em um passado recente, quase desisti e pensei seriamente em abandonar a sessão em duas ocasiões: quando assistia a Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007) e a Sucker Punch: Mundo Surreal (Sucker Punch, 2011). Em ambos os casos, principalmente porque comecei a me sentir cansado e ludibriado. No caso de Sucker Punch, dirigido por Zack Snyder, pesou ainda mais a grande expectativa que eu nutria pelo filme há tempos. Costumava conversar com meu primo a respeito. Ou este filme seria genial, ou seria uma grande bomba. Não deu outra.

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Mas, em toda a minha vida de rato de cinema (ultimamente está mais pra rato de TV na sala), recordo de abandonar bruscamente uma sessão somente em uma ocasião. Foi logo na estreia de Jogos Mortais 3 (Saw III), num já longínquo 2006. Época em que frequentava de duas a três sessões por semana, acompanhando minha ex-namorada que tinha um mágico cartão de fidelidade que permitia descontos generosos na hora de comprar o ingresso.

Vale dizer que gostei bastante do primeiro Jogos Mortais (Saw, 2004). Sempre achei um filme com potencial para virar cult – caso não tivesse continuação alguma. Quando vi que a série se transformaria em uma longa franquia, desisti de acompanhar. Por preguiça ou talvez por descrédito mesmo.

Na ocasião do terceiro longa, eu e minha acompanhante (na verdade, eu era sempre o acompanhante, mas tudo bem), já havíamos comprado os ingressos e nos dirigíamos à sala quando paramos para conversar com um simpático atendente do cinema, velho conhecido. Ele logo começou a comentar sobre o “impacto” que Jogos Mortais 3 estava causando em muitos espectadores. O diálogo foi algo assim.

Ele: Adivinhem só! O que tem de gente se mandando da sala no meio do filme é coisa de louco…

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Ela: não acredito! Era só o que faltava!

Eu: hahaha! Mas agora essa! Por que isso?

Ele: ah, o pessoal passa mal, fica com vontade de vomitar e por aí vai… já me disseram que já teve até gente desmaiando…

Ela: coxinhas! Vão tomar Toddy em casa! (ou outros impropérios do tipo)

Conversamos por mais alguns instantes, tirando sarro dos pobres coitados que levavam a sério demais o filme, ou eram “fracos” para aguentar as tais cenas de tortura e mortes elaboradas, que provavelmente nem eram tão pesadas assim. Entramos na sessão, subimos até a última fileira e as luzes se apagaram.

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O que aconteceu a partir de então permanece meio nebuloso na minha memória. O filme começa com um sujeito preso em uma sala, amarrado com várias correntes presas ao corpo – literalmente, já que as argolas foram costuradas em sua carne. A cena mal havia iniciado quando comecei a suar frio. Senti a pressão baixar, o estômago revirar, as pernas fraquejarem. Fechei os olhos, mas, ao ouvir os murmúrios do filme, a sensação não passava. Me abaixei junto à poltrona. Sim, eu ia desmaiar a qualquer instante.

Disse algo à minha ex-namorada, que pareceu não dar muita atenção. Tinha de sair dali. Apoiando-me na parede, desci a longa escada rumo à saída da sala. Dei de cara, do lado de fora, com o atendente com quem conversávamos momentos antes. Ao me ver, ficou mais assustado do que eu. Também pudera. Eu estava tão branco quanto a parede atrás de mim.

O mau estar passou um pouco e resolvi ir até em casa, ali perto, fazer um lanche e deitar um pouco. Talvez fosse isso. Como a sessão era logo no início da tarde, havia deixado para almoçar após o filme – e eu mal havia tomado café. Também estava um pouco resfriado, com a imunidade baixa. Ou, convenhamos, talvez eu tenha sido simplesmente um dos “fracotes” que não aguentou o tranco. Curioso é que não devo ter passado nem cinco minutos vendo o filme. Tiro e queda. Independente do motivo, saí com o orgulho ferido, claro.

Ah, a minha então namorada não se levantou da cadeira e continuou assistindo ao filme, sem se preocupar muito (pra não dizer nada) com o que tinha acontecido. Como disse lá no início, resistiu até o fim.

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Pouco tempo depois veio o divórcio.

*

Já chegou a abandonar a sessão de cinema por não gostar do filme (ou por outros motivos mais “bruscos”)? Ou você também é do estilo “sofredor”, que não arreda o pé até que os créditos subam? Deixe seu depoimento aqui no blog!

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