O Paulo que liderou o Grupo Áporo (Ivan da Costa, Alice Ruiz, Wilson Bueno, Neiva e Pedro Leminski, Carlos João, Paquito Modesto, Cristo Dikoff, Flávio Meirinho e eu), que pretendia revolucionar a província. O Paulo que me ensinou a importância de viver, citando Budd Boetticher (o campeão do Western B). O Paulo que me levou a conhecer o A Rebours, de Huysman.
O Paulo que adorava o refrão “While I kiss the sky” (enquanto eu beijo o céu), do Purple Haze, de Jimi Hendrix. O Paulo que adorava The Sound of Silence, de Simon & Garfunkel. O Paulo que curtiu Roger Corman e seu cinema gótico (O Homem dos Olhos de Raio-X era o seu preferido). O Paulo que tinha uma verdadeira loucura por faroeste italiano.
O Paulo que concordou comigo sobre a beleza de Cleópatra, de Joseph L. Mankiewicz. O Paulo que entendeu a grandeza de My Fair Lady, de George Cukor, num artigo lindo. O Paulo que gostou muito de O Eclipse, de Michelangelo Antonioni. O Paulo que dizia que a guitarra elétrica tem uma batida (beat) especial.
O Paulo que me leu Poe no original. O Paulo que me explicou a hiper-sensibilidade de Proust. O Paulo que dizia que O Ano Passado em Marienbad, de Alan Resnais, é um filme de terror. O Paulo que me deu a devida dimensão dos irmãos Campos. O Paulo que adorou Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.
O Paulo que respeitava o talento de Roberto Carlos. O Paulo que admirava o popstar Donovan (hoje esquecido). O Paulo que me fez compreender a música italiana. O Paulo que estimava os Rolling Stones e seu rock efervescente.
O Paulo que me fez compreender a grandeza do Catolicismo. O Paulo 100% Zen no tatâmi do Judô. O Paulo que tinha um artigo genial sobre Godard (não publicado).
E, para finalizar, o Paulo que era fã do Jerry Lewis. E venerava Bob Dylan. E que me ensinou a magia da alma eslava.
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