A nova edição da revista Exame, da editora Abril, chegou às bancas nessa semana com um rosto conhecido dos amantes de séries na capa: o personagem Frank Underwood, protagonista de House of Cards. Aplicada sobre o corpo do ator Kevin Spacey, a manchete “Quem tem medo do Netflix?”.
A questão levantada pela revista é oportuna e faz vir à tona uma experiência pessoal. Há mais de ano, eu e meu primo, com quem divido o apartamento, tivemos um problema com o aparelho receptor da TV por assinatura, que integra o famoso pacote combo das operadoras, junto da internet banda larga. De repente, não conseguíamos mais assistir aos canais. Fomos deixando o problema de lado até que, de repente, não se tocou mais no assunto.
Talvez por desleixo ou por termos outras coisas com que se incomodar, acabamos esquecendo de correr atrás da solução. Mas o fato é que não sentimos falta, desde então, de assistir à TV, seja nos canais abertos ou pagos. Simplesmente abandonamos o costume. Hoje, pode-se dizer que em metade do tempo a TV está “ligada” no Netflix, por meio do Playstation 3; na outra metade, passando vídeos do YouTube, acessados via celular e visualizados na televisão com um simples clique.
A reportagem da Exame, escrita por Sérgio Teixeira Jr., começa justamente com um exemplo semelhante, sobre um homem que estava assistindo à TV com a filha de quatro anos. A menina não estava gostando do desenho que passava e queria ver outra coisa. O pai deu uma resposta espirituosa: “Filha, este é um quadro mágico que só passa desenhos-surpresa”.
Creio que será muito difícil explicar daqui a um tempo a nossos filhos e netos que, em determinada época de nossas vidas, tínhamos que esperar até determinada hora ou dia da semana para ver um filme ou uma série. E que, para isso, precisávamos ficar no sofá da sala, de olho na televisão na estante. Pra mim mesmo me parece irreal a lembrança de, quando criança, segurar o sono para conseguir assistir ao filme da Tela Quente na noite de segunda-feira. Até porque, se eu não assistisse naquele momento, ia demorar muito para passar de novo.
O título deste post, é claro, é mais uma provocação do que uma hipótese real. O Netflix e outros serviços de vídeo por streaming ou on demand não estão aí para substituir a televisão “tradicional” ou o cinema (como veículo de distribuição), mas para servirem como uma boa alternativa. E, no processo, esses serviços estão nos fazendo repensar o modo como acessamos – e como queremos acessar – conteúdo audiovisual.
A Exame traz números interessantes sobre esse cenário que nos ajudam a entender a dimensão dessa “revolução”. Em uma pesquisa feita pela Ericsson em 23 países (incluindo o Brasil e gigantes como China e Estados Unidos), com 23 mil pessoas, 75% afirmaram assistir várias vezes por semana a algum vídeo disponibilizado on demand (leia-se YouTube e Netflix, por exemplo) – em 2011, eram 60%. O porcentual de pessoas que afirmaram assistir à TV aberta ou paga na mesma frequência está somente um pouco acima, em 77% – aqui, por outro lado, a fatia baixou, já que era de cerca de 85% em 2011.
A penetração desses serviços online é maior, como se poderia imaginar, entre o público jovem. A revista também cita uma pesquisa da ComScore que mostra que, nos Estados Unidos, os chamados millenials – jovens que estão numa faixa etária entre a adolescência e os 30 anos – já passam um terço do tempo que destinam à TV assistindo a vídeos em celulares, tablets e computadores. Mais um dado interessante: nos EUA, a transmissão de vídeos pelo Netflix e YouTube atualmente é responsável por 47% do tráfego de internet banda larga durante o horário nobre da televisão.
Os números mostram que, sim, a TV aberta ou paga está perdendo espaço para este conteúdo que pode ser acessado a qualquer momento em qualquer lugar. Outra pesquisa citada pela Exame diz que, no ano passado, 400 mil americanos abandonaram os serviços de TV por assinatura e migraram, em grande parte, para a TV via internet. OK, os EUA têm mais de 100 milhões de assinantes de TV paga e esse contingente não vai fazer tanta falta assim. Mas, como lembra a revista, trata-se de uma tendência, um movimento que tende a continuar, talvez numa velocidade ainda maior.
Por fim, vale citar aqui uma declaração do fundador e presidente do Netflix, Reed Hastings, usada pela Exame. “A TV aberta foi uma ideia boa. Como o cavalo. O cavalo era bom… até termos carros. A era da TV que conhecemos começou nos anos 30 e deve durar até 2030, mais ou menos. Aí estaremos na era da TV pela internet”, prevê ele.
Quer saber? Para mim, a era da “TV pela internet” já começou. Andar a cavalo é coisa do passado.
E você, acha que serviços como o Netflix e YouTube são uma boa alternativa para a TV “tradicional”? Com que frequência você acessa vídeos pela internet? Deixe seu comentário aqui no blog, porque essa discussão vai longe!
*