Um festival internacional como o Olhar de Cinema, que segue até esta quinta-feira em Curitiba, é uma ótima oportunidade não só para conhecer produções que nunca chegariam ao nosso mercado exibidor “comum”, mas também para se sentir desafiado como espectador. A colega Tatiana Michaud, do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, fala sobre um destes filmes, que será reexibido nesta quarta-feira à tarde. Ainda dá tempo de conferir! Não deixe de passar também no portal Teia Notícias, onde há críticas e matérias sobre tudo que está rolando no festival.
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O silêncio estático
Tatiana Michaud, 4º ano de Jornalismo da Universidade Positivo
Duas amigas de infância, que passaram vários anos sem manter contato, se reencontram já adultas. Este é o mote de Forma, que estreou no último domingo no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. A direção do filme é da japonesa Ayumi Sakamoto, conhecida por provocar reações adversas no público.
Ao longo da produção se estabelece uma relação de subordinação e mágoa entre as personagens, que a todo tempo relembram questões do passado. De forma crua, sem grandes recursos de edição, a trama retrata a forma como as relações humanas são frágeis, cercadas por inseguranças pessoais. O roteiro, assinado pela própria diretora, debate questões morais e traça discussões silenciosas sobre o certo e o errado. Na tela, se destaca a representação fiel dos costumes típicos japoneses.
Características bem pessoais da diretora não deixaram de marcar presença nas telas da Mostra Competitiva de Longas-Metragens, parte da programação oficial do festival. Forma é um filme de 145 minutos de duração e, para a surpresa de muitos telespectadores presentes na estreia da produção, não possui trilha sonora do começo ao fim. Além do silêncio marcado, a produção é composta por longas cenas de enquadramento parado, sem grandes movimentos de câmera e também distante dos protagonistas. Esses elementos cinematográficos específicos fazem referência ao cultuado diretor e roteirista também japonês Yasujirō Ozu.
O enquadramento das cenas no filme mudam de acordo com o personagem central de cada sequência, recurso que não é utilizado à toa — a intenção é provocar suspense no público, já que detalhes da trama são explicados apenas quando há essa mudança de foco em relação ao personagem. Apesar da edição diferenciada, a narrativa é linear e segue uma ordem lógica, mesmo que nem todas as questões suscitadas sejam respondidas de imediato. Muitos se sentirão desconfortáveis ao encarar uma obra longe do que poderia ser chamada de convencional — o que é justamente uma das intenções de Sakamoto.
O outro lado da tela
Forma não é um longa-metragem fácil de assistir mas, apesar disto, a sala de cinema da estreia do filme no Olhar de Cinema se manteve cheia até o final da exibição. A forma como o filme se apresenta, sem recursos como trilha sonora ou mudança de planos de câmera que dão movimento às cenas, tornam a linha de narrativa pouco óbvia e muito diferente do formato europeu e norte-americano de fazer cinema.
Para a designer gráfica Mirella Campos, a relação que os personagens mantém é muito característica de civilizações orientais. “Essa falta de comunicação é algo muito japonês. Pra mim os detalhes, a cultura, os diálogos pareceram muito naturais. Além de cenas plasticamente bonitas”, comenta Campos.
O advogado Gustavo Vilar analisa a narrativa de Forma a partir da força que as personagens representam no filme. “A presença das personagens principais desse filme é algo realmente incrível. A forma como se relacionam, que lidam com o passado é algo extremamente feminino. Os homens no filme são totalmente secundários. Um filme ótimo”, conclui Vilar.
Confira abaixo o trailer do filme:
Forma será reexibido nesta quarta-feira (04), às 15h, no Espaço Itaú de Cinema (Shopping Crystal). Os ingressos custam R$ 5 e R$ 2,50 (meia entrada). Confira aqui a programação completa do festival.
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