Em um banheiro meticulosamente limpo, um jovem se coloca em frente ao espelho. Passa uma água no rosto, tira a camisa, se prepara para fazer a barba. Uma singela canção de jazz toca ao fundo. Closes mostram a lâmina de barbear passando sobre o rosto do rapaz, que observa a si mesmo de maneira despreocupada.
Mais uma propaganda da Gillette? Não se engane. Quem está filmando é Martin Scorsese. E, assim, esse negócio não pode acabar bem.
Assistir a The Big Shave, curta-metragem dirigido por Scorsese em 1967, quando ele ainda estudava cinema na New York University (NYU), é uma experiência incômoda, pra dizer o mínimo. Este não foi o primeiro nem o único curta produzido por ele nos tempos de estudante, mas foi o mais impactante. Talvez justamente por antecipar as sequências viscerais de violência que seriam marca registrada de boa parte de seus filmes.
The Big Shave, que você pode assistir logo ali embaixo, tem só cinco minutos. Até a metade do curta, é isso mesmo. Apenas um barbear. Mas, em seguida, sem nenhum motivo aparente, o rapaz continua a deslizar a lâmina sobre o rosto, cortando a si mesmo. Rastros de sangue se misturam ao branco do gel. Ao fim, o que resta é uma cara retalhada. E um banheiro imundo.
O curta está aberto a interpretações das mais variadas. Mas, segundo o próprio Scorsese, seria uma metáfora para a Guerra do Vietnã. A intenção do diretor era incluir alguns takes de imagens da guerra ao fim do curta. Acabou deixando a ideia de lado, possivelmente ao perceber que a sequência já era explícita o suficiente. Depois deste curta, Scorsese recebeu carta branca para tocar seu projeto mais ambicioso até então, que seria seu fime de “formatura”, sob o nome de Who’s That Knocking at My Door (falaremos dele em outro momento aqui no blog).
Quer assistir o curta? Certifique-se que você tenha estômago forte. E depois não reclame que eu não avisei…