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Sessão HQ: Kick Ass 2 e os super-heróis na era dos 140 caracteres

Em 2010, um filme dirigido pelo pouco conhecido Matthew Vaughn (até então mais atuante como produtor) pegou muita gente de surpresa. Tratava-se de mais uma adaptação de histórias em quadrinhos, porém, bem diferente das várias outras produções do gênero que haviam aterrissado nos cinemas até então — naquele mesmo ano, por exemplo, era lançado Homem de Ferro 2 (Iron Man 2). Kick-Ass – Quebrando Tudo (Kick Ass) chamou a atenção justamente por não se prender às amarras e convenções dos filmes baseados em ícones dos gibis. Havia violência de sobra, muitos xingamentos e personagens que, embora desconhecidos, caíam fácil na graça do público. Afinal, eram adolescentes normais, sem nenhum superpoder — fora o de fazer babaquices e se meter em encrencas com vilões excêntricos.

E aí reside o principal mérito da obra em quadrinhos criada por Mark MillarJohn Romita Jr. E se alguém resolvesse levar a sério essa história de super-heróis e passasse a se fantasiar e sair pelas ruas em busca de “justiça”? Para responder a pergunta, Millar nos apresenta o nerd adolescente Dave Lizewski, o típico loser das escolas americanas, apaixonado por HQs e personagens como Batman e Homem-Aranha. Dave não teve uma infância tão difícil assim, não viu seus pais serem mortos por bandidos nem tampouco foi picado por algum animal radioativo. Mas tem sonhos de grandeza e, para fugir da sua vidinha monótona e invisível às garotas, veste um constrangedor uniforme verde e amarelo e saí as ruas para bater em marginais.

Kick Ass 2 ainda diverte, mas é mais do mesmo. (Foto: Divulgação)

Kick Ass 2 ainda diverte, mas é mais do mesmo. (Foto: Divulgação)

Ao fim, a série Kick Ass nada mais é do que uma inspirada sátira sobre o absurdo universo dos vigilantes de colantes, em um mundo onde as redes sociais e o YouTube são capazes de transformar da noite pro dia um completo desconhecido em um herói “de verdade”. Fiel a esta premissa e à HQ, o filme de 2010 foi e continua sendo sinônimo de diversão garantida, principalmente para os fãs de quadrinhos que podem rir de si mesmos e das diversas referências a outros heróis clássicos. De quebra, a produção trouxe Nicolas Cage no que talvez seja seu melhor papel nos últimos anos, na pele de um homem obcecado por vingança que transforma sua filha pequena em Hit-Girl, uma arma mortal capaz de despedaçar criminosos ao meio (Chloë Grace Moretz, a “nova Carrie”).

E o que era o maior mérito do filme original, também é o principal problema da continuação, que estreou no último fim de semana nos cinemas brasileiros. Falta o frescor, a ousadia, a sensação de novidade do primeiro Kick Ass. Ao que parece, nem Millar nem o novo diretor, Jeff Wadlow (Matthew Vaughn ficou nos bastidores, como produtor), quiseram mexer na fórmula que havia dado certo antes. Continuam lá os xingamentos, os comentários adolescentes e as cenas de ação estilizadas, tudo cercado por uma incômoda sensação de deja vú.

Também é no mínimo curioso que, apesar de estampar o título do filme, o projeto de herói Kick Ass seja o personagem mais maçante, que menos tem a oferecer. Desde o início, a garota Hit-Girl, agora uma adolescente problemática, rouba as cenas, ao lado do vilão Red Mist, que troca seu nome para Motherfucker – o que rende boas piadas. Jim Carrey, apesar de aparecer pouco tempo em cena, também atua de forma inspirada, em um papel que pouco lembra seus típicos trejeitos e excessos dos filmes anteriores. Falando em excesso, o ator, num arroubo moral (ou seja lá o que for), se negou após o fim das filmagens a ajudar a promover o filme, justificando que a história era “violenta demais”.

Kick Ass 2 retoma personagens da história anterior, em uma história de vingança arquitetada pelo jovem mimado Red Mist. (Foto: Divulgação)

Kick Ass 2 retoma personagens da história anterior, em uma história de vingança arquitetada pelo jovem mimado Red Mist. (Foto: Divulgação)

Assim, Kick Ass 2 é um filme de momentos, principalmente quando deixa a ação de lado para se concentrar na comédia. Algumas das melhores cenas são as que mostram Hit-Girl se adaptando ao novo universo escolar, às patricinhas e aos desejos típicos das adolescentes, como a fascinação por uma boy band. A escalação da “liga do mal” do Motherfucker também rende boas risadas, ao apelar para o politicamente incorreto. O filme também dá uma dentro e se aproxima do público ao destacar a interação dos personagens com as tecnologias e ferramentas tão comuns a todos hoje em dia — Hit-Girl e Kick Ass se comunicam via Whats App e Motherfucker é adepto do Twitter, inclusive para divulgar suas malvadezas.

Apesar da recepção à sequência não estar sendo tão calorosa, Mark Millar afirma que já escreveu Kick Ass 3, que, a exemplo das outras duas obras, será lançado em quadrinhos e adaptado em seguida para o cinema. “Terá um final de verdade. Alguém vai morrer e não haverá mais Kick-Ass, isso eu posso dizer”, disse o escritor em entrevista na revista Preview deste mês. Comprar e ler a HQ será fácil. Agora é ver se os espectadores estarão mesmo interessados em ir para o cinema assistir a mais uma aventura do herói de colante verde. Se ainda fosse um filme solo da Hit-Girl

Confira abaixo o trailer de Kick Ass 2 (só pra maiores):

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Já assistiu a Kick Ass 2? E aí, curtiu? Gosta do primeiro filme? Deixe seu comentário aqui no blog!

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