Em 1974 era lançado O Poderoso Chefão 2, a sequência do clássico filme de máfia dirigido por Francis Ford Coppola dois anos antes. A continuação levou vários Oscar, incluindo de Melhor Direção e Melhor Filme. Poucas vezes na história do cinema uma sequência conseguiu ser tão boa – ou melhor até, dependendo da opinião – quanto o filme original, ainda mais quando se trata de um grande sucesso de público e de crítica.
Lembro aqui de O Poderoso Chefão 2, mas poderia citar também Star Wars: O Império Contra-Ataca (Star Wars: Episode V – The Empire Strikes Back, 1980) ou De Volta para o Futuro Parte II (Back to the Future Part II, 1989). A questão é que estes filmes são exceção. Me corrijam se eu estiver errado (e até posso estar), mas 8 em cada 10 continuações de filmes são totalmente dispensáveis e feitas exclusivamente para tirar dinheiro dos espectadores que curtiram a produção original. Claro, não estou citando trilogias pensadas desde o princípio como tais, como O Senhor dos Anéis, mas sim aqueles filmes que, seja já no ano seguinte ou décadas depois, voltam à telona para tentar pegar carona no sucesso de antigamente.
Até porque muitos produtores e estúdios não sabem quando parar. As franquias de terror são um exemplo clássico. Sempre achei que o primeiro Jogos Mortais (Saw, 2004), visto de maneira isolada, tinha potencial de sobra para virar cult. Mas, com a arrecadação nas bilheterias e a chance de arrecadar mais grana, o negócio degringolou e, ao fim, lá vieram mais seis filmes. Algum deles com o impacto e a originalidade do primeiro? Não creio.
E os (maus) exemplos fazem fila. Temos aí Os Embalos de Sábado Continuam (Staying Alive, 1983), dirigido (vejam só!) por Sylvester Stallone; A Mosca 2 (The Fly, 1989), que não contou com David Cronenberg na continuação, claro; as três sequências do clássico Psicose (sem citar a refilmagem feita por Gus Van Sant em 2008); as duas continuações de Jurassic Park; a nova trilogia de Star Wars, mostrando a juventude de Darth Vader (aqui, o conceito de caça-níqueis foi levado realmente ao extremo, e olhe que vêm novos filmes aí); e, pra parar por aqui, o infame O Exorcista II – O Herege (Exorcist II: The Heretic), que, do primeiro filme, só trazia de relevante mesmo a atriz Linda Blair.
O Top 5 de hoje, então, é dedicado a estes filmes que, de relevante, só têm mesmo o nome da produção original e acabam, em geral, suscitando sentimentos de vergonha alheia.
TOP 5: SEQUÊNCIAS TOTALMENTE DISPENSÁVEIS E CAÇA-NÍQUEIS
Instinto Selvagem 2 (Basic Instinct 2, 2006)
Quatorze anos depois do filme original, alguém na MGM teve a “brilhante” ideia de resgatar Sharon Stone de seu ostracismo e colocá-la novamente no papel da escritora psicótica que esbanja mistérios e sensualidade. Só que agora, ao invés do detetive interpretado por Michael Douglas, temos um psiquiatra vivido por David Morrissey (mais conhecido como o Governador da série The Walking Dead). A premissa do primeiro filme se repete aqui, com uma série de mortes ligadas à escritora e uma relação perigosa e ardente entre os dois protagonistas. A diferença é que não estão lá os diálogos descolados e pornográficos do Instinto Selvagem original, a trama detetivesca, as reviravoltas e as instigantes cenas de sexo que só Paul Verhoeven se propôs a colocar na tela. Resultado: a sequência recebeu quatro prêmios Framboesa de Ouro, por pior filme, pior roteiro, pior sequência e pior atuação, para Sharon Stone. Podias ter passado sem essa, musa.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008)
Steven Spielberg e George Lucas reunidos novamente para ressuscitar uma das franquias mais divertidas do cinema, com Harrison Ford no papel que lhe consagrou? Muitos previram que não tinha como dar errado. Mas deu. A tal aventura do “Reino da Caveira de Cristal” pode até ajudar a passar o tempo numa tarde de quarta-feira em mês de férias, mas não chega perto do frescor dos três primeiros filmes. Em resumo, sobram efeitos especiais e falta uma boa história. Vinte anos depois, precisávamos de mais um filme do Indiana Jones? Típico exemplo de produção caça-níqueis que bebe da fonte dos sucessos anteriores sem acrescentar nada de novo e, o que é pior, sem ao menos estar no patamar das outras obras. Esqueça esta sequência dispensável e assista à trilogia original.
Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras (Book of Shadows: Blair Witch 2, 2000)
Assim, como quem não quer nada, com pouco dinheiro e muito boca a boca, A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project) fez um tremendo sucesso em 1999. A história em tom documental de três jovens que, de câmera na mão, decidem se embrenhar em uma floresta atrás de uma lenda urbana assustou plateias no mundo inteiro e praticamente sedimentou um gênero de terror. Então, já no ano seguinte, surfando na onda do hype gerado pelo filme, surgiu Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras (Book of Shadows: Blair Witch 2). Também levou o Framboesa de Ouro de pior sequência, com razão. O início até soa interessante, mais uma vez mostrando, em tom de documentário, cenas da pacata cidade de Burkittsville na pós-euforia Bruxa de Blair, com imagens das filas gigantescas para ver o filme e depoimentos de moradores incomodados com o falatório. Mas, daí em diante, é uma perda de tempo, com um filme de terror B lançando mão do manjado clichê de “ocorreu uma chacina, mas ninguém se lembra de nada”. Sorte que o filme original passou incólume a essa vergonha cinematográfica e segue sendo revisto e apreciado pelos fãs de terror.
Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (2003)
A história se repete. O primeiro Matrix virou cult, gerou uma legião de admiradores e balançou a indústria com um banho de originalidade e ação que há muito tempo não se via em um sci-fi. Quatro anos depois, as sequências Reloaded e Revolutions foram lançadas praticamente juntas, com um intervalo de seis meses. Os produtores espalharam então que a trama do embate entre humanos e robôs sempre havia sido pensada como uma trilogia. Balela. O nome disso não é planejamento, mas sim oportunismo. Verdade que as duas sequências seguem na história original e aprofundam o cenário mostrado no primeiro Matrix, com novos personagens e novas discussões pseudo-filosóficas, mas, antes de tudo, as continuações são um veículo para longas cenas de ações e efeitos especiais de gosto duvidoso. O resto é resto e nem adianta pensar muito a respeito, principalmente em relação ao roteiro cheio de questionamentos que tentam ser profundos, mas só ajudam a fazer o espectador bocejar. Sejam sinceros: alguém aí gosta destes dois filmes?
Jason X (2001)
Parece piada, mas o pior é que este filme, oficialmente, é enquadrado no gênero “terror”, e não “comédia”. Nosso amigo Jason Voorhees abandona as florestas de Cristal Lake e, por circunstâncias milagrosas que só os mais inspirados roteiristas são capazes de criar, acorda no futuro, no século 25. Opa, mas tem mais! Ele está em uma estação especial! E ainda recebe um upgrade, com uma nova armadura e armas mais letais do que nunca. Tudo bem que a série Sexta Feira 13 tinha até então já nove filmes no currículo, mas não precisavam ter feito isto com o pobre Jason… Eu poderia dizer que é o ponto mais baixo da carreira de um dos assassinos mais icônicos do cinema, mas dois anos depois seria lançado um tal Freedy vs. Jason (2003)…
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Pela página do Cinema em Casa no Facebook, a leitora do blog Nicole Carreira lembrou das sequências bem dispensáveis de Efeito Borboleta (filme que foi citado no último Top 5), enquanto a Martinha Andersen citou as inusitadas continuações De Volta à Lagoa Azul (Return to the Blue Lagoon, 1991) e Meu Primeiro Amor – Parte 2 (My Girl 2, 1994).
E para você, quais outras sequências de filmes famosos (ou mesmo desconhecidos) mereciam ter ficado no limbo da indústria cinematográfica e nunca ter saído do papel? Comente aqui no blog!