Beto Richa (PSDB) esteve em Brasília nesta semana e aproveitou os ares da política nacional para dar o tom da disputa eleitoral de Curitiba no ano que vem. Segundo ele, os protestos realizados segunda-feira na Assembleia Legislativa foram, além de “uma selvageria patrocinada pelo PT”, uma “tentativa de antecipar a campanha”. As declarações seguiram com críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), dos escândalos envolvendo repasses federais a ONGs à privatização de aeroportos.
O governador está, ao menos no que diz respeito à política, certo: 2012 começou no Paraná faz tempo. Só esqueceu-se de dizer que todos os times já estão em campo. Inclusive o dele (por sinal, até mais entrosado que o dos adversários). Sobre o protesto na Assembleia, as faixas e o perfil dos manifestantes não mentem. Houve sim uma forte carga político-partidária de oposição a Beto. A princípio não existiria problema nisso, exceto pelo comportamento insensato de alguns participantes.
No duro, a campanha municipal teve início mesmo quando Gustavo Fruet deixou o PSDB e foi para o PDT, em setembro. Frise-se: Fruet agiu dentro do direito dele. Só que até agora as legendas oposicionistas, em especial o PT, estão fragmentadas e não chegaram a um acordo sobre qual estratégia adotar, como ficou evidente no episódio da Assembleia.
Do outro lado, a candidatura à reeleição de Luciano Ducci (PSB) está azeitadíssima. Já circulam pela cidade adesivos com o slogan “Juntos”, que frisa a aliança entre o prefeito e Beto. Não resta dúvida de que o governador assumirá o papel de grande cabo eleitoral do vice-prefeito.
E em matéria de campanha antecipada, a dupla não deixa nada a desejar. Só na semana passada, foram dois eventos bem “juntos”. O primeiro, um almoço para comemorar o aniversário de um ano da vitória de Beto para o Palácio Iguaçu, o outro, a assinatura de um convênio que prevê o repasse de R$ 45 milhões do estado para a prefeitura para obras de pavimentação em Curitiba.
Ter a máquina administrativa nas mãos é uma facilidade enorme para chamar a atenção do eleitor, quase uma covardia. O PT que o diga. Embora um comportamento não justifique o outro, Lula foi indiscutivelmente o mestre da arte de usar o poder para fazer propaganda.
Nem bem assumiu o segundo mandato em 2007 e o ex-presidente já trabalhava pela sucessora, Dilma Rousseff. Nunca antes na história deste país houve uma antecipação eleitoral tão grande.
Lula foi tão bem sucedido no ano passado, dizimando a oposição de Norte a Sul do Brasil, que agora todo mundo quer ser Lula e construir o seu próprio nunca antes. Dono de uma enorme popularidade no Paraná, Beto dá mostras de que não vai desperdiçá-la. Ducci, apesar da trajetória como deputado estadual e vice-prefeito, ainda é pouco conhecido e precisa mesmo de um empurrão do parceiro.
Fica a dúvida sobre o que dentro disso tudo é legítimo. Movimentos sociais, por mais contaminados por ranços partidários que sejam, têm o direito de contrariar o governador e encampar a candidatura de Fruet ou quem quer que seja. Assim como Beto pode sim manifestar o apreço por Ducci.
O problema está nos limites. Ao dar mais importância para a eleição futura do que para os problemas do presente, ambos os lados banalizam a política e desgastam a combalida paciência do eleitor. Fica parecendo uma mera disputa do poder pelo poder.
Alguns até saem ganhando, menos o cidadão comum. Independentemente da máquina utilizada, atropelar o tempo só faz mal à democracia.
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