Foto: Jane Araújo/Agência Senado e Marcelo Camargo/Agência Brasil| Foto:

Faltam menos de cinco meses para as eleições presidenciais e chegamos ao momento em que caímos na real: adeus novidades, a campanha será dominada por nomes que estão na política há anos. No funil da velha guarda, sobraram três veteranos de disputas presidenciais – Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) – e dois nomes com décadas de Congresso nas costas – Jair Bolsonaro (PSL) e Alvaro Dias (Podemos). Lula? Bem, a cada dia que passa a candidatura do petista vira mais ficção prisional (com momentos de comédia, como o protesto petista para que ele seja incluído em sabatinas com pré-candidatos mesmo estando na cadeia) do que realidade eleitoral.

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Mas, afinal, como a eleição se transformou em uma disputa entre um punhado de políticos tradicionais? Cinco fatos recentes explicam como chegamos até aqui.

Joaquim Barbosa repete Luciano Huck

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Joaquim Barbosa e Luciano Huck disputam o prêmio de melhor candidato novato que jamais teremos. Não que ambos pudessem ou merecessem ser tratados como salvação da lavoura: os dois não chegaram a dizer o que realmente pensavam antes de decidir que não entrariam na confusão e por isso nunca saberemos se perdemos algo com eles.

A questão é que o exemplo deles deixou claro o quanto é árduo para alguém de fora da máquina entrar para a política. Bem lá no fundo, o que parece é que os dois olharam para a tempestade lá fora e não quiseram abrir a porta de casa para suas famílias serem arrastadas para os raios da indigência intelectual do debate entre coxinhas e mortadelas, muito menos para a lama das práticas políticas desnudadas pela Lava Jato.

Sem lição de moral, se você tivesse patrimônio constituído, trajetória de vida da qual se orgulha e uma família com a qual se preocupa, entraria de cabeça na política neste momento? Difícil julgar quem toma a decisão de incluir-se fora dessa.

Alvaro Dias e Flávio Rocha ensaiam ser o “quase novo”

O senador paranaense Alvaro Dias definitivamente não é um novato na política – exerce mandatos eletivos há quase 50 anos. Mas tem se esforçado arduamente pela imagem de outsider. Até agora, conseguiu a proeza de ser o pré-candidato que fez as jogadas mais ousadas e que mais tiram o sono dos partidos do mainstream – MDB e PSDB à frente.

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A última delas é a sinalização de aliança com o dono da Riachuelo, Flávio Rocha (PRB), o nanico mais cobiçado do Brasil. Rocha, além de bilionário, constrói um discurso que dialoga com a nova direita e com o imenso eleitorado evangélico. Já foi deputado, mas isso é mero detalhe.

Junta, a dupla se candidata para herdar os eleitores que estavam dispostos a votar no justiceiro Joaquim Barbosa. Vai dar certo? Tem chance, mas depende de outros fatores que cito na sequência.

Ciro Gomes, que seria o cara da esquerda, flerta com DEM, PP e PR

Ciro Gomes é o candidato que vai aglutinar a esquerda, certo? Não é bem assim. Uma enorme ala petista não quer se associar ao cearense de jeito nenhum. Mas uma fatia gorda do Centrão, herança do reinado de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados, sinalizou que topa.

DEM, PP e PR sinalizaram nesta semana que, apesar de serem o sustentáculo da gestão Michel Temer (MDB), sabem da roubada que será defender o legado de Temer na campanha. Para salvar a própria pele, vale até ficar com Ciro.

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Mas isso é realmente fora do eixo? O Ciro histórico é bem diferente do Cirão da Massa ídolo das esquerdas. Um camaleão ideológico que passou por PMDB, PSDB, PPS, PROS e PSB e foi ministro de Itamar Franco e de Lula. Com ele, tudo pode dar jogo.

Temer, a noiva ao contrário, quer aliança com Alckmin (e com quem mais quiser)

Michel Temer (MDB) disse no ano passado que evitava ler o noticiário político e que não se importava com os dados de popularidade de seu governo. Sabe-se lá se isso é verdade mesmo, mas o fato é que acreditar que ele pode ser candidato à reeleição parece fruto de um completo processo de alienação desse gênero. Pois Temer, enfim, parece ter criado juízo.

Orientou o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a procurar alianças. E o principal alvo é Geraldo Alckmin. Nove entre dez analistas tucanos sabem a bomba que será carregar Temer nas costas. O fardo só ficou mais leve porque, sem Joaquim Barbosa, a ideia do novo contra o velho vai perder força.

Alckmin espera que o debate permaneça modorrento pelas próximas semanas, esfrie ainda mais no torpor da Copa do Mundo e só seja requentado no final de julho e começo de agosto. Lá, daria para se vender como o candidato da estabilidade. Alckmin sabe que só tem chances de ganhar se arrastar a disputa para um WO.

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Rodrigo Maia, o mais fajuto dos candidatos, quer ser fiel da balança

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), é o pré-candidato mais fajuto dentre os grandes partidos e, apesar disso, o que parece saber mais claramente o que quer da vida. Maia joga para não perder o status quo estabelecido na Era Temer. Quer a perpetuação do Centrão.

É também quem mais demonstra pragmatismo. Sabe das fragilidades de Alckmin e por isso procurou recentemente Alvaro Dias. Não é avesso a Ciro Gomes. Afinal, se uma árvore do Centrão corre risco de não dar frutos, por que não plantar outra?

As articulações de Maia (e dos demais atores políticos tradicionais) são a mostra de que o fim da polarização PT-PSDB não trouxe novas práticas de negociação política. Se for para arriscar um palpite final: teremos um segundo turno entre um nome apoiado por parte do Centrão (Alckmin, Alvaro ou Ciro) contra Bolsonaro ou Marina.

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