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A primeira vez de Requião

Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Requião: ele vai tentar ser presidente pela segunda vez.


Publicado hoje na coluna Conexão Brasília, na edição impressa da Gazeta do Povo:

O governador Roberto Requião desembarca amanhã em Brasília para oficializar a pré-candidatura a presidente da República pelo PMDB. Pode até parecer novidade, mas não é. Trata-se da segunda tentativa do paranaense – e a primeira não traz exatamente boas recordações.

Em 1994, ele disputou as prévias do partido com o então desafeto Orestes Quércia. Fez apenas 18% dos votos. A vitória simbólica, no entanto, foi a divisão da legenda, que contribuiu para o fracasso de Quércia nas eleições.

O paulista ficou em um humilhante quarto lugar, com 4,4% dos votos válidos, bem atrás de Enéas Carneiro (Prona), com 7,4%. O resultado marcou para sempre a história peemedebista. O partido nunca mais teve candidato próprio a presidente e resignou-se ao papel de muleta dos governos FHC e Lula.

Por isso as lições de 1994 permanecem tão vivas na memória da legenda. O atual presidente do diretório municipal do PMDB em Curitiba, Doático Santos, foi um dos coordenadores da campanha de Requião na época e lembra que era praticamente impossível superar o rolo-compressor montado por Quércia, que vinha de um mandato como governador de São Paulo e era presidente nacional do partido.

A força é proporcional à que hoje está nas mãos do presidente licenciado da legenda, Michel Temer. Presidente pela terceira vez da Câmara dos Deputados, Temer é o fiador da aliança firmada com o PT em outubro para as eleições de 2010. Sem consultar as “bases”, como protestam Requião e os dissidentes peemedebistas, ele definiu-se como candidato a vice na chapa da ministra Dilma Rousseff (PT).

Mesmo sem a militância, o grupo a favor de um acordo com os petistas pode ser considerado um partido dentro do partido. Além da Câmara, controla a presidência do Senado, com José Sarney, e sete ministérios. E se há 15 anos o adversário de Requião era Quércia e a máquina paulista, agora o rival é ainda mais complexo.

A situação torna difícil identificar quem realmente está ao lado do paranaense. Quércia garante que apoia o velho rival, mas na prática joga para dividir o partido e ficar livre para embarcar na candidatura de José Serra (PSDB). O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira segue a mesma trilha.

Sobra o senador gaúcho Pedro Simon, reserva moral do PMDB no Congresso Nacional. O parlamentar foi o primeiro a defender a viabilidade da candidatura de Requião, na semana passada. Simon também integrou o quinteto que sustentou o paranaense em 1994.

Além dele, faziam parte o catarinense Paulo Afonso (que depois elegeu-se governador), o senador baiano Ruy Bacellar e os deputados Djalma Falcão e Armando Costa, que presidiam os diretórios estaduais do PMDB em Alagoas e Minas Gerais. Nenhum dos quatro, porém, tem peso na disputa atual.

Para identificar o verdadeiro quilate da atual candidatura de Requião será necessário ver as reações que serão provocadas amanhã. Por enquanto, ele tem em mãos apenas o apoio formal de representantes de 15 diretórios estaduais, o que não é pouco, mas também não chega a fazer coceira no PMDB governista. O desafio será mostrar que a intenção de ser candidato é para valer – e não uma maneira de rachar a ala do partido que quer se aliar ao PSDB.

Em resumo, Requião terá de demonstrar capacidade de união, não de divisão. O problema é que o poder de conciliação é uma virtude que ainda passa longe do governador. Por essas e outras, 15 anos depois da primeira vez em que tentou chegar ao Palácio do Planalto, a missão continua difícil.

Para falar a verdade, praticamente impossível.

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