A caravana de Lula pelo Nordeste chegou a Alagoas nesta terça-feira (23). O “banho de povo” nas margens do São Francisco teve como anfitriões nada mais nada menos que o senador Renan Calheiros (PMDB) e seu filho, o governador do estado, Renan Filho (PMDB). Sobrou massagem de ego para todos os lados.
Renan pai discursou que Lula fez um “governo para o povo”, ao contrário do que está acontecendo com a gestão Michel Temer. Do outro lado, Lula elogiou a “coragem” de Renan. É muito amor para uma história que é a cara da política brasileira das últimas três décadas.
A relação dívida-crédito entre Renan e Lula é complexa. Ex-ministro da Justiça na gestão Fernando Henrique Cardoso, Renan foi eleito presidente do Senado pela primeira vez em 2005, no final do primeiro mandato de Lula. Em 2007, graças ao entrosamento com os petistas, conquistou uma reeleição tranquila.
Até que, meses depois, foi pivô de um furacão de denúncias que envolviam uma filha fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Renan não conseguiu comprovar de onde vinham os recursos para pagar a pensão da menina (que eram entregues pelo lobista de uma construtora), mas escapou duas vezes da cassação em plenário.
Renunciou ao cargo para encerrar a polêmica, recomeçou por baixo e, em 2013, novamente com o apoio do PT, voltou à presidência do Senado. Em dezembro de 2014, foi fundamental para a aprovação da proposta que derrubou a meta de superávit fiscal, que livrou Dilma de responder por um rombo bilionário no orçamento. Em fevereiro de 2015, reelegeu-se novamente, em uma disputa contra Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), por 49 votos a 31.
Na época, magoado com o suposto apoio de petistas a Luiz Henrique, afastou-se do governo. Eis que a onda do impeachment devastou Dilma e o reinado de Renan no Senado. Renan não alinhou-se a Temer e, curiosamente, teve de se apegar a Lula.
Até aí, normal. O estranho é Lula retribuir o abraço do “Justiça” (apelido de Renan nas planilhas da Odebrecht). Ou melhor, seria estranho não fosse um retrato do Lula versão 2018: uma mistura bizarra de um PT que busca o radicalismo de esquerda com os velhos caudilhos de sempre, como Renan.
Nesse sentido, o que fica do banho no São Francisco abraço de dois afogados na Lava Jato.
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