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Matéria publicada na edição impressa de hoje da Gazeta do Povo:

Se os descontentes com a eleição de Dilma Rousseff (PT) esperam por uma oposição dura e combativa à presidente no Congresso Nacional, Aécio Neves (PSDB) tem pouca experiência no ramo. Ao longo da trajetória parlamentar de 20 anos (16 como deputado federal e 4 como senador), o mineiro construiu um perfil conciliador e avesso ao confronto. Diferentemente de outros tucanos, como o paranaense Alvaro Dias e o vice na chapa presidencial, Aloysio Nunes Ferreira.

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Na atual legislatura, que começou em fevereiro de 2011, Aécio fez 141 discursos no plenário do Senado, contra 661 de Alvaro e 554 de Nunes. Raramente foi protagonista dos embates mais acirrados com petistas, incluindo as denúncias de corrupção no governo. Não foi membro de nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito e, das 20 proposições que apresentou, 13 representavam aumento de custo ou redução de receita da União – o enxugamento da máquina é uma das bandeiras da oposição.

“Aécio realmente preferiu exercer um papel mais conciliador”, diz Alvaro. “Mas a mudança pode ter mudado esse perfil, ele colocou o pé no chão da realidade da população e isso pode promover uma transformação de estilo.”

Cientista político da Universidade de Brasília e especialista em análise do Congresso, Antônio Flávio Testa afirma que, para exercer o papel de líder das oposições dado a ele pelas urnas, Aécio precisa ser rápido. “Ele corre o risco de jogar fora o patrimônio que conquistou na eleição. Política é um negócio dinâmico, a ocupação dos espaços muda num piscar de olhos”, diz Testa.

Na mesma linha, Alvaro cita que em quatro semanas Marina Silva foi de vice de Eduardo Campos (PSB) a favorita absoluta nas pesquisas e acabou fora do segundo turno. “Fazer oposição de verdade é estressante. E, para falar a verdade, quatro anos é uma eternidade, teremos muitas turbulências pela frente.”

Aécio terá dificuldades para lidar inclusive com as disputas internas do PSDB. Antigo desafeto do mineiro, o ex-presidenciável José Serra é a principal novidade na bancada do partido. Alvaro também nunca escondeu o descontentamento com os critérios de escolha dos candidatos a presidente da legenda – ele tenta, desde 2011, que sejam realizadas eleições primárias.

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Uma das principais defensoras de Dilma no plenário, a senadora Gleisi Hoffmann (PT) cita que, nos últimos quatro anos, o principal nome tucano na tribuna foi Aloysio Nunes. “É ele o formulador do discurso argumentativo do PSDB, não o Aécio. Aliás, o Aloysio faz isso muito bem”, relata a petista.

Aécio, por outro lado, carrega um histórico de capacidade de articulação nos bastidores. No auge da carreira como congressista, em 2001, ele conseguiu superar o favorito na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Na época, derrotou o candidato preferido do Palácio do Planalto, Inocêncio Oliveira (PFL, atual DEM).

Contemporâneo do mineiro na Câmara, o deputado paranaense Luiz Carlos Hauly (PSDB) diz que caberá a Aécio muito mais do que o embate com o governo na tribuna. “Ele não tem uma forma de fazer oposição como o Alvaro, o Serra, mas tem sensibilidade. Ele sabe que precisa se apresentar como uma alternativa a todos os segmentos, do beneficiário do bolsa família ao estudante com bolsa do Prouni. Nisso ele provou que é bom”, avalia Hauly.